Capítulo 3

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Matteo

— Você me surpreendeu, garoto. —Francisco comenta — Imaginei que isso fosse coisa do seu irmão.

— Achou que eu não me vingaria, tio? — pergunto sério — A morte seria muito fácil para você, queria me divertir um pouco primeiro. — Abro o maior sorriso que consigo e me levanto.

— Não tenho medo de você. — Ele recua, apoiando as mãos no chão e se arrasta para trás.

Mentiroso.

— Mas deveria. — Retruco — Antony acredita que você esteja morto, assim como meu pai. — Dou a volta nele, andando lentamente — Ninguém vai te procurar. — Me inclino, ficando com os olhos fixos diretamente nos dele e sinto um prazer delicioso quando continuo — Você está sozinho no mundo.

— Sempre estive, pequeno. — Seus ombros se curvam em uma tristeza fingida.

— Você era da família. — Seguro com os dedos o seu queixo — Você virou as costas para nós quando iniciou seus planos. — Solto minha mão e sua cabeça é lançada para trás com força — Você mesmo se colocou nessa situação.

— Tem razão. — Francisco estica as pernas, mas nada além disso. Não tem muito espaço entre as correntes para conseguir se movimentar e consigo perceber quando se incomoda com essa limitação — Sou velho, menino. Não conseguiria fugir de você. — O maldito balança os pés e volta a falar — Tire isso de mim.

Prefiro cortar meus pulsos, obrigado. — Fico em pé novamente e dou alguns passos até a cadeira — Diga uma coisa.

— Tenho opção? — Ele ri e gosto disso. Gosto mesmo. Essa loucura dele combina um pouco com a minha hoje.

— Como você conseguiu esconder a Gabriella por tanto tempo? — Vejo a raiva estampar sua cara velha e gargalho — Surpreso?

— Fique longe dela. — Esbraveja, como se tivesse em posição de fazer exigência. Otário — Ela não tem nada a ver com isso. — Sua respiração fica pesada e seus lábios tremulam quando começa a se descontrolar.

Não enfarte, por favor. Acabaria com a graça.

A filha de Tony tinha? — Sussurro e apoio os cotovelos no topo da cadeira — A minha mãe tinha? — Minha voz sobe um grau e levo a mão a têmpora.

Deixa-a em paz.

Ela é bem bonita, tio. — Ajeito minha postura e pisco para ele — Uma beleza diferente, fiquei bem animado.

— Vou matar você.

— Vai nada. — Sorrio e o observo indiferente — O que me lembra a dúvida que tive e que não consegui encontrar resposta, por que não fez isso antes? Por que me manter naquele cativeiro nojento, ao invés de se livrar logo de mim?

— Não vou te falar merda nenhuma. — Responde rispidamente.

Tudo bem. — Pego a chave do carro e coloco entre meu dedo, fico girando e o observando.

— Tudo bem? — questiona enojado — Você é um fraco mesmo.

— Por que acha isso? — questiono um tanto curioso.

— Seu irmão teria me esfolado só pela resposta que dei. — resmunga.

Vontade não me falta viu, tio? Mas, como eu disse, você morrer seria simples demais. — Torço o lábio em desgosto e continuo — Se eu sentir o calor do seu sangue no meu punho, não vou querer parar até tirar a última gota, entende meu dilema? Então, preciso de controle e também porque tenho outros planos. — O cretino fica em silêncio e faz uma careta estranha.

O que você pretende, desgraçado? Vai envolver minha filha nessa porcaria? — Cospe as palavras e dou de ombros.

A minha tortura com você não envolve dor física, Francisco. — Declaro.

— O que você vai fazer, seu bostinha?

— Que boca suja. Nessa idade com esse linguajar horrivel. — Balanço a cabeça em reprovação e o fuzilo com o olhar — Gabriella não te conhece, por quê?

— Não é da sua conta. — Vocifera adulterado.

— Talvez a mãe dela saiba o lixo que você é e quis poupar a menina. É o que teria feito. — Digo.

— O que você vai fazer, Matteo? — Seu timbre sofrido é música para meus ouvidos e pretendo me sintonizar nessa estação todos os dias.

Vou sair por aquela porta e deixar você pensando, em cada segundo dessa sua desprezível existência, o que devo estar fazendo com ela lá fora. — Ando devagar em direção a saída — Essa vai ser a sua tortura.

— Filho da puta. — Grita.

Volto correndo até ele e ergo a perna, pegando impulso ao acertar seu rosto com o meu pé.

— Nunca me xingue assim novamente. — Estremeço com a sua súbita fúria e me afasto. Ele fica inerte, mas sei que está acordado e bem. Só é um covarde mesmo — Fique tranquilo. Todos os dias prometo que venho te visitar para fofocarmos sobre o andamento das coisas. — Aceno em despedida e me viro — Vamos ser como garotas adolescentes. Só espero que sua filha não seja tão fácil. Quero um pouco de emoção para conseguir conquistar o coração da sua filha. Isso não vai ser legal, tio?

MATTEO  Uma noite * livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora