Gabriella
Assim que o motorista do aplicativo chega, junto tudo que preciso e saio de casa com a minha mãe.
Abro a porta para ela e me acomodo em seguida.- Aonde estamos indo?
- No médico, mãe. - respondo carinhosamente.
- Você está doente? - questiona preocupada e meu coração se parte.
Estremeço quando a gravidade dessa realidade me atinge e sorrio para ela, um sorriso que me destrói por dentro e me enfraquece, mas preciso ser forte por nós duas. Respiro devagar antes de responder, na tentativa de exibir uma tranquilidade que ela merece.
- Não, mãezinha. - faço carinho na sua mão - Toda terça-feira vamos em uma consulta para a senhora.
- Não diga bobagem, Gabriella. - ela se distância e vira a cabeça, ficando com os olhos fixos nos meus - Eu estou bem.
Não está não.
- Tudo bem. - sorrio novamente e ela retribui.
Em menos de trinta minutos chegamos na clínica e uma cuidadora nos aguarda na entrada.
- Como você está, Emília? - pergunta.
- Estou bem, Milena. - minha mãe responde naturalmente e fico surpresa. Como lembrou do nome dela e não de vir aqui toda semana?
- Oi, Milena. O Doutor já chegou?
- Sim, vamos entrar.
Minha mãe sai acompanhada e eu sigo sozinha para a sala dele.
- Bom dia, Gabriella.
- Bom dia, Doutor. - empurro a cadeira na sua frente e me sento.
- Como ela está? - ele encosta todo o seu corpo para trás e me observa, suas mãos se cruzam, apoiando o queixo e deixando o cotovelo sobre a mesa.
- Acho que a doença está avançando rápido demais. - falar isso em voz alta torna tudo mais real, transforma em uma verdade que não quero aceitar.
- Por que pensa assim? - questiona paciente.
- Ela está se esquecendo mais a cada minuto. - sinto um nó na garganta e respiro fundo - Está mais confusa e as vezes, ela fica com dificuldade de encontrar palavras simples enquanto fala e acaba ficando irritada.
- Muita frequência? - pergunta preocupado - Na última consulta ela estava melhor.
- Melhor? - retruco.
- Não estava tão agressivo como agora. - comenta - A evolução está muito acelerada, Gabriella.
Sinto minhas mãos suarem e passo insistentemente pela calça jeans, fico esfregando sem parar, enquanto minhas pernas ficam trêmulas.
- Por que ela está piorando desse jeito? - digo baixo e sinto a minha boca seca.
- Você trouxe os exames? - indaga calmamente e abro a pasta, entregando tudo a ele.
Após longos minutos, ele segura uma imagem específica e levanta contra a luz, acompanho seu movimento e sinto meu coração batendo mais forte, mais apressado.
- Veja. - diz - O cérebro da sua mãe está bastante encolhido, a deterioração do tecido é bem nítida, o hipocampo está quase impossível de ver. - ele ajeita o óculos e abaixa o exame, me observando cautelosamente - Ela avançou para um estágio quase final muito rapidamente.
- O que isso significa? - argumento - Ela pode morrer? - a última palavra sai dos meus lábios em um sussurro e levo a mão a boca.
- O Alzheimer causa uma degeneração, afetando e matando as células do cérebro e isso, com os passar dos anos e com o estágio da doença, afeta os sistemas neurais, o que causa muitas limitações e infecções. É grave.
- Ela pode morrer? - pergunto pausadamente.
- Infelizmente, sim.
Não.
- O risco é muito maior se o paciente não estiver sob cuidados profissionais o tempo todo. Ela precisa disso, Gabriella.
Sinto as lágrimas molharem meu rosto e não posso afirmar em qual momento comecei a chorar. Não sei dizer, a porra do exato momento, em que perdi meu chão.
Estou fora de mim. Sinto que o barulho que saiu da sua boca, não fez sentido, minha mente decidiu se proteger e embaralhar suas palavras.
Ela não vai partir.
Ela não vai.- Gabriella? - ouço sua voz ao longe, eu o vejo, mas não consigo reagir.
Não estou pronta.
- Gabriella. - seu timbre fica mais alto e o susto, em meio ao silêncio que mergulhei, me puxa para a terrível realidade.
- Quanto custa isso? - com a cabeça abaixada, murmuro.
- Existem várias casas de repouso, não posso te dizer com exatidão.
- Em média. - digo - Tem ideia? - ele pondera e suspira lentamente.
- O contrato, geralmente, é anual.
- Valor, Doutor.
- Uma média de vinte mil euros.
Santo Deus.
- Não tenho esse dinheiro. - confesso envergonhada.
- Sinto muito. - diz - Mas esse seria o caminho menos sofrido para a sua mãe.
- Eu sei.
- Tente ver com o governo ou algum empréstimo bancário. - sorrio secamente e me levanto.
- Vou pensar em alguma coisa. - digo - Posso agendar a consulta da semana que vem?
- Não será necessário. - ele fica em pé e vem em minha direção - Volte aqui quando precisar do encaminhamento para o lugar que conseguir instalá-la.
- E se eu não conseguir? - passo os dedos no rosto para afastar alguns fios desarrumados e grudados, e o encaro.
- Você precisa. - completa confiante - Você tem meu número? - assinto e ele continua - Me ligue se aparecer qualquer emergência.
- Obrigada. - agradeço e saio da sua sala, caminho até o pátio devagar, em busca da dona do meu coração todinho e torcendo para conseguir esconder qualquer emoção perto dela.

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MATTEO Uma noite * livro 2
Romance📣 IMPORTANTE NÃO é necessário ler o primeiro livro, mas existem algumas referências que talvez você não entenda, mas que não impede o entendimentos desse livro. Livro 1 - Uma Noite https://my.w.tt/qhhC1yJhj5 até 29/04 ou completo na Amazon https:...