Capítulo 22

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Matteo

Sigo pelas ruas de Sicília com as mãos tão presas ao volante, que poderia arrancá-lo do painel. A força nos meus dedos só refletem a bagunça que estou   agora. Um dilema fodido.

Como posso decidir entre vingar o amor  que senti e a ainda sinto pela minha mãe, com um novo sentimento que nem sei o que vai dar? Como posso escolher?

Merda.

Depois de muitas voltas sem destino, estaciono em frente ao cemitério. Respiro profundamente e saio do carro.
Caminho entre os túmulos, até avistar o mausoléu da nossa família.

Meu coração parece explodir de tanta dor quando vejo o nome dela na lápide. Abaixo e me sento, encostando meu corpo na lateral da pedra.

- Estou perdido, mãe. - sussuro e me sinto um tolo na mesma hora - Gosto de pensar que de algum jeito não estou sozinho aqui. - sinto meus olhos arderem com as lágrimas e inspiro devagar - Eu não sei o que fazer - fungo quando a primeira gota escorre pela minha bochecha - Eu te amo tanto. Preciso da senhora.

Choro em silêncio, sofrendo pela falta que ela me faz, por tudo que nos foi tirado e impedido de vivermos. Por cada segundo que não pude sentir o aperto do seu abraço e dos seus conselhos. Por tudo que perdemos.

Abraço minhas pernas e sinto a tremulação quando a saudade me invade e soluço, não consigo mais conter a emoção que percorre cada fibra do meu corpo e desabo.

- Não quero que Francisco viva, mãe. - confesso e me sinto mal, como se não vingá-la fosse um erro imperdoável - Mas não quero mais que seja eu a tirar a vida dele. - levanto a cabeça e olho sua foto sorrindo, tão feliz, tão perfeita - Não sei como resolver isso, não sei como me curar.

Fecho os olhos e permaneço assim por um longo tempo.

Meu celular vibra e puxo do bolso, levando um susto ao ver o nome da Gabriella na tela.

Gosto de ser sua amiga.

Uma frase tão curta e com tanto valor, que um calafrio passa por toda a extensão da minha pele. Levanto os olhos para o céu e agradeço.

- Obrigada, mãe. Já sei o que fazer. - enxugo outra lágrima com a barra da camisa e fico em pé. Olho uma última vez para a sua imagem e sorrio. Vou te deixar orgulhosa. Faço uma breve oração e volto para o carro.

- Matteo? O que foi menino? Está de madrugada. - ele acende o seu abajur e me observa preocupado.

- Pai. - murmuro.

- O que aconteceu, fratello? - Fillipo se levanta e ando até ele, o surpreendendo ao rodear meus braços envolta do seu corpo - Fui ver a mamãe. - digo. Sinto quando ele se reseta, parando até de respirar por um momento e se afastando.

- Por que? - questiona e vejo nos seus olhos o mesmo sofrimento que os meus devem estar refletindo.

- Preciso que venha comigo. - peço e estendo a mão - Por favor.

- A essa hora? - pergunta.

- Sim. Por favor. - imploro sem vergonha alguma.

- Tudo bem. Só me deixe pegar um casaco.

- Te espero no carro. - desço os degraus de dois em dois, o nervosismo faz minhas mãos suarem, mas não me importo. Só quero acabar logo com isso.

Assim que estaciono em frente ao local abandonado, puxo a coragem e abro a porta, contornando o carro e ficando ao lado do meu pai.

- O que está acontecendo, filho? - sua voz agoniada terá fim em alguns minutos e então, será o fim.

Não respondo, empurro o portão velho e entro. Ele vem logo atrás, os passos vacilantes e cansados se misturam ao som alto da minha respiração.

Puxo a chave do bolso e acendo a luz central. O corpo do Francisco, magro e machucado, se mexe com a luminosidade repentina.

- O que significa isso, garoto? - meu pai retruca, me encarando confuso.

- Você disse que essa era a sua dívida para cobrar. Ele é todo seu. - entrego a Fellipo a chave do galpão e vou embora. 

Essa é a minha redencão e me sinto livre agora. Libertei minha alma dessa obscuridade e não me arrependo de escolher esse caminho.

MATTEO  Uma noite * livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora