78*

489 68 56
                                    

O tempo na teoria era o mesmo para todos, ainda que naquele país houvessem 11 fuso horários diferentes, mas, para Pietro, Ivan, Dmitry e Kenia, cada segundo marcava a disputa que seria iniciada assim que amanhecesse. Aquele dia nublado, seria um divisor de águas.

Todos estavam em um alto nível de estresse, o que fazia o tempo se organizar como uma corrida, cujo nem sabiam que estavam disputando. Ivan saiu de casa por volta das três e vinte da manhã, mais decidido que nunca, Dmitry entrou em seu helicóptero pouco antes das dez horas da manhã, Kenia por sua vez, decidiu dirigir por metade do caminho para encontrar com seu ajudante, antes de pegar o avião particular, que a esperava tinha iniciado seu trajeto as nove da manhã, com milhares de variáveis para o que ocorreria naquele dia em sua mente.

Pietro que havia sido o primeiro a largar, tinha ficado um pouco mais animado quando chegou a Veliky Novgorod e descobriu que estava a cerca de trinta e cinco minutos do local onde localizaram o tio de Ivan. Mas, ainda que estivesse explodindo de vontade de sair dali e seguir o percurso, não podia fazer isso sem Ivan, que deveria está há uma hora ou um pouco mais de distância.

Para que a tentação não o fizesse pegar um táxi ou um ônibus, ele decidiu comer algo na padaria que havia encontrado assim que saiu da estação. Entrou no lugar, que era bem simples, mas o cheiro de pão fresco o cativou na hora. Encostou no balcão e comprou um sanduiche simples de queijo e mais por necessidade que por gosto, pagou por um café pequeno, necessário apenas para mantê-lo acordado.

Ao sair da padaria e escolhendo comer em um banco que lembrava de ter visto em frente a estação, foi até lá e para sua infelicidade, havia um homem deitado.

O mendigo parecia machucado, mas as roupas aparentemente caras o fizeram questionar o motivo dele está deitado ali.

—Senhor? Senhor? —Pietro chamou e o homem abriu os olhos

—Está olhando o que? —Disse o homem ao sentar no banco e tocar as costelas, ele estava com o rosto inchado e ensanguentado, a blusa estava suja de sangue e parecia rasgada.

—Pensei que precisasse de ajuda. —Falou um pouco envergonhado, apertando o copo de café e o pão em mãos

—Não preciso!

Pietro o olhou e respirou fundo,não tinha tempo para isso—Foi mal! —Falou ao sentar no banco, ao menos o homem tinha lhe dado espaço.

Viu o homem abrir dois botões da camisa e havia uma marca roxa em seu tórax

—Para de me encarar!

Pietro fingiu que o homem não havia dito nada e colocou o copo de isopor com o café no espaço entre ele e o homem, tirou o pão da pequena sacola e deu a primeira mordida, comendo silenciosamente. O homem indelicado deu um breve gemido de dor ao pôr-se de pé, evitando olhar para o homem, Pietro pegou o café e deu um breve gole

—Sabe que horas sai o próximo trem? —O homem ensanguentado questionou, com a voz um pouco menos indelicada—Em direção a Moscou...

Pietro arqueou a sobrancelha, como se dissesse "Agora quer falar comigo? " mas, para não criar uma confusão enquanto esperava por Ivan, ele resolveu falar

—Acho que às quatro da tarde!—Respondeu, enquanto tentava beber o café sem fazer careta, odiava o gosto amargo e persistente daquela bebida—O último saiu às sete!

—Porra, tem certeza?

Pietro apontou para a porta —A bilheteria ali dentro, tem um quadro —Falou ao dar mais uma mordida no pão

O homem deu dois passos lentos, mancando e olhou para dentro da estação —Tenho que voltar à Moscou... —Disse andando de volta ao banco

Pietro não queria se intrometer, mas por dentro, queria perguntar o que havia acontecido para aquele homem está tão machucado, então, para satisfazer seu lado curioso, que tentava distrair suas preocupações, ele passou a supor, que o homem ou tinha tomado uma surra ou sido atropelado.

Os Traidores - Série Crianças de MoscouOnde histórias criam vida. Descubra agora