Capítulo 20

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Gabriella

- Podemos conversar agora? - Matteo caminha lentamente, parando na minha frente.

- O que eu disse ontem era verdade. - digo baixo. Ele assente e abaixa a cabeça. Uma dor aperta meu peito e me enfraquece, mas não deixo isso visível. Não quero que ele perceba o quanto isso é difícil para mim.

- Ainda somos amigos, foguinho? - questiona triste.

- Não sei. Podemos ainda ser? - retruco.

- Eu gostaria de pensar que sim. - sorri, mas a alegria não chega ao seus olhos, é apenas um movimento automático dele, sem valor e sem calor. Uma máscara para esconder o que sente de verdade. Mas eu também estou fazendo isso, também estou omitindo.

Queria que minhas palavras não tivessem esse peso mórbido. Queria rir e me sentir bem. Coisa que era comum entre nós, agora é só uma interação estranha. Distante.

- Você me magoou, mas esse erro não deveria determinar o que somos um para o outro.

- O que quer dizer? - pergunta esperançoso.

- Vamos começar de novo. - concluo.

- Tudo bem. O que você quiser. - complementa com um sorriso mais verdadeiro e uma pequena, uma parte bem minúscula do meu coração, se aquece com isso.

- Nada de flerte. - levanto os dedos enumerando.

- Claro.

- Cala a boca e me escuta. - ele gargalha e o som é lindo. Ele ser tão lindo assim é uma merda. Torna tudo mais complicado.

- Ok. - Matteo faz sinal de silêncio e seguro o riso. Ele não deveria ser tão legal também.

- Nada de ciúmes. - ele revira os olhos e eu arqueio a sobrancelha em resposta - Algum problema?

- De forma alguma, querida. Por favor, continue.

- Nada de beijos. Somos amigos e vai ser somente isso.

- Mais algum ponto? - retruca divertido.

- Esses são os termos. E então? - pergunto - Está de acordo?

- Não, mas sim. - Han? Ele ri da minha expressão confusa e volta a falar - Não gosto dessas regras, mas se isso vai me manter perto de você, então estou de acordo.

As batidas no meu peito ficam mais urgentes e fica quase impossível respirar com ele me olhando dessa forma.

- Você está fazendo aquilo. - comento.

- O que?

- Essa coisa com os olhos. Pare de me olhar desse jeito.

- Não entendi.

- Você sabe do que estou falando, Matteo.

- Isso é você querendo ver o que não existe, Gabriella.

- Não seja ridículo. Nada de flerte. - digo. Ele afirma em entendimento e diz:

- Posso te levar para casa? -  recua alguns passos e abre a porta do carro.

- Sim. Obrigada.

Esse negócio de recomeçar provavelmente foi um ideia estúpida, mas gosto da companhia dele, até mesmo antes do nosso momento quente há algumas semanas. Matteo é engraçado e distraía minha mente para o turbilhão que rodeava minha cabeça todos os dias. É bom esse alívio que ele trouxe, quero isso de volta.

- Meu irmão vai se casar no começo do próximo mês. - comenta sorrindo enquanto dirige.

- Que legal. - respondo sinceramente - Isso já é semana que vem.

- Gostaria que fosse comigo. - declara.

- Ah, não. - balanço a mão - Eu nem saberia o que vestir e eu também nem conheço a sua família.

- Essa seria uma ótima oportunidade, então.

- Trabalho final de semana. - argumento.

- Acho que seu chefe não se importaria.

- Talvez, mas a falta de gorjeta me faria falta. - ele fica em silêncio e batuca os dedos no volante.

- Quanto você ganha em duas noites?

- Nem pense nisso. - digo brava.

- Só quero ajudar.

- Não.

- E você poderia se divertir um pouco.

- Não.

- Por favor, foguinho. Não quero ir sozinho.

- Vou pensar sobre isso. - interrompo cansada.

- Obrigado. - ele se vira rapidamente e uma covinha graciosa estampa sua bochecha quando sorri. Se controle.

- Eu sei que deixamos aquilo para trás, mas queria que soubesse que eu realmente sinto muito. - diz.

- Eu sei.

- Aquilo não vai mais acontecer.

- Não vai. - confirmo.

- Te prometo.

- Não somos namorados, Matteo. - vejo quando ele inclina o corpo, como se tivesse levado um soco e suspiro - Se você sumir de novo, vai continuar sendo meu amigo. A diferença é essa. Não existe nada além da amizade agora. Não vou ficar esperando um sinal seu.

Ele não responde e não fala mais nada até estacionar em frente a minha casa. Não sei o que ele queria ouvir, mas quanto mais isso ficar claro, menos trabalho teremos. Digo isso para mim também. Talvez de tanto repetir, eu comece a acreditar.

- Obrigada pela carona.

- Por nada. - as portas são destravadas e ameaço sair, quando sua mão segura meu braço.

- Só preciso me acostumar com isso, ok. Não é nada com você. - explica seriamente.

- Eu sei que não é nada comigo. - digo - Mas você precisa lidar com o que quer que se passe ai. - aponto para a sua cabeça e depois para o seu peito - E ai, também.

- Pode deixar. - ele afrouxa o aperto e continua - Boa noite, linda. Obrigado pela segunda chance.

- Boa Noite, Matteo. - dou um beijo na sua bochecha e saio. Fico na calçada o observando, quando ele leva a mão ao lugar exato em que meus lábios estavam e sorri. E enquanto ele vai embora, mais uma pequena parte do meu coração se aquece novamente com isso.

MATTEO  Uma noite * livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora