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Pietro acordou ao sentir o celular vibrar no bolso traseiro, olhou para o teto ainda sonolento e passou ambas mãos no rosto.  Estava no chão da cozinha. Suas costas doíam por estarem apoiadas no armário sob a pia, Arina continuava com a cabeça em sua coxa, em um sono profundo, assim como Ivan, que dormia com as costas na geladeira e a cabeça tombada no próprio ombro

Afastou as costas do armário devagar e balançou o pescoço de um lado para o outro, até ouvir um estalo fraco. Provavelmente, precisaria de um analgésico para viver o dia que o aguardava,  a cabeça latejava e o corpo estava dolorido.

"Puta merda! " -Praguejou, o gosto amargo na boca era incômodo

Pensou em levantar para esticar o corpo, mas desistiu, caso o fizesse acordaria Arina.

—Bom dia —disse Ivan

—Eu nunca dormi tão bem e acordei tão mal! —Comentou Pietro ao ver Ivan levantar devagar com a mão nas costas, ele tinha uma feição de dor.

—Não acredito que dormimos na cozinha! —Bufou, estava um pouco tonto—Bebemos de mais!—Abriu a geladeira quase em modo automático, pegou uma garrafa com água gelada e encheu dois copos—Acho que a única que dormiu de forma aceitável foi a Arina

Pietro olhou para a menina apagada com a cabeça em sua perna, ela ao menos não parecia desconfortável

Ivan pegou uma caixinha vermelha e de madeira que estava em cima da geladeira, tirou dois comprimidos, tomou um e deu o outro e o copo com água a Pietro. Estava com dor em todas as partes imagináveis do corpo, parecia está pesado e flutuando, sinais claros de ressaca.

—Valeu! —Disse ao tomar—O que é isso?

Ivan deu um meio sorriso, foi um esforço tremendo sorrir,a cabeça parecia estar prestes a explodir —Deveria ter perguntado antes de tomar! —Disse ao abrir a bica, molhar a mão e passar no rosto

Pietro o olhou confuso—Você tomou com tanta confiança!

Ivan o olhou, gostava da maneira leve que Pietro agia, engraçado e bondoso, não havia arrogância em sua fala, por mais que as vezes parecesse sarcasmo. Mas, na sua atual situação, não quis prolongar o assunto

—É aspirina. Para tudo isso! —Apostou para a própria cabeça

Pietro olhou para o rosto vermelho de Ivan, analisou seu olhar cansado e sua feição de incômodo.

—Sei que o médico é você, mas recomendo que deite um pouco

Ivan esfregou os olhos, o estômago doía e a boca estava seca, por isso encheu mais um copo d'agua

—Irei,mas antes...—Ivan cruzou os braços, parecia desconfortável ao olhá-lo

—Que foi? —Perguntou Pietro

Ivan abaixou devagar para não derramar a água do copo que segurava —De quanto precisa?

—Do que está falando?

Ivan o olhou com impaciência —O seu fornecedor...

Pietro suspirou, não queria que ninguém além dele tivesse que lidar com seus problemas

—Não precisa me ajudar! —Disse Pietro tocando a cabeça

—Eu quero!

Arina mexeu-se e resmungou, ainda adormecida, Ivan a olhou por alguns instantes

—Você já fez muito por mim!

Ivan coçou a pálpebra e bocejou —Pietro, eu nunca fui de tentar agradar ninguém, ajudar e com certeza, não esperava hospedar alguém em minha casa e posteriormente, dividir minha namorada com um alguém...  Fui filho único, sou complicado e ensinado a ser egoísta, mas... —Bebericou a água —Eu quero te ajudar, você notoriamente tem menos do que merece.  Eu entendo isso, da última vez que conversamos eu acreditei em cada palavra que disse e acho importante você se desligar desse traficante se quer seguir em frente!

Pietro olhou para Ivan sem saber o que dizer

—Não recuse, se eu te der nove mil rublos,  quito sua dívida? 

Provavelmente, nove mil rublos não era o suficiente, Pietro sabia que Dmitry sempre colocava juros aos devedores e da última vezes viu seu nome ao lado do número 15.000,00.

—Ivan, não precisa!

Ivan suspirou —Te darei nove mil, pode ser?  Aposto que não está em posição de recusar

Pietro coçou o pescoço, por mais que não fosse o suficiente, seria de grande ajuda, poderia ser mais da metade do que deve ou quase isso.

—Tudo bem, mas veja isso como um empréstimo!

Ivar revirou os olhos—Como quiser

Ivan colocou a mão no bolso, tirou a carteira e pegou três notas de 2,000 e  três de 1,000

—Toma... —Falou ao entregar a Pietro

—Obrigado! —Disse ao pegar e colocar no bolso

—Não precisa agradecer! —Sorriu de sua maneira introspectiva

—Sim, preciso. É um bom homem Ivan!

Um tanto inibido pela maneira que Pietro o olhava, Ivan apontou para Arina

—Vou acordá-la, para liberar suas pernas! —Disse para mudar de assunto

Ivan tocou o rosto de Arina e ela se mexeu

—Acorde... —Disse no ouvido dela

Arina abriu os olhos e sentou-se, Pietro sentiu um formigamento nas pernas ao levantar lentamente.  Seu corpo parecia está tremendo um pouco, sinais claros de ressaca

—Meu Deus... —Arina tocou a barriga —Não vou beber nunca mais!

Pietro riu—Se prometemos nunca mais dormir na cozinha eu já aceito!

—Vamos para o quarto! -—Falou Ivan ao levantar,colocar o copo na bancada e estender a mão para Arina pegar, ela o fez e ele a puxou, ela suava frio e seus olhos estavam vermelhos

—Estou enjoada... —Foi a única coisa que disse antes de correr para o banheiro

—Merda... —Disse Ivan antes de ir atrás dela, menos rápido do que pretendia

Pietro pensou em ir junto, mas desistiu, mal conseguia cuidar do próprios mal estar. Foi até a sala em passos lentos, jogou-se no sofá e fechou os olhos, pretendia encontrar seu fornecedor mais tarde e descobrir quanto estava devendo, mas para isso, tinha que amenizar as dores que sentia.

Os Traidores - Série Crianças de MoscouOnde histórias criam vida. Descubra agora