*Pietro Bazanov*

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Quando Pietro era pequeno, passava horas sozinho com o padrasto, no início era normal, até gostava de Bóris, ficavam deitados no tapete do quarto após o almoço e viam televisão ou liam livros.

Bóris era um homem inteligente, professor universitário, assim como sua mãe. Pietro nunca teve interesse em saber como eles se conheceram, mas,era esperto o suficiente aos dez anos, para entender de matemática e constatar que um mês depois da morte de seu pai,aquele homem estava sob seu teto.

Bóris e sua mãe, Calina, viviam entre amores e amigos. Alguns desses amigos,o olhavam de maneira estranha e eram um tanto esquisitos, mas ele só pôde entender o significado daqueles olhares aos quinze anos, quando estes "amigos" passaram a frequentar sua cama com o consentimento de seu padrasto e supervisão de sua mãe que, por algum motivo,achava que ele gostava daquelas investidas dolorosas e nojentas, vindas de homens com o dobro ou triplo de sua idade .

Conforme crescia, passou a ter certeza que eles ganhavam algo ao darem seu corpo para aqueles desconhecidos e o fato de ser trocado por dinheiro era tão cruel quanto a relação abusiva com os homem que vinham a seu quarto.

Foram anos terríveis e dolorosos, em parte pelos abusos que, aconteciam com uma frequência absurda e, por conta dos apelidos,dados a ele por àquele casal de loucos que deveriam o proteger e ao invés disso, viviam o chamando de nomes chulos e idiotas,como "puta" e "Presentinho para os amigos"

Mas ainda assim, ele tinha pequenas esperanças em uma mudança,até mesmo rezava por coisas simples, como uma chuva forte ou uma tempestade de neve, que impedisse a ida dos "amigos" a sua casa no final de semana, mas poucas vezes foi atendido e logo a noite terminava do mesmo jeito.  Corpo nú. De bruços. Gritos. Choros. Raiva. Nojo

Por sorte,se é que poderia chamar assim, tudo terminou quando ele finalmente conseguiu entrar na faculdade e saiu de casa. Sair do país com o dinheiro que vinha roubando de sua mãe foi a melhor coisa que lhe aconteceu.

Naquele momento ele pôde respirar, se sentiu livre pela primeira vez, mas novos problemas surgiram, já que  para conseguir uma renda, Pietro passou a vender coisas ilícitas que garantiam dinheiro suficiente para alugar um quarto por algumas noites.Já que o dinheiro dado como apoio estudantil  pelo governo Russo, não ajudava muito.

Porém, não era fácil seguir em frente, já que a nova vida não o impedia de sonhar com os seis anos de tortura, naquela casa, o tempo em que era obrigado a dormir na cama onde era estuprado nunca sairia da sua mente.

Tinha tantos traumas, que por vezes podia ouvir a voz de Bóris dizendo sua frase habitual "Seu amigo dessa noite chegou", tais pensamentos o tiravam o sono e foi ai que ele passou a usar as drogas que vendia, queria apenas dormir e tentar esquecer a dor que o assolava. Se drogava para amenizar a ferida da alma,mas acabou se tornando um viciado.  E da última vez que havia usado, o vício quase o matou.

—Tem algo a compartilhar? —Perguntou Nikita

Pietro demorou um tempo para perceber que a psicologa falava com ele.

—Diga qualquer coisa!

Ele balançou a cabeça negando, nunca quis contar sua história, tinha vergonha e medo de ouvir coisas como "Passou por isso até os vinte e um? Por que nunca fez nada? ", pensar que alguém podia imaginar que de alguma forma ele gostava daquelas sessões de estupro, o tornava a cada dia mais refém da dor.

—Pietro, você está limpo há dois meses,diga qualquer coisa, como se sente, suas espectativas...—Insistiu a ruiva

Os olhares de todos daquela roda o incomodaram.

—Bem...Sou Pietro e... Eu usava heroína há quase um ano... —Arrastou uma mão na outra—Depois da minha overdose, quando encarei a morte bem de perto, um casal me encontrou e o garoto me indicou essa clínica, resolvi vir, porque ele salvou minha vida!—Cruzou os braços

Os Traidores - Série Crianças de MoscouOnde histórias criam vida. Descubra agora