Capítulo 26

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Gabriella

Assim que o motorista do aplicativo chega, junto tudo que preciso e saio de casa com a minha mãe.
Abro a porta para ela e me acomodo em seguida.

- Aonde estamos indo?

- No médico, mãe. - respondo carinhosamente.

- Você está doente? - questiona preocupada e meu coração se parte.

Estremeço quando a gravidade dessa realidade me atinge e sorrio para ela, um sorriso que me destrói por dentro e me enfraquece, mas preciso ser forte por nós duas. Respiro devagar antes de responder, na tentativa de exibir uma tranquilidade que ela merece.

- Não, mãezinha. - faço carinho na sua mão - Toda terça-feira vamos em uma consulta para a senhora.

- Não diga bobagem, Gabriella. - ela se distância e vira a cabeça, ficando com os olhos fixos nos meus - Eu estou bem.

Não está não.

- Tudo bem. - sorrio novamente e ela retribui.

Em menos de trinta minutos chegamos na clínica e uma cuidadora nos aguarda na entrada.

- Como você está, Emília? - pergunta.

- Estou bem, Milena. - minha mãe responde naturalmente e fico surpresa. Como lembrou do nome dela e não de vir aqui toda semana?

- Oi, Milena. O Doutor já chegou?

- Sim, vamos entrar.

Minha mãe sai acompanhada e eu sigo sozinha para a sala dele.

- Bom dia, Gabriella.

- Bom dia, Doutor. - empurro a cadeira na sua frente e me sento.

- Como ela está? - ele encosta todo o seu corpo para trás e me observa, suas mãos se cruzam, apoiando o queixo e deixando o cotovelo sobre a mesa.

- Acho que a doença está avançando rápido demais. - falar isso em voz alta torna tudo mais real, transforma em uma verdade que não quero aceitar.

- Por que pensa assim? - questiona paciente.

- Ela está se esquecendo mais a cada minuto. - sinto um nó na garganta e respiro fundo - Está mais confusa e as vezes, ela fica com dificuldade de encontrar palavras simples enquanto fala e acaba ficando irritada.

- Muita frequência? - pergunta preocupado - Na última consulta ela estava melhor.

- Melhor? - retruco.

- Não estava tão agressivo como agora. - comenta  - A evolução está muito acelerada, Gabriella.

Sinto minhas mãos suarem e passo insistentemente pela calça jeans, fico esfregando sem parar, enquanto minhas pernas ficam trêmulas.

- Por que ela está piorando desse jeito? -  digo baixo e sinto a minha boca seca.

- Você trouxe os exames? - indaga calmamente e abro a pasta, entregando tudo a ele.    

Após longos minutos, ele segura uma imagem específica e levanta contra a luz, acompanho seu movimento e sinto meu coração batendo mais forte, mais apressado.

- Veja. - diz - O cérebro da sua mãe está bastante encolhido, a deterioração do tecido é bem nítida, o hipocampo está quase impossível de ver. - ele ajeita o óculos e abaixa o exame, me observando cautelosamente - Ela avançou para um estágio quase final muito rapidamente.

- O que isso significa? - argumento - Ela pode morrer? - a última palavra sai dos meus lábios em um sussurro e levo a mão a boca.

- O Alzheimer causa uma degeneração, afetando e matando as células do cérebro e isso, com os passar dos anos e com o estágio da doença, afeta os sistemas neurais, o que causa muitas limitações e infecções. É grave.

- Ela pode morrer? - pergunto pausadamente.

- Infelizmente, sim.

Não.

- O risco é muito maior se o paciente não estiver sob cuidados profissionais o tempo todo. Ela precisa disso, Gabriella.

Sinto as lágrimas molharem meu rosto e não posso afirmar em qual momento comecei a chorar. Não sei dizer, a porra do exato momento, em que perdi meu chão.

Estou fora de mim. Sinto que o barulho que saiu da sua boca, não fez sentido, minha mente decidiu se proteger e embaralhar suas palavras.

Ela não vai partir.
Ela não vai.

- Gabriella? - ouço sua voz ao longe, eu o vejo, mas não consigo reagir.

Não estou pronta.

- Gabriella. - seu timbre fica mais alto e o susto, em meio ao silêncio que mergulhei, me puxa para a terrível realidade.

- Quanto custa isso? - com a cabeça abaixada, murmuro.

- Existem várias casas de repouso, não posso te dizer com exatidão.

- Em média. - digo - Tem ideia? - ele pondera e suspira lentamente.

- O contrato, geralmente, é anual.

- Valor, Doutor.

- Uma média de vinte mil euros.

Santo Deus.

- Não tenho esse dinheiro. - confesso envergonhada.

- Sinto muito. - diz - Mas esse seria o caminho menos sofrido para a sua mãe.

- Eu sei.

- Tente ver com o governo ou algum empréstimo bancário. - sorrio secamente e me levanto.

- Vou pensar em alguma coisa. - digo - Posso agendar a consulta da semana que vem?

- Não será necessário. - ele fica em pé e vem em minha direção - Volte aqui quando precisar do encaminhamento para o lugar que conseguir instalá-la.

- E se eu não conseguir? - passo os dedos no rosto para afastar alguns fios desarrumados e grudados, e o encaro.

- Você precisa. - completa confiante - Você tem meu número? - assinto e ele continua - Me ligue se aparecer qualquer emergência.

- Obrigada. - agradeço e saio da sua sala, caminho até o pátio devagar, em busca da dona do meu coração todinho e torcendo para conseguir esconder qualquer emoção perto dela.

MATTEO  Uma noite * livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora