Matteo
Sigo pelas ruas de Sicília com as mãos tão presas ao volante, que poderia arrancá-lo do painel. A força nos meus dedos só refletem a bagunça que estou agora. Um dilema fodido.
Como posso decidir entre vingar o amor que senti e a ainda sinto pela minha mãe, com um novo sentimento que nem sei o que vai dar? Como posso escolher?
Merda.
Depois de muitas voltas sem destino, estaciono em frente ao cemitério. Respiro profundamente e saio do carro.
Caminho entre os túmulos, até avistar o mausoléu da nossa família.Meu coração parece explodir de tanta dor quando vejo o nome dela na lápide. Abaixo e me sento, encostando meu corpo na lateral da pedra.
- Estou perdido, mãe. - sussuro e me sinto um tolo na mesma hora - Gosto de pensar que de algum jeito não estou sozinho aqui. - sinto meus olhos arderem com as lágrimas e inspiro devagar - Eu não sei o que fazer - fungo quando a primeira gota escorre pela minha bochecha - Eu te amo tanto. Preciso da senhora.
Choro em silêncio, sofrendo pela falta que ela me faz, por tudo que nos foi tirado e impedido de vivermos. Por cada segundo que não pude sentir o aperto do seu abraço e dos seus conselhos. Por tudo que perdemos.
Abraço minhas pernas e sinto a tremulação quando a saudade me invade e soluço, não consigo mais conter a emoção que percorre cada fibra do meu corpo e desabo.
- Não quero que Francisco viva, mãe. - confesso e me sinto mal, como se não vingá-la fosse um erro imperdoável - Mas não quero mais que seja eu a tirar a vida dele. - levanto a cabeça e olho sua foto sorrindo, tão feliz, tão perfeita - Não sei como resolver isso, não sei como me curar.
Fecho os olhos e permaneço assim por um longo tempo.
Meu celular vibra e puxo do bolso, levando um susto ao ver o nome da Gabriella na tela.
Gosto de ser sua amiga.
Uma frase tão curta e com tanto valor, que um calafrio passa por toda a extensão da minha pele. Levanto os olhos para o céu e agradeço.
- Obrigada, mãe. Já sei o que fazer. - enxugo outra lágrima com a barra da camisa e fico em pé. Olho uma última vez para a sua imagem e sorrio. Vou te deixar orgulhosa. Faço uma breve oração e volto para o carro.
- Matteo? O que foi menino? Está de madrugada. - ele acende o seu abajur e me observa preocupado.
- Pai. - murmuro.
- O que aconteceu, fratello? - Fillipo se levanta e ando até ele, o surpreendendo ao rodear meus braços envolta do seu corpo - Fui ver a mamãe. - digo. Sinto quando ele se reseta, parando até de respirar por um momento e se afastando.
- Por que? - questiona e vejo nos seus olhos o mesmo sofrimento que os meus devem estar refletindo.
- Preciso que venha comigo. - peço e estendo a mão - Por favor.
- A essa hora? - pergunta.
- Sim. Por favor. - imploro sem vergonha alguma.
- Tudo bem. Só me deixe pegar um casaco.
- Te espero no carro. - desço os degraus de dois em dois, o nervosismo faz minhas mãos suarem, mas não me importo. Só quero acabar logo com isso.
Assim que estaciono em frente ao local abandonado, puxo a coragem e abro a porta, contornando o carro e ficando ao lado do meu pai.
- O que está acontecendo, filho? - sua voz agoniada terá fim em alguns minutos e então, será o fim.
Não respondo, empurro o portão velho e entro. Ele vem logo atrás, os passos vacilantes e cansados se misturam ao som alto da minha respiração.
Puxo a chave do bolso e acendo a luz central. O corpo do Francisco, magro e machucado, se mexe com a luminosidade repentina.
- O que significa isso, garoto? - meu pai retruca, me encarando confuso.
- Você disse que essa era a sua dívida para cobrar. Ele é todo seu. - entrego a Fellipo a chave do galpão e vou embora.
Essa é a minha redencão e me sinto livre agora. Libertei minha alma dessa obscuridade e não me arrependo de escolher esse caminho.
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MATTEO Uma noite * livro 2
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