—Que grito foi esse? —Disse Ivan seguindo pelo corredor
Ouvindo os passos do namorado no corredor Arina sentou-se na cama ao lado de Pietro e jogou o casaco vermelho que usava sobre a seringa e a colher que Pietro jogou na cama
—O que houve? —Questionou Ivan arqueando a sobrancelha
—Eu levei um susto, acho que vi um inseto! —Arina se levantou, puxando o vestido branco de alcinha.
Pietro não disse absolutamente nada, estava com vergonha, não havia mudado nada e estava prestes a usar droga numa casa que não pertencia a ele.
—Inseto?—Questionou Ivan—Tem certeza?
—Sim! —Disse Arina—O que mais seria?
Ivan os olhou—Tem um hematoma no seu rosto!
—Gelo! —Pietro sorriu mostrando o saco em mãos
—Brigou? —Perguntou Arina
—Não! —Disse puxando o casaco mais para trás
—Temos que matar essa aranha, Pietro! —Disse Arina olhando em volta
Pietro não respondeu nada, os três apenas se olhavam ocasionalmente, como se faltasse assunto.
—Vou tomar um banho! —Disse Ivan, ainda desacreditado
—Está bem! —Disse Arina
Ivan deu um sorriso singelo para evitar discussões desnecessárias e saiu do quarto, Arina até pensou em acompanhá-lo, mas desistiu
—Está ficando maluco? —Disse ela se controlando para não gritar—Meu Deus... Se o Ivan te ver... —Respirou fundo e riu, a risada dela foi tão inesperada que confundiu Pietro.
Arina andou até a cama encostada na parede e deitou-se
—Arina, eu... —Pietro tocou o rosto-Eu não tive como evitar!
—Pietro, faça o que achar melhor, beba, se drogue, transe, mas não deixe o Ivan saber, ele é um idoso preso em um corpinho de vinte e poucos! —Arina colocou a cabeça na perna do moreno e sorriu
Pietro a olhou, dos olhos castanhos ao vestido branco, a meia legging preta até as botas de mesma cor, a menina parecia completamente insana.
—Sai por favor... —Pediu Pietro
Arina tirou a cabeça do colo do menino—Mal agradecido! -Revirou os olhos, ao pegar o casaco jogado na cama—Estou falando sério, não deixe o Ivan ver isso, ele surtaria e eu não gosto de vê-lo surtar... —Deu de ombros —Não precisa devolver a colher! —Falou e deu de ombros ao sair fechando a porta
Pietro deu dois socos no colchão —Merda, merda...
Pietro passou a mão pelos cabelos e mordeu o lábio inferior, traria problemas a Ivan e Arina, seu vício já era uma cruz pesada demais, não queria ter que dividir isso com mais ninguém.
--◇◇--
Pietro arrumou as coisas e esperou que o apartamento ficasse silencioso para que enfim pudesse sair.
Fechou a porta do quarto devagar, passou pelo corredor e assim que encostou na chave, viu o abajur ao lado da poltrona acender e quando olhou para trás lá estava Ivan
—Pietro? —Perguntou Ivan, ainda sonolento—Onde você vai? —Olhou o relógio de pulso-São quase duas da manhã!
—Eu preciso sair! —Disse Pietro—Resolver umas coisas e...
Ivan arrumou a postura —Está indo embora, não é? Não precisa mentir.Eu sabia que você não aguentaria ficar comigo e com a Arina. Só não pensei que fugiria em tão pouco tempo... Mas,poderia ao menos dizer "Tchau " —Disse ríspido
Pietro se aproximou da poltrona—Eu não ia fugir... —mentiu
Ivan apontou para o sofá e Pietro sentou-se
—Olha, não tivemos tempo direito para conversar ou nos conhecer, mas se não quiser ficar, tchau! —Deu de ombros
—Se você não se importa, e já que não nos conhecemos, não há necessidade de conversarmos! —Disse Pietro quase se levantando
—Senta, não quer conversar? —Ivan pegou a garrafa na mesinha ao lado do abajur —Beber um vinho?
—Vinho a meia luz?
Ivan esboçou um sorriso singelo, como sempre, não era de gargalhadas
—Arina me abandonou antes de terminar a segunda taça e eu acabei dormindo. —Ivan encheu as duas taças e deu uma a Pietro
—Não deveria está dormindo? -Perguntou
—Nós dois deveríamos. —Ivan levou a taça a boca
—Não durmo...—Disse ao olhar para taça
—Por que?
Pietro sentiu um aperto no coração, não diria nada, não podia explicar.
—Insônia! —Deu de ombros como se não fosse nada de mais.
—Por que está indo embora?
Pietro passou a mão na calça—Sou problema! —Disse e deu de ombros
—Eu disse isso para Arina, mas ela vê algo em você! —Disse Ivan, com uma expressão que Pietro não conseguiu descrever, talvez fosse incredulidade ou desdém
—Por que fica sempre com essa cara, como se estivesse guardando todo tédio do mundo? —Perguntou Pietro, para fugir de qualquer assunto que envolvesse a mulher, Arina era um grande motivo para ele ir embora, não confiava nela.
Ivan deu de ombros dando um singelo sorriso—Você ia sair sorrateiramente, e eu acordei no susto, não posso está cansado e surpreso? Não é tédio
Pietro deu um bom gole no vinho e olhou para Ivan, que também o encarava —Já que não temos o que falar, obrigado por tudo! —Levantou e apertou a mão do loiro—Estou indo.
—Não, espera. Não precisa ir, serei sincero, não te queria aqui, mas você não é peso algum, não atrapalha. Se escolher ficar tentarei ser mais gentil e tentar aprender com a Arina como devolver metade do tédio para o mundo.—Disse ao soltar a mão do outro
—Eu não sei se mereço a confiança que depositaram em mim, não estou curado!—Admitiu —Não posso suprir expectativas e nem quero que deposite expectativas, não sou bom investimento!
—Estou estudando para ser médico, não banqueiro ou seja lá o que precisa ser estudado para investir
—Na verdade, não há uma faculdade para ser investidor e ...
—Isso não vem ao caso, O fato é : Te ofereci uma casa e tenho palavra, não te expulsei, te ofereci ajuda. —Bocejou—Mas, faça o que achar melhor. Boa noite. —Ivan bebeu todo conteúdo da taça e apagou o abajur antes de sair da sala em segundos
Pietro sentou na poltrona e respirou fundo, ninguém nunca havia sido tão gentil, ao menos não sem interesse
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Os Traidores - Série Crianças de Moscou
Teen FictionPietro, Ivan e Arina tinham problemas e magoas que não seriam resolvidos com facilidade. Ivan era carente Arina só queria ajudar sua família Pietro sofria ao lembrar dos abusos do passado Por isso, assim que passam a conviver juntos, todo...