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O campus da universidade era enorme, na verdade tudo ali era enorme, vários prédios, muitas árvores e ornamentos, tudo ali sempre lhe pareceu com uma vila medieval, só que com mais "Classe" e modernidades.

Estava sentado perto de um jardim, um lugar que sempre ficava vazio por se situar atrás do prédio da administração da universidade. Não era interessante para ninguém ficar ali, a não ser que quisesse se esconder.

—Essa é da boa! —Disse Maxim ao tragar o cigarro que tinha acabado de enrolar—Você é um ótimo vendedor!

Pietro o olhou sem muita atenção, estava pensando em Arina e no perigo que ela corria,Dmitry era ardiloso.  Aquele homem não era confiável e bem...  Ela também não era!

—Não experimenta mais o que vende? —Perguntou Maxim. Pietro o olhou, ele era um menino franzino, branco e com uma monocelha que tornava impossível admirar seus olhos em tom de avelã.

—Sabe que não, então por que pergunta?

O garoto riu alto ao puxar um punhado da grama que cobria todo o chão—Dá um trago. Morar com o Ivan e àquela maluquinha te deixou chato! —Falou ainda rindo—Te deixou bobão! —Ele deitou e olhou para o céu —Você mais legal antes!

—Eu era um viciado—Afirmou Pietro, olhando para a árvore pomposa que lhe dava uma sombra aconchegante.

—Éramos mais amigos antes! —Maxim riu alto

Pietro ignorou, morar com Arina e Ivan, naquela casa lhe deixou feliz, não se sentia uma piada ridícula do universo pela primeira vez em muito, mais muito tempo, sentia-se em segurança, estava com aqueles que podia confiar.

Era como se os monstros que o perseguiam desde a primeira vez que teve seu corpo violado, estivessem o deixando recomeçar. A confusão e a mágoa eram bem menos expressivas.

—Não tem mais vontade de usar? —Maxim questionou

Ainda sentia falta de usar droga, todo dia quando pensava em alguma coisa que o maltratava ou quando simplesmente algo o fazia lembrar do passado, mas ao menos agora conseguia evitar e dizer não. Tudo era abafado quando sentava para conversar com Arina ou Ivan.

Na verdade, só de está perto de Ivan, tinha a presença de outros sentimentos, beijá-lo levava sensações a seu corpo. Ele não conseguia explicar. Era diferente de está com Arina, aquela garota era uma montanha-russa, nunca sabia como se sentir se deveria gostar muito dela ou sentir raiva, ela é uma explosão que ele de forma alguma era capaz de compreender.

—Dá um trago cara... —Maxim lhe mostrou o cigarro

—Para de encher o saco! —Disse Pietro, ao tirar o telefone do bolso da calça. Decidiu que enviaria uma mensagem a Arina, para saber se ela tinha desistido da ideia estúpida

--◇◇--

Arina estava dentro de seu carro, parada em frente a casa dos pais, não sabia se entrava e arrastava Hera consigo ou se iria sozinha. Tinha conseguido ligar no número que pegou e para sua surpresa o homem que a atendeu lhe parecia simpático. Deveria ser um empregado do tal Dmitry e ainda que perplexo por ela ter sido direta ao dizer que precisava de uma reunião com o chefe dele, após alguns segundos, de silêncio total no telefone, o homem disse que ela deveria aparecer as duas horas.

Arina soltou os cabelos que estavam em um rabo de cavalo mal feito, jogou a bolsa no chão do carro e decidiu entrar em casa. Sabia que seu pai não estava lá, por ser a vez dele de dormir no hospital e conhecendo bem a família que tinha, atrás daquela porta, havia muita agitação como em todas as manhãs.

Destrancou a porta e enquanto tirava os sapatos ouviu a voz de Lev

—Já estou indo! —Disse o menino ao sair da cozinha e sorrir ao ver a irmã —Arina está aqui! —Falou Lev ao se aproximar dela

—Não deveria estar no trabalho? —Ela perguntou, Lev era vendedor numa loja de brinquedos e segundo o relógio de Arina, se ele deveria está no trabalho as nove, o atraso dele contava com mais de uma hora.

—Lev você já saiu?—Gritou Vonda ao sair da cozinha —Arina, se esse menino perder o emprego...—Disse secando a mão num pano enquanto andava até os filhos

—Por que todo mundo acha que eu serei demitido?

—Eu te demitiria! —Disse Arina rindo

—Meu chefe gosta de mim. fiquem calmas!—Lev falou abraçando Arina, ele ainda estava na mesma, com vestimentas pretas, mas parecia ter posto um brinco na orelha esquerda, como a irmã só tinha notado naquele instante, não sabia se o artefato estava lá no dia anterior—Eu sou um funcionário maravilhoso, meus chefes dizem isso!

—Deixe eles saberem que eu preciso te expulsar para que você trabalhe! —Vonda disse irritada ao bater com o pano no filho

—Mãe... —Disse o garoto ao tocar o peito

—Vai logo Lev, não irrite a mamãe! —Disse Arina

Lev deu um beijo no rosto dela e se afastou para pegar o sapato no armário

—O dia está uma agitação! —Disse Vonda ao se afastar, Arina a acompanhou —Hera levou os menores a escola, mas eu ainda não consegui terminar o almoço. Olga disse que vem e eu estou tentando arrumar a casa, para enfim ir ao colégio da Lana, ela se recusou a fazer uma aula, eu não sei ao certo... Meu dia está uma loucura!

—Calma mãe! —Disse Arina, tirando o casaco—Vou te ajudar na cozinha, pode ser?

A mulher suspirou —Sim...—Olhou para a filha—Não deveria está na faculdade? Por que está aqui?

—Não tive aula e quis te visitar!

—Tem vindo com muita frequência, chego a estranhar!

Arina riu—Não me quer aqui? —Perguntou em tom de brincadeira, precisava ficar ali para "matar" o tempo até o encontro, caso o contrário, enlouqueceria.

—É claro que quero, vá, se livre desse casaco e lave as mãos.

Antes que pudesse jogar o casaco, sentiu o telefone vibrar, e assim que o pegou no bolso, viu uma mensagem de Pietro

"Falou com o Dmitry? "

Arina respondeu que sim, devolveu o celular ao bolso do casaco e o botou sobre o sofá. Enquanto saia da sala para ajudar sua mãe na cozinha, se viu sorrindo, gostou de saber que Pietro se importava com ela.

--◇◇--

Ivan entrou no hospital com pressa, pegou o elevador sem falar com ninguém e entrou na sala do pai, que o olhou surpreso,por ele aparentemente ter atrapalhado a conversa dele com Hugh

—Ivan, não te ensinaram a bater?—Disse o doutor ao levantar, seu rosto estava vermelho

—Jovens... —Disse Hugh rindo um tanto sem jeito—Como vai Ivan?

—Saia estou ocupado!

Ignorando tudo que haviam lhe dito, Ivan fechou a porta atrás de si e cruzou os braços, prestes a usar seu tom mais sóbrio —O que você fez com a minha mãe?

Os Traidores - Série Crianças de MoscouOnde histórias criam vida. Descubra agora