Capítulo 41

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Matteo

— Você sabia que Francisco tinha uma filha? — pergunto para meu pai assim que entro em seu escritório.

— Sente-se, Matteo. — ele suspira e apoia o charuto em um cinzeiro. A fumaça clara e fina percorre todo o ambiente, acompanho o caminho que ela faz ao me aproximar da cadeira vaga e me sento.

— Você sabia? — questiono novamente e estico as pernas, cruzando-as.

— Sim. — responde e me encara — A decisão de esconder isso de todo mundo foi da mãe da menina.

— Por que? Ela sabia no que ele era envolvido? — retruco curioso.

— Por que esse assunto? — indaga ignorando minha dúvida anterior.

— Perguntei primeiro. — digo e Fillipo revira os olhos, ficando em pé. Caminha até o armário no canto oposto e retira de dentro uma garrafa de whisky.

— Quer? —  pergunta e balanço a cabeça dispensando  — Pensei que havíamos combinado de não falar mais sobre aquele traidor. — diz ironicamente.

— Vamos falar sobre a filha dele. — respondo devolvendo a ironia. 

— Engraçado, menino. — ele leva a bebida até a boca e em um só gole, deposita sobre a mesa o copo vazio — Sandra era muito amiga da sua mãe, então ela sabia sobre a Cosa Nostra.

O que? 

Não lembro dessa mulher aqui em casa. — murmuro — Só na casa daquele velho e eu ainda era criança. 

— Sim. — diz — Foi assim que elas se conheceram, quando sua mãe iria buscá-los.

— Mas Sandra ficou pouco tempo, como ficaram tão próximas? — argumento confuso.

— As amizades da sua mãe eram todas dos Estados Unidos e quando se uniu a mim, vindo morar em Sicilia, ficou muito sozinha. — meu pai passa as mãos pelos cabelos, frustado ou magoado pelas escolhas passadas, não sei e enche o copo de novo antes de continuar — Apresentei algumas esposas de soldados, de membros do conselho, mas ela detestou cada uma. — ele sorri e seu olhar ganha um brilho diferente, uma felicidade que ficou mais forte que a saudade dessa vez — Ela era maravilhosa, um gênio tão forte e único.

Observo sua expressão longe e é nítido que o amor dele não diminui nem com a morte os separando, parece até mesmo estar se fortalecendo. Como é possível um sentimento tão grande assim? Que doideira.

Seu sorriso permanece por alguns segundos, enquanto gira a aliança no dedo. Atento e perdido em seus próprios pensamentos.

— Sandra conquistou sua mãe rapidamente. Ela era uma boa mulher, pelo menos nas palavras da sua mãe. Eu não conseguia imaginar o que aquela moça poderia ter em comum com aquele lixo para querer ficar perto dele — ele ri secamente e minha mente vagueia pensando no que disse. E não somos todos uns merdas até encontrar a garota certa?  Deus sabe do quão escuro estava a minha alma.

O que aconteceu, então? — pergunto.

— Francisco não a amava. Quando descobriu que estava grávida, a expulsou de sua casa e não permitiu sua entrada mais. — filho da puta. Eu estava certo, então.

— Quem abandona uma criança? — indago e sinto uma raiva percorrer meu corpo, um calor fodido ao pensar na Gabriella e nas dificuldades que enfrentou, nas escolhas que precisou fazer para cuidar de tudo sozinha, mas pensando melhor, elas se livraram de um fardo e tanto. Foi uma benção no final das contas.

— Não sua mãe, certamente. 

— Como assim?

— Sandra foi até ele novamente e tentou pedir alguma ajuda a Francisco. Ela já havia desistido dele, de algum comprometimento amoroso, mas precisava de dinheiro para criar a menina.

MATTEO  Uma noite * livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora