MATTEO Uma noite * livro 2

Capítulo 69

Matteo

Não sei quanta dor um homem pode aguentar, mas tenho certeza de que independente de qual seja esse limite, ultrapassei agora.

Meu coração está destruído, é como se uma mão o apertasse tão forte e não soltasse mais. Apenas pressionando a cada segundo minha carne, fazendo com que eu agonize em desespero.

Temi tanto por esse momento.

Porra, eu estava evitando tanto, apenas para que a verdade viesse de uma forma distorcida como essa.

Isso não poder o ser fim.
Isso, definitivamente, não pode acabar desse jeito.

- Me deixe ir. - sua voz magoada tira uma lasca da minha alma e joga ao vento. Mais um pedaço de mim que perco. Mais um sofrimento merecido.

Paro de correr.
Paro de respirar.
Caio de joelho e levo as mãos ao rosto.
Puxo meus cabelos em frustração e raiva. As lágrimas queimam meus olhos, mas não me importo. Eu sentiria qualquer dor se isso fosse consertar as coisas.

Sou um maldito filho da puta covarde.

Esperei demais.

- Matteo. - meu irmão me encontra, mas não posso encará-lo. Sinto tanta vergonha. Sinto tanta coisa que não sei nem ao menos descrever. Não saberia nem por onde começar.

- Leve Gabriella para casa, mano. - digo e ouço o barulho do seu carro se movimentando.

Escoro meu corpo na parede ao meu lado e fico sentado. Eu, que sempre odiei a mentira, estava enganando a única mulher por quem já me apaixonei. Que ironia desgraçada. Não sou muito diferente do pai dela no final.
Não que a autodepreciação vai me ajudar de qualquer forma, mas eu mereço essa dor. Mereço sentir o peso desse pecado.

Coloco a cabeça entre os joelhos e como um sem teto, permaneço largado no concreto. Não sei quanto tempo estou assim. O sofrimento tem um jeito diferente de nos torturar, como se o relógio andasse devagar, somente para que a aflição dure mais ou talvez, seja apenas eu recebendo o meu troco do destino.

Não culpo a vida.
Culpo a mim mesmo.
Eu criei esse pesadelo quando decidi que a vingança era necessária.
Criei um inferno esperando encontrar a paz. Que tolice sem sentido. Isso parece tão idiota agora.

Meus penamentos sem controle bagunçam a minha mente. Nunca pensei que viveria o suficiente para amar alguém assim. Um sentimento que nasceu de um plano estúpido, mas que me transformou.

Eu abri mão das sombras para seguir a sua luz.

Não foda comigo. Ergo os olhos até o céu e falo com quem puder me atender.

Ficar lamentando também não vai mudar a situação. Já pedi demais a Deus e não tive resposta. Não entendo essas suas linhas tortas.

Fico em pé e respiro fundo.

Caminho de volta para casa e passo direto pela garagem. Algumas poucas pessoas ainda comemoram um casamento sem os noivos. Alheios ao mundo desabando dentro de mim, como se isso fosse de alguma maneira problema deles. Mas não é. Ninguém, além de mim deveria carregar essa culpa.

Não seja uma cuzão.
Lide com a sua merda, Matteo.

Subo as escadas e vou para o meu quarto. Estico os braços até às costas e puxo a camiseta sobre a cabeça.

Podemos nos encontrar amanhã cedo? - meu celular vibra com a sua mensagem e respondo imediatamente.

Só me diga aonde, foguinho

Seguro o aparelho com uma força quase sobre-humana, não pisco e acho que nem respiro esperando a sua resposta. Estou apavorado. Foda-se.

Na Starbucks do centro. Às 10h.

Estarei lá, querida - Gabriella não diz mais nada, mas mesmo assim, uma centelha de esperança leva um pouco dessa escuridão embora. Se ela vai me ouvir, então ainda posso ter fé.

Sorrio fracamente antes de ir para o chuveiro e ignoro a pontada de preocupação que ronda minha cabeça, deixando apenas as boas lembranças de nós dois no lugar desses pensamentos ruins.