Gabriella
Assim que a médica informou que minha mãe estava bem, que não corria mais riscos, eu desabei. Sim, eu dobrei meus joelhos no chão imundo daquele hospital e chorei. As gotas salgadas escorriam pelas minhas bochechas e minha garganta estava tão irritava, tão sensível, que nem mesmo um bom chá resolveria e eu nem me importava, na verdade. Nada iria ser maior do que aquele instante. Aquele exato minuto em que o ar voltou para os meus pulmões e eu pude, enfim, respirar aliviada.
Naquele momento, eu estava feliz. Céus, eu estava tão completa, que não conseguia dizer nada quando pessoas passavam por mim e ofereciam ajuda. Eu não queria ficar em pé e aceitar as mãos esticadas, eu só queria ficar exatamente daquele jeito, vibrando de alegria, porque eu era só gratidão. Pura e inteiramente.
Minhas mãos cobriam meu rosto e eu sorria em meio as lágrimas. Meus dedos tremiam involuntariamente e eu parecia uma doida. Nunca fiquei tão satisfeita em ser vista assim.
Eu só queria gritar até ficar rouca. Quando a pressão no meu peito parecia que iria explodir, eu me contive. Estava em um hospital, santo Deus, não seria muito certo. Por mais que toda aquela agonia tenha dominado meus pensamentos durante horas, a minha mente buscava por uma libertação, precisa descarregar toda a preocupação que estava me matando. Nunca, em toda minha vida, houve um sentimento desse dentro de mim. Era tão forte e tão bom, que eu queria guardar em um potinho e lembrar para sempre do dia em que recebi de volta o meu maior presente. A mulher da minha vida.
Nunca poderia esquecer como meu coração batia acelerado, marcando cada batida como um novo começo. Ela estava bem, nós estávamos bem e nada mais interessava. Tudo estava perfeitamente como deveria estar, menos a minha pele, claro. Ela deve ter envelhecido uns dez anos com toda essa confusão. Posso até sentir as rugas nascendo.
Lembro de correr até a sala de espera, abrindo a porta com força e procurando por ele. Lembro de pensar que talvez, Matteo só tivesse ido ao banheiro ou que deveria ter saído para comer alguma coisa. Eu sei que estava faminta aquela hora, não antes. Antes eu não sentia nada além de desespero. Só queria fixar meus olhos nela pelo quadrado pequeno de vidro e vigiar. Ficar atenta e rezando por sua melhora. Que bom que isso aconteceu e eu estava eufórica. Queria contar tudinho para ele, ver o alívio transformando sua expressão melancólica, assim como fez comigo, mas o problema, foi que ele não voltou.
Então, eu entrava para ver a minha mãe e saia novamente esperando encontrá-lo. Repetia esse processo sem parar. Mandei até algumas mensagens, liguei diversas vezes, mas não tive retorno. Chamava até cair na caixa postal. Eu não entendi o que havia acontecido. Talvez fosse algum problema urgente dessa história de máfia, não sei. Eu estava bastante confusa e até um pouco chateada.
Aonde diabos ele estava? Essa pergunta rodeava a minha cabeça por vezes demais, até que se tornou quase insuportável, foi quando decidi entrar em contato com o pai dele outra vez, porque comecei a ficar preocupada demais.
— Ele está a caminho, menina. — Fillipo respondeu prontamente, como se o celular já estivesse em suas mãos — Deve estar próximo, acredito.
Cruzo os braços, relembrando a noite mais péssima que já vivi, enquanto espero Matteo aparecer. Estou sentada no primeiro banco da recepção, bem em frente a entrada do hospital. Assim que o vento frio da manhã arrepia a minha pele, ergo meu olhar.
— Foguinho. — diz ofegante, enquanto se aproxima — Que porra está rolando? — ele parece que foi atropelado. Suas roupas estão sujas e o suor pinga da sua testa, mas uma coisa em particular chama muito a minha atenção.
— O que aconteceu com a sua mão? — questiono ao ficar em pé e chegar mais perto — Aonde você estava seu maluco?
— Sua mãe está viva? — retruca e percebo quando seu corpo fica tenso, aguardado agoniado.
— Céus, sim. — respondo surpresa — Ela está bem, graças a Deus. — então, para a minha surpresa, Matteo se inclina e inspira fundo, começando a rir alto em seguida.
Fico em um total silêncio. Talvez eu tenha desmaiado em algum momento durante a madrugada e perdido parte da minha vida, porque não estou entendendo nada.
— Ele se enganou. — diz com a voz em um sussurro — Aquele médico se enganou.
— Estou um pouco assustada. — comento.
— Eu te amo tanto, querida. — ele sorri tão profundamente, de uma forma tão sincera, que a covinha aparece marcando seu lado direito e sorrio junto — Pedi para ele me avisar caso houvesse alguma mudança no quadro da Sandra e ele se confundiu, porque me disse que ela tinha morrido e eu ... — a curva dos seus lábios perdem aquele brilho e seu olhar triste me encara — Eu só ... Eu não consegui ficar aqui com a culpa me sufocando. Eu ... perdão, meu amor. Eu só precisava me afastar.
— Por isso você desapareceu? — pergunto.
— Eu não iria suportar perder as duas de uma vez. — seus ombros caem um pouco e chego mais perto dele — Fiquei sem rumo, desculpa.
Ignoro o sangue seco nas suas mãos e dou mais um passo na sua direção. Rodeio meus braços ao redor do seu corpo e o abraço forte. Ouço seu suspiro e sinto a urgência, a força com que se agarra a mim, apertando meus ossos como se eu fosse desaparecer. Retribuo da mesma maneira, inalando seu cheio e me arrependendo na mesma hora.
— Você está fedendo. — digo e a sua risada escandalosa vibra no meu peito, aquecendo meu coração como sempre faz.
— Silêncio. — uma senhora nos repreende alto e seguro o riso. Observo Matteo fazer o mesmo e isso faz com que eu tenha mais vontade ainda de gargalhar. Seu maxilar está todo travado, tão firmemente fechado, como se fosse quase impossível conter a sua felicidade. É inebriante.
E eu, nunca o vi tão sujo e tão bonito ao mesmo tempo.
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MATTEO Uma noite * livro 2
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