Capítulo 42

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Gabriella

Minha mãe costumava dizer que se você fosse capaz de ouvir o sopro alto do vento pela manhã, mesmo com todo o caos do mundo, seria porque uma grande mudança estava se aproximando. E ela tinha razão.

— Sim, eu expliquei para a atendente anterior.  — suspiro pesadamente — Apenas mais uma semana, somente isso.

— Entendo, senhora. Sinto muito, mas, infelizmente não podemos prorrogar.

— É sério isso? — questiono magoada.

— Sim, sinto muito, Sra. Leone.

— Ok, obrigada. 

Encerro a chamada sem me preocupar em avaliar a porcaria do atendimento. 

Que diferença faria no lucro dessa empresa se eu atrasar minha conta de $60,00? 

Tudo bem, esse não é o pensamento e nem o caminho certo. Só estou irritada. Muito irritada.

Matteo vai arcar com as despesas da minha mãe e eu sei muito bem que não é barato, não posso pedir isso a ele. Sem chance. 

Levo os dedos até a têmpora e massageio levemente, a impotência diante dessa situação me deixa enlouquecida. Sem emprego. Sem dinheiro. Muitas contas. Que trio motivador.

Um problema por vez, Gabriella. Escolha o mais urgente!

Ficar sem eletricidade é a porra de um problema urgente, certo?  Diabos, sim!

Que eu fique no escuro, dane-se, mas minha mãe precisa estar na clínica. Esse é o mais urgente, sem dúvida. Seu tratamento é a prioridade.

Pego o telefone novamente e me sento no sofá.

— Oi, bonita. — sua voz baixa quando me atende, chega aos meus ouvidos e como um maldito milagre, diminui a pulsação frenética que esquentava meu corpo há alguns segundos. Um bálsamo nesse deserto de tribulações que tem sido minha vida.

— Oi, Matteo. — cumprimento, ignorando as palavras da Sônia na minha cabeça. 

Talvez você não precise mais carregar tudo sozinha. Aprenda a dividir a carga, menina. 

— Saudades? — diz divertido. 

— Sim, amor. — retruco firme e o silêncio no outro lado é gigante, parece virar uma eternidade. Isso, até eu rir e destruir o teatro. 

— Não brinque assim comigo, foguinho. — avisa após algum tempo — Qualquer hora vou acreditar nisso. — posso ouvir o riso no seu timbre, mas sei que está falando sério.

— Desculpa. — digo — Não pude resistir. — confesso.

— Sei como é. — explica — É difícil mesmo ser resistente — ele provavelmente percebeu meu constrangimento, pois esquece o assunto tão rapidamente quanto começou — Precisa de alguma coisa, linda?

Eita. Sim.

— Sim. — declaro envergonhada — Gostaria que houvesse outro jeito de resolver isso, mas não vejo qual.

— Estou perdido aqui. — diz — Do que estamos falando?

— Do lugar para a minha mãe ficar. — esclareço — Mas ela não pode ficar mais com a Sônia e bom, não deveria, ainda mais depois de ontem e eu não posso sair por aí de taxi com ela nessa estado, visitando tanto lugares e sem dinheiro para nada, também não posso deixar ela sozinha em casa ...

— Gabriella? — ele fala alto e me assusto, me calando no mesmo minuto com a surpresa — Você está hiperventilando, querida — sussurra — Respira devagar e se acalma. Pode fazer isso?

— Sim, claro. — fecho os olhos com força e fico em pé. Caminho até a varanda, com a sua respiração tão próxima a mim que sinto como se ele estivesse presente ao meu lado.

— Está se sentindo melhor? — questiona preocupado e meu coração palpita de um jeito meio louco, ele fica quente e cheio ao mesmo tempo, uma mistura de sensações.

— Estou, obrigada. — agradeço — Vou ficar. — reforço com mais sinceridade.

— Certeza? — indaga.

— Sim. — digo.

— Bom, muito bom. Agora me diga qual é o problema.

— Preciso que você me faça um favor ... — peço e sinto a vergonha cobrir meu rosto.

— Qualquer coisa. — responde de prontidão. Tão lindo.

— Depois de pesquisar bastante, escolhi duas casas de repouso. São as melhores e as mais baratas que encontrei. — inspiro profundamente e continuo — Você poderia visitá-las por mim? Não posso deixar minha mãe sozinha.

— Posso sim. — diz — Quer que eu faça algum vídeo ou te mande fotos do local? — pergunta.

— Seria excelente. — comento com um nó na garganta. Ele é tão maravilhoso.

— Perfeito. Manda o endereço que mais tarde te falo o que achei de cada um.

— Pode deixar. — enxugo uma lágrima solitária que escorre pela minha bochecha e antes de desligar o chamo outra vez — Matteo?

— Oi, linda.

— Muito obrigada, de verdade. Você é um anjo. — digo.

— Lúcifer também era. — comenta rindo e é impossível não se contagiar.

— Idiota.

— Mas você me adora. — retruca rindo ainda mais.

— Adoro muito. — respondo seriamente, mas com um sorriso brincando nos meus lábios.

— Eu também adoro muito você, foguinho.

Assim que sua frase termina e a confirmação dos nossos sentimentos, que não é novidade, paira no ar,  pressionando absurdamente o ambiente ao meu redor, ficamos quietos. Ficamos em absoluto silêncio, apenas com o som abafado do ar que expiramos dizendo tudo o que não somos capazes de assumir.

Nós pertencemos um ao outro com força.









MATTEO  Uma noite * livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora