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Pietro tinha saido por volta das oito horas daquela noite, disse que precisava resolver algo sobre um trabalho da faculdade, Ivan decidiu acreditar nele, poderia ter havido um imprevisto, já tinha rolado com ele uma vez. Mas, o horário da ocorrência, era estranho.

Mas, para não se preocupar e nem desconfiar dele, decidiu revisar a matéria da prova de segunda. Afinal, não tinha tocado no livro naquele final de semana.

Já passavam das duas da manhã quando Ivan decidiu que não estudaria mais, sim, sua prova seria no dia seguinte, uma enorme e chata prova sobre biologia molecular.

Fechou o notebook e o colocou de lado no sofá, olhou para a televisão e já nem sabia qual era o filme que assistia, se é que podia chamar os curtos momentos de distração, a qual direcionava sua atenção a TV de assistir.

Olhou novamente para o relógio, apenas para conferir. Pietro não chegava e sua mente impaciente, disse a ele que seria melhor dormir.

Esticou-se para pegar o controle no braço da poltrona que ficava ao lado do sofá e desligar a televisão, desligou o abajur e antes que pudesse levantar, ouviu um barulho na porta da frente.

Observou Pietro entrar, seguir em direção a cozinha, ele parecia nervoso, dava para perceber pela maneira estranha a qual ele andava.

—Você está bem? —Perguntou Ivan ao levantar e se aproximar dele

Pietro abriu o registro da pia e jogou água no rosto, estava com as mãos no balcão ao lado da pia, sua mão aparentemente tremia e seus olhos estavam fechados

—Aconteceu alguma coisa? —Perguntou.  Esperava que ele não estivesse drogado ou qualquer coisa do tipo, sabia identificar quando alguém estava alterado e até agora, Pietro só parecia desesperado, seu nariz estava vermelho e as bochechas também, o rosto molhado como se estivesse chorando

—Não! —Falou ao apertar a ponta do nariz que estava prestes a escorrer

Ivan o olhou desconfortável —Por que está chorando?

Pietro soluçou, queria explicar o motivo de seu desespero e angustia, mas não conseguia, era particular de mais e tinha medo, não de Ivan o julgar ou algo do tipo, apenas não queria que ele tivesse pena.

—Pode me dizer!

Pietro virou para olhá-lo, os olhos vermelhos e as lágrimas caindo aos montes. —Você não entenderia! —Falou

—Apenas diga! —Pediu, não sabia se era bom consolando as pessoas, Arina por vezes o chamava de insensível, mas ele ao menos tentava

Pietro fechou os olhos momentaneamente—Eu... —Pensou em como dizer—Eu encontrei um homem,ele é um  corretor que é... —Apertou o nariz, não sabia o porquê de está qualificando o homem como aquele—Um amigo de minha mãe... Uma pessoa que... Um homem ruim!

Ivan franziu o cenho, a história não fazia sentido para ele, mas manteve-se quieto, contentando-se em acariciar e apertar o ombro do outro. Estavam lado a lado e ele podia sentir a rigidez esquisita de Pietro,como se negasse o toque inconscientemente.

—Ele não achou que eu o reconheceria,me olhou com surpresa, quando falei o nome dele... Mas eu nunca esqueci,lembro do rosto de todos eles! De cada um...—Enxugou as lágrimas —Eu sai da Ucrânia, vim para ter uma vida nova, encontrar alguém que... Me fez tão mal... Não esperava nunca encontrar nenhum deles!

Ivan subiu a mão até os cabelos do moreno, o ver chorar daquela maneira era desolador,Pietro lhe parecia forte,mas agora o viu em pedaços. Ainda que não soubesse de tudo, que não conhecesse a história e o que o tal homem tivesse feito, não era normal um choro desesperado como aquele.

—Pietro,pode contar comigo, você está em casa, está seguro, ouviu? Está em segurança agora!—Disse o acariciando

Aquela frase, segurança...Casa... Nunca pôde contar com ninguém, ouvir tal coisa o arrepiou. Pietro o olhou nos olhos,sentindo a tal SEGURANÇA na prática, realmente sentiu-se mais calmo,como se o fato de ter cruzado com um dos amigos de sua mãe-no banheiro da boate a qual vendia suas mercadorias- não fosse nada a se preocupar.

