Capítulo 40

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Matteo

Assim que vi o rosto da sua mãe, mesmo transformado por toda aquela raiva e um pouco mais envelhecido, eu soube. Torci para que ela não me reconhecesse, mas não deu muito certo. Merda

A porra do meu coração gelou com a frieza nas suas palavras e quando apontou seu dedo para mim, com todo aquele ódio, não tive opção. Sair de perto seria a melhor escolha.

Por mais fodida que toda a situação da doença dela seja, preciso muito que acredite ter se confundido. Pretendo contar toda a verdade um dia para a Gabriella, mas não agora. Não dessa maneira.

Nunca entre sem bater, ragazzo. — Francisco me repreende na frente de uma mulher e fico com vergonha. Entrei no seu escritório correndo, mas não sabia que ele estava aqui.

— Estou me escondendo do Tony, tio. — digo e abaixo a cabeça.

— Aqui não é lugar para brincar, Matteo. Vai embora. — sua voz fica alta e recuo um passo assustado. Ele nunca tinha falado assim comigo. Por que está bravo?

— Deixo o menino, Francisco. — a mulher se aproxima e levanta meu rosto com a sua mão. Apoiando seu dedo gentilmente no meu queixo — Que olho mais bonito. — diz.

Fico em silêncio e sem graça, não sei o que responder. Ela parece tão legal e  ... bonita.

— Seu cabelo parece um fogo. — digo rapidamente e levo as mãos a boca. Meu tio disse que não posso ficar falando tudo o que vem na minha mente, mas é muito difícil.

Ela ri e eu gostei do som, é tão alegre. Tomara que ela seja namorada do meu tio. Vou rezar mais tarde pedindo isso. 

Ligo o som do carro e dirijo rápido, me afastando o quanto posso. Gabriella ficou surpresa pela atitude da mãe dela.
Eu também, foguinho.

Eu ainda era uma criança quando nos encontramos.
Depois daquele dia, as visitas da mãe dela começaram a ser mais frequentes, até que um dia parou totalmente. Não tinha noção de tempo na época, talvez tenha durado meses. Não sei. As memórias me inundam e aumento o volume da música.

— Eu pedi para Deus uma coisa. — murmuro antes de dormir.

— Isso é entre vocês dois, garoto. — Francisco responde mau humorado — Não tem que ficar contando para ninguém seus desejos. Nem mesmo para mim. 

— Eu sei. — digo constrangido — Só queria que você tivesse casado com a tia Sandra.

— Isso não vai acontecer. — retruca seco — E ela não é a sua tia. — ele bate a porta ao nos deixar sozinhos e fecho meus olhos com força.

Sinto o sono me abraçar, mas antes de me render, ouço meu irmão.

— Matteo. — chama fraco.

— Oi? — respondo meio grogue.

— Ouvi uma conversa na cozinha mais cedo. — sussurra — Mas é segredo. Consegue guardar um?

— Sim. Sou um homem, Tony. Homens sempre tem segredos. — sua risada baixa me anima um pouco e mesmo em meio a penumbra, consigo ver o contorno do seu corpo quando se senta na cama.

— Ele estava gritando no telefone. — diz.

— Isso não é um segredo. — interrompo impaciente.

— Cala a boca para eu te contar então. — cubro a boca com a coberta para abafar o riso e fico quieto.

— Francisco disse que a tia Sandra estava proibida de entrar aqui na casa dele. Acho que estava falando com os seguranças.

— Por que? O que ela fez? — questiono confuso.

— Não sei, mas acho que ela estava lá na portaria, porque consegui escutar a voz dela chorando.

— O que ela dizia? — pergunto triste.

— Que ele nunca iria conhecer a menina.

— Que menina? 

— Não sei, não entendi também. — ouço o barulho dele se ajeitando e me viro para o lado —Agora vai dormir,  Matteo. Amanhã a mamãe vem nos buscar.

— Boa noite, Tony.

— Boa noite, mano.

Minha cabeça fica girando com um monte de pensamentos e perco o sono tentando adivinhar o que aquela conversa esquisita significa. 

Mas talvez eu tenha entendido agora. 

Meu tio vai ter uma filha, mas ele não a quer.

MATTEO  Uma noite * livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora