Capítulo 93

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Gabriella

— Ela está bem mesmo? — pergunto pela terceira vez e bato o pé no chão repetidamente. Estou inquieta que mal consigo me controlar.

— Sim. — o médico coloca a pasta debaixo do braço e me encara — O organismo dela sofreu o colapso quando o veneno entrou no sangue, por isso foi entubada. Foi mais fácil lidar com o agressor dessa forma. Ela poderia ter crises respiratórias e até uma coisa mais grave se estivesse acordada.

— Achei que a minha mãe estava morrendo quando a vi assim. — sussurro.

— E poderia mesmo, mas ela estava lutando muito, mesmo sem saber. — ele sorri carinhosamente e sinto meus olhos arderem. Engulo em seco quando a minha garganta quase dá um nó e inspiro fundo — Não conseguimos medir a quantidade exata que foi ingerida, mas pela quantidade de vômitos, foi alta. Sua mãe expeliu bastante e isso foi a que a salvou praticamente.

— Sabe qual veneno foi? — questiono e sinto uma pontada no peito. Imaginar que alguém fez isso de propósito é tão ... meu Deus, não encontro nem as palavras certas.

— Uma amostra foi enviada ao centro de análise e em alguma horas terei a resposta. — ele pigarreia e abaixa a voz, avançando um passo e ficando bem próximo — Se isso não foi um acidente, preciso acionar a polícia. 

— Claro. — digo, fingindo uma confiança falsa — Mas minha mãe tem Alzheimer. — murmuro, como se isso explicasse o ocorrido. O doutor balança a cabeça veemente, entendendo aonde quero chegar — Pode ter até ingerido sem querer. — mentir assim me parte a alma, mas foi necessário.

— Já houve casos assim. — avisa e parece até mais aliviado. Talvez ele não queira aceitar a maldade que existe no mundo e prefiro assim. Quem quer que tenha feito isso, vai receber o que merece e definitivamente, estar atrás das grades seria um castigo muito simples — De qualquer forma, assinarei a alta amanha, tudo bem? Quero que seja observada mais um pouco.

— Sim, concordo. — meu celular vibra no bolso da calça e assim que vejo seu nome, me afasto lentamente — Preciso atender, obrigada pelas informações, doutor. — ele assente e sigo para o outro lado.

— Oi, Matteo. — sussurro.

— Foguinho. —  diz alto e afasto o telefone do ouvido.

— Por que está gritando? — questiono curiosa e sorrio.

— Porque quero que alguém ouça o que estou dizendo. — comenta e fico ainda mais confusa.

— Não estou entendendo nada. — digo e sua risada atravessa a ligação, fazendo meu coração dar um salto. Será que algum dia deixarei de sentir tanta coisa por ele? Acho que seria impossível. 

— Estou com a pessoa. — declara rápido, me pegando desprevenida. Matteo saiu daqui por um motivo e não preciso perguntar do que se trata para saber ao que se refere.

— Você encontrou? — retruco surpresa.

— Iria até o inferno para buscar o culpado por você, querida. — seu riso baixo arrepia a minha pele, mas apenas por um breve momento, porque a tempestade que se forma na minha mente é maior do qualquer outra coisa.

— É alguém da clínica? — replico e meu timbre soa gélido, tão tomado de frieza,  que no mesmo instante sinto meu corpo todo ficar tenso. Como se a raiva, uma coisa tão forte e pura, fizesse seu caminho em mim pela primeira vez. Nunca, em toda a minha vida, senti algo dessa intensidade. Parece queimar, como se todo o meu sangue pulsasse em uma só batida. Como uma marcha em plena guerra e é exatamente assim que me sinto.

— Ah sim. — ele ri novamente e ouço o barulho atrás, com a sua voz abafada esbravejando  — Fique aonde está, porra. — como se uma porta batesse com força na parede, sendo seguido por um silêncio depois.

— O que vai fazer? — pergunto — Com a pessoa? 

— A decisão é sua. — sussurra — Estou apenas mantendo a guarda.

— Não entendi. — murmuro.

— Eu poderia agir, foguinho. Mas acho que você iria aproveitar mais. — brinca e ouço um grito feminino.

— É uma mulher? 

— Bem ... eu não considero uma, mas sim. Uma das piores. — ele gargalha e afasto o aparelho de novo.

— Aonde você está? – indago.

— Na clínica, querida. — diz.

— Estou a caminho. — digo rapidamente, mas antes de desligar, posso escuta-lo falando com a vadia assassina.

—  Minha garota está vindo. — sorrio, embora por dentro eu seja somente brasa prestar a incendiar.

MATTEO  Uma noite * livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora