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Ivan e Pietro dormiam quando ouviram batidas na porta.

—Eu vou... —Disse Ivan, afastando a cabeça de Pietro, que estava em seu braço.

—Quem será? —Pietro perguntou ainda com os olhos fechados, tinham demorado tanto para conseguir dormir, que só o que precisavam naquele sábado era de um descanso

—Não sei, mas pode ser importante! —Ivan afirmou ao sentar-se na cama e coçar as pálpebras

Pietro virou-se de lado, não queria encarar o loiro, pois se cumprisse a decisão que tinha tomado na noite passada, contaria a Ivan sobre suas suposições.

Era uma decisão difícil, sabia que Ivan era uma pessoa sensível, mas diferente do que Arina fez, escondendo para proteger, Pietro queria que Ivan o ajudasse e ouvisse, por mais que fosse doloroso ver os pais como criminosos. Mas se ele  e Arina, conseguiam lidar com isso, Ivan também deveria. Não era uma criança.

Apertou os olhos e expulsando pensamentos complexos, levantou-se num pulo e vestiu a camisa jogada ao lado da cama —Deixa comigo! —Disse ao sair do quarto

Ivan não relutou, apenas voltou a deitar-se, já que a coragem para levantar era praticamente nula

Pietro cruzou a sala arrastando os pés. Ouvindo as batidas continuas, abriu a porta

—Pronto... —Disse mais para ativar seu cérebro do que para alertar a pesso—Como posso...—Se interrompeu  ao se dar conta de que a mulher que estava a sua frente era a mesma que povoava sua mente, não esperava ficar cara a cara com a mãe de Ivan

—Esse é o apartamento certo?

—É a mãe do Ivan,não é?

—Sim e quem é você?—Perguntou Kenia, olhando para o número na porta

Pietro encarou a mulher de traços finos, que usava um casaco colorido de lã, calça jeans e bota até o joelho—O Ivan está no quarto! —Pietro afirmou dando espaço para que ela entrasse

Kenia passou lentamente por ele, olhando-o com tanta atenção que Pietro demorou para entender o motivo das investidas que o mediam dos pés a cabeça,mas assim que notou que a mulher o encarava por ele está apenas de cueca e camiseta, um leve constrangimento o passou.

—Quem é você? —Ela perguntou ainda o olhando de maneira estranha

—Pietro

—Piero? 

—Não, Pietro.Como os italianos.

Kenia franziu a testa e deu um sorriso, Pietro não sabia se era por conta de suas desconfianças ou se tinha algum motivo oculto, mas não gostou de vê-la sorrir.

—Por que escolheu soar como os  italianos?

—Meu pai era um homem distinto, nasceu na Ucrânia, estudou aqui,mas morou um ano na Itália e acho que gostou da grafia desse nome. —Deu de ombros

—Interessante!—Respondeu Kênia—Você é Ucraniano?

—Sim!—Pietro respondeu encarando a mulher, tentando pensar em como fazer um assunto morno como aquele, se tornar algo sobre Arina, queria ver uma reação no rosto dela ao dizer o nome da garota. Mas ao que parecia,Kênia era uma mulher calma que se interessava por qualquer assunto.

—Pelo jeito que fala de seu pai,ele deve ser  um bom homem!

Pietro cruzou os braços —Ele foi. Faleceu há quase onze anos.

Kenia tocou o peito e tirou a bolsa preta dos ombros —Sinto muito. Mas, como dizem os hindus" A morte há-de vir para todos! ".

—Ele tinha quase sessenta anos e alguns problemas de saúde,mas aproveitou a vida

Os Traidores - Série Crianças de MoscouOnde histórias criam vida. Descubra agora