Os Traidores - Série Crianças de Moscou

27*

—Ivan? —Pietro o chamou por duas vezes antes que ele abrisse os olhos—Não tem aula hoje?

—Não irei...—Virou-se de lado—Nem a faculdade e nem ao hospital.

Pietro abriu o armário para pegar uma camisa limpa, por mais que estivesse dormindo no quarto principal, era ali que seus pertences estavam, já que o outro armário não tinha mais espaço.

—Estou saindo. —Disse ao colocar a camisa branca de manga longa—Arina deixou um bilhete, disse que quer conversar!

Ivan assentiu em silêncio enquanto o olhava

—Busque seu carro! —Disse Pietro como se o lembrasse

—Mais tarde eu faço isso! Que horas tem?

—Dez e vinte! —Falou ao olhar no telefone —Tchau! —Acenou para ele ao sair do quarto

—Pietro?

Ao ouvir o chamado,ele voltou imediatamente para o quarto

—Fala—Disse ao parar na porta

Ivan levantou e se aproximou de Pietro, com seu sorriso singelo e o selou—Tenha um bom dia! —Falou o encarando

—Terei—Disse em resposta—Fica bem,ta bom?

—Vou tentar!

Pietro o beijou selou—Vai conseguir!—Falou antes de sair

Ivan voltou a cama e deitou, a descoberta do dia anterior ainda doía, mas saber que Pietro estava ao seu lado, fazia as coisas ficarem leves.

--◇◇--

Após as aulas de Análise de projetos financeiros, Sistemas e Informações e o último tempo de estratégias e planejamentos contratuais, Pietro finalmente pôde ir ao prédio de Dmitry, aliais, tinha conseguido mais três mil Rublos, durante o tempo que esteve na faculdade. As três aulas do dia lhe deram lucro.

Entrou no prédio e nem esperou que o porteiro o anunciasse, o homem já o conhecia e sabia para onde ele iria.

Foi ao elevador e ao chegar no andar indicado, assim que as portas se abriram viu Hugh, o pai de Arina, assustado, arregalou os olhos um pouco desesperado e voltou ao elevador, apertou um botão qualquer e desceu alguns andares abaixo.  Fugiu por um motivo que nem ele mesmo entendia

Esperou um pouco antes de chamar o elevador e seguir ao último andar novamente. Bateu a porta uma vez e Nikolai abriu imediatamente

—Dimash disse que tinha lhe mandado subir agora, mas eu não tinha te visto. Estava prestes a descer

—Nikolai? —Dmitry chamou antes que Pietro pudesse responder —Deixe-o entrar

O homem deu espaço para que ele passasse

—Alegre meu dia, meu favorito —Disse Dmitry —Trouxe meu dinheiro?

—Uma pequena parte! —Disse Pietro

Dmitry sentou-se—Quanto?

Pietro tirou a carteira da mochila e separou  quatro mil e oitocentos 

—Nikolai, agenda! —Disse ao esticar a mão

O homem o entregou o que foi pedido e ele anotou ao receber o dinheiro

—Quero mais três mil em mercadoria!

—É assim que se fala! —Dmitry riu—Pagará agora?

—Sim! —Disse rapidamente, não queria que sua divida aumentasse—Mas não se anima, farei o possível para pagar tudo e depois sairei dessa!

—Sentirei sua falta, mas ainda me deve seis mil e setecentos. 

—Ainda falta tanto... —Suspirou

—Você consegue, da última vez me surpreendeu com nove mil em mãos!

Ele revirou os olhos—Quero a maioria em MD e maconha

—Não vai querer a de sempre? —Perguntou Dmitry —Dá para comprar se quiser!

Pietro deu o dinheiro na mão dele —Só o que eu pedi, por favor.

—Nikolai, o menino está se tornando um homem, consegue ver? —Disse Dmitry

—Sim senhor!

—Pegue o que ele precisa! —Disse a Nikolai que saiu da sala no mesmo instante

Aproveitando que estavam sozinhos, finalmente decidiu fazer uma pergunta ao homem—Dmitry, o homem que saiu daqui, ele também te deve?

Dmitry apertou os olhos confuso —Que homem? —Apontou para ele— Não responda, está vigiando o que eu faço?

Pietro negou—É que conheço aquele homem.

Dmitry levantou —O conhece? —Cruzou os braços—O fato de o conhecer não lhe dá o direito de saber o que conversamos ou si conversamos—Deu um sorriso—Se contente em fazer apenas o combinado. Combinado,entende-se como: trabalhar para me pagar!

Pietro assentiu, Dmitry deu três tapas em seu ombro

—Não me pergunte mais sobre isso!

—Tudo bem! —Respondeu antes que o homem lhe olhasse irritado

—Com licença —Disse Nikolai ao entregar uma sacola preta a Pietro

—Espero te ver em breve! —Disse Dmitry ao acenar

Entendendo o recado Pietro seguiu em direção a porta com Nikolai que fez questão de o colocar dentro do elevador.

Enquanto descia, Pietro guardou a sacola no fundo da mochila e esperou o sinal sonoro para sair do elevador e posteriormente do prédio. Assim que pisou na calçada, ouviu um som de buzina, ignorou o barulho até ouvir seu nome.

Olhando em volta, localizou o carro de Arina, andou até ela com pressa, sem entender o que ela fazia ali

—Arina?

—Entra ai. —Disse ela—Preciso que venha comigo!

—Por que ?

—Te explico no caminho

Ele obedeceu, sentou no banco carona e colocou o cinto.

—Segui meu pai o dia todo. Na verdade estou o perseguindo desde que passei no hospital para ver minha irmã! —Disse ela ao começar a dirigir

—Descobriu alguma coisa?

—Não, nem sabia o que tinha nesse prédio, até te ver aqui e fazer algumas deduções.

Pietro coçou a cabeça, mexendo no fechecler da mochila que estava em seu colo

—O que deduziu?

Arina o olhou ao parar no sinal—Sabe? eu e Ivan conversamos, ele me disse que tinha te ajudado para que parasse de vender drogas, mas... —Passou a marcha e olhou para ele enquanto dirigia—Se você está aqui e meu pai também, depois do que me disse ontem, é sinal de que a ajuda do Ivan não foi eficaz, não é?

Pietro a encarou, sentiu uma coisa ruim pela maneira feroz e maldosa a qual ela falava, quase como se o ameaçasse.

—Devo me preocupar? —Disse ela—O Ivan sabe?

Pietro suspirou,ignorando a pergunta—Para onde está me levando?

Arina arqueou a sombrancelha—Tudo bem, não quer que ele saiba?  Pode ser nosso segredinho!

Pietro  cruzou os braços —Para onde vamos?

—Calma,vamos a casa da minha família, vou falar com a Hera.

Pietro parecia confuso—O que tenho com seus problemas familiares?

—É uma testemunha. —Foi o que disse antes de aumentar o som do rádio para evitar reclamações