Capítulo 7

2.8K 254 38
                                    

Matteo

- Seu irmão foi expulso da Itália, sabia?

Claro que sabia. Eu nem estou preso mesmo.

- O que? - questiono enfurecido. Não sei dizer se são pelas palavras incoerentes do Francisco ou pela fome. Ele não me alimenta há dois dias. Somente água. Filho da puta.

- Ele tentou matar Batelli há algumas semanas. - estala a língua em reprovação e balança a cabeça - Antony disfarçou bem, ninguém imaginaria isso. Ainda mais depois que você fugiu, todo mundo acreditou que ele havia se rendido a ser o Capo que esperassem que fosse.

- Que pena que ele não conseguiu então. - resmungo e ele me ignora.

- Trouxe algo para você, filho. - ele puxa uma embalagem da mochila e fixo meus olhos no pacote.

Estou faminto. Cada dia que passo aqui, me enfraquece mais, não dá para saber quando será a próxima refeição e isso é malditamente estressante e triste. Que merda de vida é essa? Prefiro a morte. Que Deus me perdoe, mas esse é o meu desejo em todos os minutos.

- A quanto tempo estou aqui? - indago baixo.

- Pouco mais de um ano. - Porra. Até quando vai durar esse tormento?

Nunca quis tirar tanto a vida de uma pessoa ou perder a minha. O pior é estar acorrentado como um animal.
Francisco joga o conteúdo no chão e acena para que eu coma. Não posso pensar na minha dignidade agora. Sentir fome é uma dor horrível. Desço a cabeça sem permitir que a vergonha disso me consuma.

Eu o odeio pra caralho.

Acordo assustado e com o mesmo sentimento daqueles malditos dias martelando no meu peito. Levo alguns segundos para que a realidade caía sobre mim e minha mente desacelera, entendendo que não estou mais lá. Estou bem agora. Estou forte. Estou no comando de mim mesmo, pelo menos, em partes.

Olho para a janela e uma luz fraca ultrapassa as cortinas. Empurro o lençol que estava sobre o meu corpo e vou para o chuveiro.
Já levanto cansado. Nenhum sono é suave o bastante para acalmar essas lembranças. Estou farto dessa merda.

- Acorde, filho. - grito quando a frieza da água bate em meu corpo com força. Francisco apenas ri e joga a mangueira para o lado.

- Eu vou matar você. - murmuro enquanto sinto minha pele queimar como gelo.

Enquanto a água escorre pelo meu rosto, fecho os olhos. Essa parte do dia é sempre a pior. Treino minha mente toda vez que faço isso. Não posso me perder naquelas recordações.

Continuo com os olhos fechados e deixando a água gelada não ter esse poder sobre mim.
Sempre falho. Depois de alguns minutos, estou ofegante e com o coração a milhão, a sensação esmagadora me atinge forte.

Merda.

Desde que Tony foi embora, tento preencher meu tempo. Se eu não ficar em movimento, se meus pensamentos ficaram livres, eu sei o rumo que ele vai levar e não é nada bonito. Nao posso permitir deixar que essa escuridão me arraste. Então lido com ela da melhor forma possível. Ignoro.

Saio do meu quarto e caminho lentamente até a cozinha.

- Bom dia, maravilhosa. - digo a Sofia ao beijar sua bochecha, ela está abrindo o forno, algum novo bolo, provavelmente. Essa mulher não se cansa.

- Não chegue tão perto assim, menino. - esbraveja.

- Eu sei que isso é o ponto alto do seu dia. - retruco rindo e indo até o balcão.

- Você precisa aprender a se comportar rapaz. - diz séria e se vira para mim.

- Talvez a sua filha me ajude. - comento.

- Ela tem namorado. - bufa impaciente e me encara - Quer saber? Vou rezar por você. - Sofia sai a passos firmes, enquanto continuo rindo e me servindo de um café.

A notícia da morte de Batelli se espalhou por toda a Itália, não assumimos a autoria, claro, mas todos sabem que fomos nós. A conversa que chegou até mim foi muito boa, o que explica a porcaria de reunião que tenho daqui a pouco.

- Uma mulher que comandou os homens da Cosa Nostra no quintal de Camorra?

- Sim. - respondo.

- Mas não seguimos ordens que não seja do nosso Capo. - desafia.

- Ela se tornará esposa do meu irmão. Demonstre algum respeito. Além disso, ela está grávida e esse filho assumirá a famiglia em algum momento. - ele empalidece e abaixa os olhos.

- Entendi, senhor. - então se afasta quieto e não olha para trás.

Ao entrar na sala, todos já estão sentados, uma média de oito pessoas, que se silenciam com a minha chegada. Me acomodo na cadeira da frente e começo.

- Como já sabem, estou na liderança da nossa organização nesse lado do oceano. - pigarreio, nunca pensei que estaria fazendo isso, que volta a vida deu - Então, me digam. O que querem saber já que existe tanta fofoca nos corredores?

- Você esteve fora por tempo demais. Não sabe como as coisas funcionam aqui. - um velhote careca resmunga e vejo a maioria o apoiando.

- Eu cresci nisso. Fui treinado desde criança. Pode ter certeza que conheço cada porcaria de coisa que se passa dentro dese lugar. - respiro calmamente e continuo - Alguém nessa mesa é contra minha posição? - indago.
Não há resposta. Ninguém se manifesta. Medo ou respeito? Foda-se. Eles conhecem a regra.

- E Antony? - outra pessoa questiona.

- O que tem ele? - pergunto.

- Tudo era levado até ele.

Isso encoraja os outros, pois uma chuva de questionamentos se inicia, todos envolvendo meu mano ou Fillipo.

- Antony? - chamo por ele inúmeras vezes e todos os rostos se viram para mim confusos - Você estão falando tanto dele, que pensei que ele estivesse aqui. - endureço o olhar e continuo - Qualquer problema quero que direcionem a mim. - vejo suas cabeças balançando em concordância - Não é ao meu pai, não é ao meu irmão, é para a porra do Capo de Sicília. - levo minhas mãos ao queixo e os observo - Que no caso, sou eu. - sorrio para cada um e me levanto - Mais alguma dúvida? - pergunto e ninguém se habilita a dizer nada - Fui claro de como quero que as coisas sejam de hoje em diante? - todos acenam em afirmação - Bom. Muito bom senhores. Agora preciso sair. Tenho uma garota para conquistar.

MATTEO  Uma noite * livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora