Gabriella
- Não preciso de carona hoje. - digo a Matteo no final do expediente - Vou embora com a Luna.
- Quem é essa? - pergunta.
- Uma amiga. - explico - Ela quem fez as maiorias das minhas tatuagens. - digo orgulhosa - Ela arrasa.
- Posso ver. - ele comenta baixo e percorre meus braços com seu olhar atencioso e perigoso.
- Legal. - tiro o avental e guardo meu dinheiro - Até quarta, então. Agora você precisa sair.
- Está de folga amanhã. - ele apenas afirma e se levanta.
- Yep. - confirmo.
- Você disse que era uma pergunta pessoal demais quando eu quis saber o que fazia toda terça. - ele semicerra os olhos e me observa. A intensidade é tão grande, que me desarma. Uma linha azul desconcertante.
- E ainda é. - interrompo e me afasto antes que um rubor suba pelo meu rosto. Que homem lindo, Jesus.
Esse é o problema de já ter sentido seus lábios nos meus, toda vez que eu olhar para a sua boca, vou lembrar daquele beijo. Imagina se tivesse rolado algo além? Santo Deus.
- Por enquanto, querida. Até depois de amanhã, foguinho. - ele se despede sorrindo e passa pela saída, desviando do Marco, que o encara pelas costas.
Que estranho.
- Gabriella. - inferno.
- Sim. - respondo seca.
- Aquele rapaz é seu namorado? - questiona sério.
- Não, Marco. Um cliente. - coloco uma alça da mochila no ombro e continuo - Por quê?
- Deveria tomar mais cuidado então. - diz baixo, como se fosse um segredo.
- E por quê? - retribuo a atitude bizarra.
- Você sabe o que ele faz da vida, docinho?
- Isso não é da minha conta. - respondo.
- Pois deveria, já que ele vive aqui em cima de você. - respiro fundo e puxo a gola da camiseta mais para cima, quando seus olhos se perdem no meu decote.
- Boa noite. - ignoro seu comentário e dou alguns passos para longe dele.
- Bom, tudo bem, então. - grita e viro para trás, quando o vejo pegando uma garrafa de whisky que estava sobre o balcão e caminhando para o seu escritório.
Nojento.Saio de lá o mais rápido que consigo e atravesso a rua, encontrando minha amiga entediada dentro do seu carro.
- Que demora. - bufa impaciente quando entro e fecho a porta.
- Estava com saudades também. - ironizo.
- Engraçadíssima. - murmura e começa a dirigir.
- Como está o novo site?
- Uma loucura, menina. Meu telefone não tem um minuto de sossego. - ela parece tão feliz, que meu coração fica quentinho por eles.
- Que maravilha. - dou um tapa leve na sua coxa - Você merece cada coisa boa que te acontecer, Luna.
Ela me deixa em casa e segue para a sua. A agenda dela está bem agitada e essa é a única forma de nos vermos as vezes. Mesmo que seja por pouco tempo, vale a pena.
- Mãe? - digo alto subindo as escadas.
- Gabriella. - encontro Sônia escostando a porta do quarto dela e fazendo sinal de silêncio. As batidas no meu peito aumentam absurdamente e meu corpo gela.
- Ela está bem? - pergunto preocupada.
- Hoje não foi um bom dia, querida. - meus olhos se enchem de água na mesma hora e sinto um levo tremor nas mãos - Ela não me reconheceu na maior parte do tempo.
- Ela está piorando, não é?
- Sinto muito. - sua voz baixa entrega o inevitável e sinto a minha cabeça girar.
Estou perdendo minha mãe tão rápido.
Sinto seus braços me apertarem e apoio minha testa no seu ombro.
- Não estou pronta. - digo.
- Ninguém consegue se preparar para uma coisa dessa, meu bem. - inclino para trás e a minha visão fica embaçada com as lágrimas - Só aproveite sua companhia e a ame muito, como sempre fez.
- Eu posso fazer isso. - comento.
- Amanhã leve-a na consulta e me conte depois. Sua mãe é muito importante para mim, mas ela precisa ficar em um lugar mais apropriado e com profissionais, menina.
Preciso de mais tempo, Deus.
- Eu sei. Obrigada, Sônia.
- Bom descanso. Durma bem.
- A senhora também.
Abro a porta do seu quarto silenciosamente e me encosto na parede. Sua respiração está calma e ritmada, parece tão em paz. Tão normal.
Queria tanto me aconchegar nela como antigamente, me sentia protegida, como se seus braços fossem minha armadura, não existia momento mais precioso no mundo.
Será que se eu a acordar, ela vai saber quem sou?
Uma nova onda de emoção me acerta com esse pensamento e preciso me distanciar para que o barulho que espreita na minha garganta, não a assuste.
Tampo a boca com as mãos e vou para a sala.
Procuro todos os exames e receitas dos últimos meses e guardo em uma pasta. Com a alma partida, chego a conclusão que talvez essa terça não seja um dia de folga, mas sim, de despedida.
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MATTEO Uma noite * livro 2
Romance📣 IMPORTANTE NÃO é necessário ler o primeiro livro, mas existem algumas referências que talvez você não entenda, mas que não impede o entendimentos desse livro. Livro 1 - Uma Noite https://my.w.tt/qhhC1yJhj5 até 29/04 ou completo na Amazon https:...