MATTEO Uma noite * livro 2

Capitulo 80

Matteo

Três dias antes

Seu eu soubesse há alguns anos, que toda aquela merda do sofrimento, toda a dor, aquele desejo de não estar vivo que pulsava dentro de mim sem descanso, me trariam até esse momento, teria aberto os braços e aceitado tudo. Teria ficado calado, quando os gritos arranhavam a minha garganta, teria sorrido, mesmo em meio aos caos, apenas por saber que valeria a pena. Eu certamente passaria por cada maldita coisa de novo.

Ficamos quase todo o dia deitados na grama. Queria ficar ali para sempre, onde apenas nós dois importava. Eu, mostrando para Gabriela em cada beijo, o quanto estava nas suas mãos e ela suspirando, enquanto inclinava mais o corpo, fazendo com que eu perdesse mais um pouco a cabeça. 

Eu parava por alguns instantes e a encarava. Porra, será que eu merecia alguém como ela? Uma pessoa tão boa e com a alma tão doce, enquanto eu, um cara que perdeu um pedaço da alma a cada disparo do revólver. A cada vida que eu tirava, me perdia mais um pouco.

Mas eu sei que mudei.

Sei que esse amor que pulsa sem controle dentro de mim, transformou quem eu era, mas será que mesmo com tanta imperfeição, sou o que ela precisa? Esses pensamentos rondavam pela minha mente naquele momento, mas bastava um sorriso dela e eu me perdia. Diabos, sim. Precisamos um do outro.
Eu preciso dela.

Lembrar que quase a perdi, me deixa sombrio, como seu fosse transportado novamente para uma realidade em que eu me odiava. Afasto mais uma vez essa sensação que parece estourar meu peito e a observo.

Os vidros do carro estão abaixados e o cabelo da minha garota, aquela bagunça linda, voa descontrolado, enquanto ela tenta afastar as mechas, rindo de um jeito que acelera meu coração. Ela é fodidamente perfeita. 

A maneira confortável que me sinto quando estou com ela, como se todos os meus pecados fosses perdoados, como se só de estar em sua presença, eu fosse já fosse um maldito merecedor. Porque é assim que me sinto. 

Renasci das cinzas e agora sou só fogo. 

Estou evitando pensar nas merdas que levam um pouco dessa minha alegria. Desvio qualquer pensamento que não seja bom. Não vou voltar para o passado mais. Aquela escuridão não vai mais chegar até mim, porque agora tenho a luz do meu lado. Nós passamos pelo inferno juntos e estamos a caminho do paraíso. 

Estou diferente. 

Cacete, eu me sinto mesmo mudado.  Talvez, seja porque o peso do que eu vinha escondendo tenha saído dos meus ombros e isso é um alivio. Como se agora eu pudesse respirar sem essa pressão me lembrando do quanto eu era um bosta e do quanto eu me rendi. Não que eu tenha me diminuído para caber nela, não isso. Eu apenas me moldei e essa foi a melhor decisão da minha vida.

O caminho de volta é escuro e cercado por árvores. É distante do centro, mas eu procurava uma paz para a minha família, então não poderia ter escolhido outro lugar. Os faróis demarcam cada deformidade do asfalto e reduzo a velocidade, quando a estrada fica estreita.

— Eu sei que ainda existem coisas que preciso saber. — abaixo o volume da música e apoio minha mão na sua coxa. 

— Sim. — digo e a observo rapidamente — Podemos fazer isso amanhã? 

— Sim. — comenta — Acho que não aguento mais tanta emoção hoje. — sua voz divertida, tão diferente de algumas horas, faz meu coração se apaixonar mais um pouco.

— Justo. — respondo e sorrio, quando sinto que seus olhos estão em mim — Eu amo você, foguinho. — sussurro e aperto meu dedos na sua carne macia, quando esse sentimento parece sufocar meu peito.

— Eu amo você. — repete baixo e aquelas três palavras e o que elas representam, se tornam as melhores do mundo, porque ela é a melhor do mundo e eu a amo pra caralho.