Capítulo 24

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Matteo

Acordo renascido.
Depois de uma noite sem pesadelos, um peso invisível que estava sobre meus ombros e pressionando, a todo momento, a minha mente, se foi. 

Achei que estava livre quando fui resgato pelo Tony, mas era ilusão, um sentimento enganador. Uma liberdade real e verdadeira é o que sinto agora. Não estou mais amarrado ao passado, cortei as cordas que me mantinham preso e porra, enfim posso respirar em paz.

Estou pronto.
Estou preparado para o amor que a tanto custo tentei negar.

Desço as escadas e caminho até a cozinha.

- Bom Dia, Sofia. - beijo seu rosto e corro para o balcão. Ela não é muito minha fã.

- Bom Dia. - ela passa a mão pela bochecha e me observa curiosa - Nada de piadas hoje?

- Saudades? - questiono. Ela bufa e me serve uma xícara de café.

- Minhas orações foram ouvidas. - murmura e se afasta.

- Acredito que sim. - digo e assopro o líquido quente.

- Matteo.  - giro o corpo lentamente e vejo meu pai encostado no batente da porta - Venha até o meu escritório.

Termino minha bebida e sigo até a sua sala.

- Pai. - digo.

- Sente-se. - me acomodo na poltrona a sua frente e o encaro.

- Sei que preciso explicar algumas coisas ...

- Não. - Fillipo me interrompe e cruza os dedos sobre a mesa - Não posso dizer que não me assustei com o que vi essa madrugada. - assinto e me ajeito no assento - Posso imaginar qual era o seu plano e não vou te julgar. Deus sabe que o seu motivo era forte.

- Obrigado. - respondo com a voz embargada.

- Ele se foi.

- Você o matou? - pergunto curioso com um nó na garganta.

- O que mais eu poderia ter feito?

Fico em silêncio.
Nada responderia esse questionamento de uma forma correta. Nada.

- Aquele homem tentou destruir nossa família. - ele abaixa levemente a cabeça e quando a levanta novamente, seus olhos estão marejados e seus lábios tremem. Meu coração se aperta tanto, que a dor se torna física, machuca  - Ele nos tirou sua mãe, filho. - uma lágrima dele cai sobre os papéis e eu nunca o amei tanto por ser tão transparente comigo - E ele quase levou você também, então sim. Eu o matei e faria tudo de novo.

- Obrigado. - agradeço, porque não consigo expressar nada além de gratidão. Meu pai me ajudou, mesmo sem ter conhecimento. Ele assumiu esse fardo e serei eternamente grato por isso. Estou me reconstruindo.

- Essa será a última vez que conversamos sobre o Francisco.

- Sim. - confirmo.

- Não quero mais o fantasma do passado rondando a nossa vida.

- Eu também não. - digo.

- Semana que vem estaremos todos juntos no casamento do seu irmão. - ele se levanta e fica ao meu lado - Vamos celebrar essa nova fase para todos nós e esquecer toda a desgraça que aconteceu nos últimos anos.

- Pode contar comigo. - fico em pé e o abraço - Eu te amo. - sussurro.

- Eu também, menino. Se sair novamente sem soldado, vou começar a ir junto com você aonde for.

Deus me livre.

- Isso não irá se repetir. - digo.

- Já ouvi isso antes. - diz sério.

- Mas agora é de verdade. - complemento e sorrio.

Passo a tarde toda discutindo com o conselho sobre Camorra. Eles querem toda a área Sul de volta. Não estão errados, para ser sincero. Batelli se foi há muito tempo e até o momento, ninguém reivindicou a sua cadeira.

Só preciso ser cuidadoso, não é porque não sabemos sobre um novo Capo, que significa que não exista alguém no comando. Não seria assim tão simples. Erradicar esses malditos não seria tão fácil.

- Você parece bem hoje. - Gabriella comenta.

- E eu estou mesmo. - respondo e sorrio abertamente.

- Sério. Você está diferente, Matteo.

- De um jeito bom? - pergunto.

- Você está mesmo diferente.

- Se você está dizendo... - declaro.

- Você usou droga? - questiona.

- Não me faça perguntas desse tipo já que não posso flertar com você.

- O que?

- O que? - questiono ainda sorrindo.

- Você é maluco, cara.

- E você adora isso, foguinho.

- Odeio. - ela se afasta para atender algum cliente e me abandona. Mentirosa.

- Oi. - viro ao ouvir uma voz diferente tão próxima e uma morena se senta no banco ao meu lado.

- Olá.

- Está sozinho? - pergunta e passa a língua pelos lábios. Se a tentativa era seduzir, não está funcionando.

- Acompanhado, quer dizer?

- Isso, gato. - ela ri de um jeito escandaloso e continua - Você é engraçado.

E você é bem óbvia

- Estou sozinho, então. - respondo.

- Legal, quer me pagar algum drink? - pergunta toda melosa e quase torço o lábio. Isso funciona com alguém?

- Não.

- Oi? - questiona confusa.

- Oi. - digo.

- Você é estranho. - comenta.

- Sou engraçado também. - complemento e pisco para ela.

Ouço uma risada alta e conheço esse som. É o melhor de todos.
Não preciso olhar para saber que Gabriella está acompanhando tudo de camarote. Danada.

A moça se levanta e vai embora, dou de ombros e me viro para a frente novamente.

- Isso foi esquisito. - ela passa um pano no balcão e suas bochechas estão vermelhas, um sorriso ainda brinca nos seus lábios e desvio o olhar. Tão linda e tão proibida.

Somos amigos.
Bom, por enquanto.
Preciso ficar bom nesse negócio de amizade primeiro.

MATTEO  Uma noite * livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora