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—Ela deve estar revoltada! —Disse Ivan ao deitar-se, a cama do quarto de hóspedes era pequena para os dois, mas isso não importava

Tinham ficado na sala,praticamente abraçados e em silêncio, era disso que precisava, da quietude para organizar seus sentimentos,já que tinha perdido o controle naquele dia, cheio de altos e baixos, pensou por tempo suficiente e concluiu que tudo de bom naquele dia veio de Pietro

—Deixe para se incomodar com ela depois, pensar em você às vezes não faz mal! —Disse Pietro ao tirar os tênis

Ivan concordou, podia se acostumar com isso, com a voz firme e ao mesmo tempo doce de Pietro que parecia disposto a defendê-lo e com maneira que suas mãos longas o tocavam.

—Por que foi até a Catedral? —Perguntou Pietro, após tirar a camisa e desligar a luz para deitar-se ao lado dele

Ivan respirou fundo antes de responder —Aquela Catedral foi construída a mando de um Czar chamado Ivan, há um pouco da história dele dentro dela. E, meus avôs paternos, me levavam lá sempre que meus pais brigavam ou quando minha mãe viajava. Bastava um telefonema. —Ele sorriu, Pietro o olhava diretamente ainda que o quarto estivesse escuro,sabia que ele prestava atenção —É um refúgio. Lembro de meu avô contando a história e minha avó dizendo que, nomes tem cargas e que eu levava um pouco do Czar em mim. Dizia que eu podia ser o que eu quisesse e coisas motivacionais.

Pietro quase podia imaginar, uma criança loirinha, de olhos azuis atentos a tal explicação e recebendo tal passeio para confortar a distância afetiva que tinha com os pais.

—Descobrir o que descobri, me revelou uma verdade que eu nunca entendi

—Sobre o quê? —Questionou Pietro

Ivan sibilou—Meus pais nunca foram do tipo carinhosos ou preocupados de verdade comigo. Tá, eu estudei nas melhores escolas e tive gigantescas festas de aniversário, viajávamos nas férias e eu até que recebia presentes caros,mas eu trocaria tudo isso por menos brigas, meu pai em casa e minha mãe também... É difícil de entender, eu achava que eles não gostavam de mim, já imaginou, olhar para sua mãe e não saber se ela te ama.

—Pode acreditar que sim! —Disse Pietro, sentia o mesmo quando olhava para sua mãe, questionava o que tinha feito para ela o odiar tanto a ponto de deixar que o machucassem. Ivan ao menos justificava tal atitude dos pais com a adoção, já ele, não tinha nada que apontasse um motivo -não que precisasse existir um, para tal monstruosidade - porém, seria mais fácil do que aceitar, que a mulher que o colocou no mundo, simplesmente não se importava com a dor dele.

—Acho que só fui encarar a Catedral porque não tenho mais meus avôs comigo para me consolar.—Lágrimas voltaram a escorrer de seus olhos.

Pietro o puxou para mais perto e o abraçou com mais força,Ivan estava com a cabeça em seu peito

—Obrigado por estar aqui!—Disse Ivan

—Não precisa agradecer

—Acho que vivemos em um looping onde agradecemos um ao outro porque choramos

Pietro riu—Bom, da última vez eu cheguei chorando e agora você

—Somos péssimos para o que chamam de homens! —Disse Ivan ao enxugar as lágrimas

Pietro riu novamente e passou as mãos nas costas do garoto que levantou o corpo para beijá-lo, assim que seus lábios se encostaram, Pietro acariciou os cabelos dele devagar e o sentiu tocar seu rosto com tanta ternura que se algum membro de seu corpo havia se contraído, não se encontrava mais nesse estado.

Ivan fez o que sempre fazia ao se afastar, o selou duas vezes

—Agora,você sabe tudo sobre mim! —Disse Ivan ao olhar para Pietro antes de voltar a encostar sua cabeça no peito dele, podia sentir o ritmo acelerado do coração do outro, era interessante saber que um simples beijo o abalava assim, pois sentia o mesmo.

—O que quer dizer com isso?

Ivan achava engraçado a mania estranha de Pietro que fazer perguntas sobre qualquer frase, ele parecia cheio de uma curiosidade quase infantil. Era como uma criança querendo entender tudo, buscando explicação e até que ele gostava, já que para pessoa que esbanjava sinceridade, uma que buscasse respostas era um complemento.

—Quero dizer que não tenho nada a esconder, mas sei pouquíssimo sobre você! —Disse com toda sinceridade —O que é intimidador!

—Nossa... —Disse Pietro, sem saber o que dizer—Eu te intimido?

Ivan ajeitou-se na cama o abraçando mais —É maneira de dizer, só... —Pensou em como prosseguir, pensar em algo que não envolvesse o segredo da sua família era uma saída para seu sofrimento, então buscava em sua mente uma maneira de prolongar um assunto com Pietro—Sei que tem algo que não conta a ninguém, eu gostaria de entender você.—Sentiu o coração de Pietro aumentar as ritmadas—Mas, não tenho pressa em saber de nada!

Pietro respirou fundo, tempo, Ivan estava lhe dando espaço para que ele o procurasse para conversar e tempo para ele se acostumar com a ideia, ninguém nunca tinha sido tão bondoso

—Eu realmente não sou de falar muito de mim, mas um dia, te explico o porquê! —Disse Pietro—Ou ao menos tento explicar, prometo! —Fechou os olhos

—Tudo bem!—Ivan o beijou na barriga, a pele dele era quente ainda que a noite estivesse fria,era um contraste perfeito—Mas se precisar conversar...

—Digo o mesmo a você! —Falou antes que Ivan terminasse —Estou aqui!

--◇◇--

Arina acordou escondendo a decepção em saber que eles nem tentaram abrir a porta. Tudo bem, estava trancada, mas esperava ter um pouco mais de atenção e ao invés disso, assim que tomou banho e foi ao quarto onde os meninos dormiram, se deparou com eles abraçados e apagados.

O sangue lhe subiu, mas ao invés de gritar ou tomar qualquer atitude, escreveu um bilhete dizendo Precisamos conversar! " e foi para a faculdade, já que naquele dia teria aula às 8 da manhã.

Durante todo o percurso sua mente se dividia entre a visita que faria na casa dos pais para falar com Hera e o fato de está perdendo o controle em relação aos meninos.

"Dois problemas a serem resolvidos! "-Disse a si mesma ao estacionar o carro na vaga de sempre próxima ao campus. Desligou o veículo e se olhou no espelho do parabrisa

—Você pode ter o que quiser—Disse a si mesma—Você é capaz e muito poderosa! —tirou um batom da bolsa e tingiu os lábios de vermelho, antes de sair do veículo. Se tinha uma coisa na vida que odiava era sentir-se insegura ou abandonada e não deixaria que Hera lhe trouxesse o primeiro sentimento e Pietro e Ivan o segundo.

Os Traidores - Série Crianças de MoscouOnde histórias criam vida. Descubra agora