MATTEO Uma noite * livro 2

Capítulo 72

Gabriella

Não consigo levantar a cabeça e olhar em seus olhos.

Talvez eu não seja forte o suficiente. 

Estou tentando. Céus, estou tentando duramente, mas quando o som da sua voz, tão triste e vazio, carregado de uma agonia sem fim, ecoa por meu ouvido, chamando por aquele apelido que é só nosso, sinto que vou desmoronar. 

Quando a sua mão se aproxima hesitante até a minha,  percorrendo um pequeno caminho sobre a mesa, posso escutar o som do meu coração se partindo outra vez ao me afastar do seu toque.

Era tudo o que eu não queria, mas era o que precisava ser feito. 

Dói demais estar tão perto e tão longe assim dele, mas existem coisas entre nós agora que exigem explicações e sinto que não serei capaz de seguir adiante, sem ouvir o que Matteo tem para dizer.

Eu o amo. 

Diabos, eu o amo com todo o meu coração, mas esse sentimento não será o bastante, se o poder da mentira for maior. Por esse motivo estou aqui, porque machuca, mas também pode curar. 

Essa é a chance que estou entregando novamente ao destino.

Não quero desistir, mas também não quero viver um maldito conto de fadas, porque era exatamente assim que eram os nossos dias. Ele me salvando e eu me apaixonando. 

Foi inevitável.

Na verdade, foi impossível não acreditar nas suas palavras doces ou no seu humor estranho. Ele me ganhou desde o primeiro momento. Sua beleza única e aquele sorriso estúpido, confundiram a minha mente e eu não enxergava muito além. Só conseguia ser grata por ele ser tão bom para mim. Perfeito.
Posso ter me perdido nesses instantes. Nesses breves minutos em que me senti especial.

Talvez você tenha estragado algo realmente lindo, Matteo.

Quando fizemos amor naquela noite parecia tão natural, tão verdadeiro. Acredito que aquele sentimento entre nós, aquele clima sufocado de paixão e intimidade foi para valer. Não foi mentira, não pode ter sido. Porque se foi, agora é tarde demais para consertar qualquer dano. 

Isso está me matando e essa é a parte que mais destrói. Não saber.

—  Estou esperando. — comento indiferente, mas apenas para não permitir que o meu lado emocional interfira. Já está difícil demais ignorar as batidas triste dentro do meu peito.

Matteo endireita a coluna e cruza os dedos na minha frente. Ainda não consigo encará-lo. Não quero que nossos olhares se cruzem, porque o azul brilhando neles é a coisa mais bonita que já vi na vida e isso não pode me desestabilizar. Não posso navegar por esse mar de novo, ainda mais com uma tempestade a espreita.

— Seu pai não era uma boa pessoa. — ele pigarreia e ouço quando inspira o ar com força. Talvez esteja criando coragem ou apenas afetado com as lembranças, não sei. Mas essa notícia não me surpreende. Consegui deduzir durante os anos em que cresci só com a minha mãe e ele sendo um assunto proibido — Você quer conversar aqui mesmo, foguinho? — pergunta e inclina o corpo na minha direção — É muito público e estou meio desconfortável. — sussurra.

Fico em silêncio. 

Escolhi um ambiente assim exatamente por essa razão. O que eu ouvi na festa me assustou e pude ver um lado do Matteo quer era desconhecido, repassei aquela imagem vezes demais na minha mente, tentando encontrar uma outra saída, mas a realidade é que descobri uma parte escura e apavorante demais dele. Não posso romantizar uma coisa dessa.

— Pelo amor de Deus, foguinho. Você acha que vou te fazer algum mal? — questiona surpreso e magoado — Eu nunca seria capaz disso. — seu timbre falha e sinto o ardor nos meus olhos. As lágrimas embaçam a minha visão e travo meu maxilar. Não quero chorar de novo. Não quero que ele veja o quanto estou em pedaços.

— Não me sinto mais segura com você. — digo com a voz embargada e abaixo a cabeça. 

Não preciso observá-lo para saber que suas reservas se foram quando terminei de falar, pois o suspiro trêmulo que sai dos lábios e a urgência em precisar me provar o contrário, era a resposta que eu buscava.

Seu amor por mim era real. De uma forma destorcida e muita errada, mas ainda assim, era de verdade. Não posso estar tão enganada. O homem está um desastre.

— Vamos para a minha casa. — aviso e fico em pé, sem dar aos meus pensamentos a chance de protestar, a chance de fazer com que eu mude de idéia. Apenas segui esse instinto que vibrava e pulsava sem parar dentro do meu peito. Espero, com toda a força que existe em mim, que não me arrependa dessa decisão, porque Matteo foi tudo quando eu não tinha mais nada e quero ser essa pessoa para ele agora.

A pessoa que salva.