—Está tudo bem agora...—Continuou Ivan,com a mão em sua nuca,lhe passando mais da tal segurança e confortabilidade—Não precisa mais chorar!

Pietro inclinou-se e sentiu a mão livre  do outro enxugar uma das lágrimas que estavam perdidas por seu  rosto. Estavam tão próximos que sentia a respiração do loiro em seu rosto,seus lábios entreabertos e convidativos,ele não conseguiu conter-se,levou a mão ao rosto de Ivan,acariciou as maçãs daquele rosto magro que,lhe parecia doce e o beijou,como se tentasse buscar mais daquela e sensação de acolhimento que desacelerou seu coração e o fez sentir-se menos impotente e covarde por ter apenas olhado para o homem no banheiro,gritado seu nome ao reconhecê-lo,apenas para confirmar de quem se tratava  e saído correndo.

Beijando Ivan, não tinha mais em seu corpo a náusea e o nojo que lhe atingiram no momento em que fugiu, estar com Ivan o fez sair da máquina do tempo inoportuna que o transportou a sua antiga cama na Ucrânia onde coisas terríveis aconteciam.

Os lábios macios e finos de Ivan,estavam diferentes de quando se beijaram mais cedo,  ainda era um bom beijo, mas, agora eles não se viam como estranhos tentando provar algo,pela primeira vez parecia que eles enfim tinham passado pela barreira invisível que lhes trazia sentimentos de negação e vergonha.

Ivan o selou duas vezes antes de afastar o rosto e deu um sorriso pequeno,como sempre,mas compreensivo e doce

Pietro mordeu os próprios lábios,estava com as mãos envolta do outro e só tinha notado tal coisa naquele instante—Obrigado,por me fazer sentir em casa!

Ivan que sempre lhe parecia contido e até mesmo frio, provou o oposto daquilo, quando voltou a beijá-lo e por vezes, sorriu quando seus lábios se afastavam, toda sua firmeza habitual tinha sumido,estava relaxado e passando essa sensação a Pietro,que o usava naquele instante como um transmissor de boas energias.

—Não me agradeça,essa é sua casa!—Falou olhando para o outro. Era a troca de  olhares mais intensa de sua vida, até mais do que quando encontrou Arina pela primeira vez, estavam em transe,se encarando diretamente. Seus olhos se comportavam como flechas, rápidas e certeiras.Aquilo lhe era suficiente, não sentia-se como na maioria das vezes, onde necessitava mostrar dominância ou submissão, resumindo,era diferente de está com Arina. Pietro era diferente e isso aquecia seu coração. —Vamos dormir...

Pietro afirmou e antes que soltasse Ivan e caísse novamente a realidade, lhe deu um outro beijo,bem mais rápido do que os anteriores,mas ainda assim necessário.

Diferente do que pensou que aconteceria,a mão de Ivan não o soltou,o loiro apagou as luzes,ainda o segurando e o guiou ao quarto como se ele não soubesse o caminho, entraram devagar para não acordar Arina e ainda se olhavam,por mais que a escuridão do cômodo os atrapalhasse,Pietro sabia que os olhos azuis como o mais bonito dos céus,estavam ali,o acompanhando, enquanto ele pisava na parte de trás do tênis para tirá-los.

Ivan sentou-se na cama e Pietro tirou o casaco e a camisa,puxou o cinto e ao invés de ir para o outro lado,deixando Arina no meio, deitou-se na ponta ao lado do amigo.

Ivan não lhe recriminou,apenas o abraçou e acariciou seus cabelos até que ele dormisse.

Pietro nunca sentiu-se tão seguro e bem consigo mesmo.

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Feliz ano novo,meus amores.

Obrigada por acompanhar a história. ÚLTIMO CAP DO ANO!

Os Traidores - Série Crianças de MoscouOnde histórias criam vida. Descubra agora