MATTEO Uma noite * livro 2

Capítulo 61

Gabriella

Gostaria de ir visitar a minha mãe e por mais que a tenha visto ontem, parece uma eternidade quando encontro a casa vazia. Ainda não me acostumei com essa quietude da sua ausência, esse buraco estranho que ficou no peito. As vezes pareço estar no lugar errado, como se não pertencesse mais a este espaço sem ela.

Não posso ir até a clínica agora, não até virem religar a energia. Questionei o atendente sobre isso, até porque quando desligaram, não precisaram de algum morador na residência, mas aparentemente, preciso assinar algum termo, não sei. Estava irritada demais parar prestar a atenção que deveria. 

Conforme caminho devagar pelos cômodos e jogando as lembranças para um canto ignorado da minha mente, envio uma mensagem.

Obrigada por me ajudar de novo, Matteo — coloco o celular sobre a mesa da cozinha e segundos depois, o ouço vibrar e não preciso olhar para saber que é ele.

Sempre uma honra, foguinho

Releio alguma vezes, imaginando sua voz grossa e provocativa. Consigo imaginar perfeitamente os seus olhos claros e pequenos, sendo pressionados com o sorriso sempre fácil. Um risada baixa e linda, uma risada que percorre cada pedaço do meu corpo e aquece meu coração de tantas maneiras. Uma risada que anseio em cada encontro nosso.

A guinada que a minha vida deu depois que ele apareceu, beira o surreal. Como um anjo salvador, esse homem vem chutando do meu caminho todo obstáculo que aparece e mesmo que eu sempre tenha feito tudo no modo solitário, ter alguém por mim é uma sensação maravilhosa. Alguém que eu confio que irá me segurar em qualquer queda, qualquer rasteira que eu levar.

Você o ama.

Meu subconsciente grita uma verdade que não é surpresa alguma, pois só de pensar nele e em cada momento que passamos juntos, um sentimento arrebatador me invade. É  uma sensação tão forte e única, que até esqueço de respirar. Tão natural e tão diferente, que nem pensei ser possível existir. Como se nenhum homem fosse o certo, até ele chegar. Como se o meu coração reconhecesse o seu.

Claro que sei que existem coisas que o envolvem que desconheço, tenho alguma noção disso, mas uma alma tão boa como a dele, não pode guardar segredos tão obscuros. 

As vezes, tenho o pressentimento de que esconde coisas de mim, talvez para me proteger ou apenas vergonha de assumir algo, não faço idéia. Mas aquela cena aqui na sala, com a raiva repentina da minha mãe e o desespero de querer ir embora tão rapidamente, não deixa a minha mente. Em alguns momentos, tenho vontade de questioná-lo e tentar entender o que aconteceu, mas em outros, não quero ser invasiva e acabo ignorando outra vez. Deixando para outra hora, mas acredito que ele vai me contar o que quer que seja isso, quando estiver pronto. Até lá, sigo aguardando.

Uma vibração longa me assusta e olho para a tela, vendo seu nome brilhar nela.

— Matteo. — digo ao atender.

— Olá, Gabriella. — esse timbre ... Santo Deus — Tudo bem, querida?

— Sim. — respondo — E você?

— Muito melhor agora. — aquele maldito riso baixo ultrapassa tudo, como se ele estivesse aqui ao meu lado e como se eu fosse capaz até de sentir o calor do seu corpo tão próximo. Sempre tão perto e quente. Sempre tão perfeito — Está pensando em mim, foguinho? —  indaga com ironia, depois do meu silêncio por alguns segundos.

— Bem que você gostaria. — argumento e sei que entendeu o sarcasmo, pois uma gargalhada quase me ensurdece. Fecho os olhos rapidamente, mantendo esse som dentro de mim. O som da felicidade dele e nada nunca pareceu tão bonito. Tão correto.

— Posso ir até você? — pergunta, quando sua respiração se acalma um pouco, ainda acelerada pela risada alta.

— Você já invadiu minha casa no meio da madrugada ... — declaro me divertindo — Acredito que não precise mais da minha permissão. — finalizo e sorrio. Um repuxar de lábios que vem se tornando cada vez mais constante.

— Justo. — diz — Então posso chegar a qualquer momento. — provoca.

— Provavelmente. — digo.

— Então abre a porta, meu amor. Estou aqui na entrada com o nosso almoço.