MATTEO Uma noite * livro 2

Capítulo 57

Gabriella

— Claro, posso aguardar. — suspiro pesadamente e encosto na árvore ao meu lado. 

Entrei na fila de espera de novo. Estou há exatamente trinta e sete minutos tentando falar com um atendente que possa ajudar ou que queira, já não sei mais. Não sei se é só má vontade dos funcionários ou se o processo em si dessa empresa é apenas uma porcaria mesmo. 

Precisei avisar no estágio que iria faltar. Não expliquei o motivo quando perguntaram. Okay, menti, até porque não é da conta de ninguém o meu problema pessoal e porque senti vergonha também, então só informei que não estava me sentindo bem. 

— Bom Dia, meu nome é Geoavana. No que posso ajudar? 

— Bom Dia. — minha voz sai mais alta do que pretendia, mas não é para menos. É quase uma honra ser atendida — Cortaram a energia na minha casa ontem.

— A senhora pretende religar? — obviamente.

— Sim, qual seria o valor exato da dívida? Preciso que seja feito hoje. — murmuro a última parte meio constrangida e engulo a vergonha — Não posso ficar no escuro, moça.

— Entendo. O código de instalação está atrelado a esse número mesmo? — confirmo e ouço seu teclado, enquanto digita coisas rapidamente.

Passei meus dados no inicio da ligação e fui transferida diversas vezes até agora. Espero que ela possa realmente me ajudar. 

É só uma maldito boleto, pelo amor de Deus.

— O pagamento será integral? — questiona.

— Sim. — respondo prontamente.

— Excelente. — diz — $ 174,89.

Puta que pariu

— Até que horas consigo efetuar?

— Precisa constar no sistema até as quatro horas da tarde.

— Certo. — viro o pulso para confirmar o horário e meu peito aperta com a proximidade do limite disso. 

 — Dessa forma, os técnicos conseguem ir ainda hoje, tudo bem?

— Tudo bem.

— Ótimo, vou encaminhar para o seu e-mail. Tenha um ótimo dia.

Espero que seja.

Encerro a chamada e sento no chão. 

Meus dedos se entrelaçam pela grama e me perco por um momento, deixo apenas minhas mente vagar sem destino. Observo as pessoas circularem pelo campus e fico pensando em quantos problemas deve existir na vida de cada um deles e ninguém faz ideia. 

Falando por mim, que estou sentada, provavelmente sujando minha calça e não me importo, pois tenho coisas maiores na cabeça.  

Levanto devagar após um tempo e jogo a mochila nos ombros. Não queria pedir mais esse favor para Matteo. Não queria ser dependente assim, mas mesmo que eu consiga um emprego em algum bar qualquer, teria dinheiro apenas amanhã, o que me obrigaria a dormir na casa dele outra vez. Claro que não seria a pior coisa do mundo, pelo contrário, mas como o casamento também é amanhã, ferra todo esse plano de um trabalho novo nesse final de semana.

Não tem outra opção, mas esse vai ser um empréstimo que vou insistir em pagar. Nem que eu precise enfiar cada nota goela abaixo naquela boca linda.

Matteo — envio a mensagem e fecho os olhos rapidamente. Um nervoso esquisito faz minha perna tremer levemente e me sinto um pouco mal, meio fracassada. Escondo esse sentimento vergonhoso e antes que eu volte para a sala, sua resposta chega.

Foguinho — uma única palavra e  sou transportada para a noite anterior, onde imagino seu timbre rouco próximo ao meu ouvido, sussurrando meu nome como um prece. Declarando ... AI MEU DEUS! Ele disse que estava apaixonado. Certo? Estava tão perdida nas sensações do seu corpo junto ao meu, da emoção e da saudade que senti do seu beijo, que não processei essa informação depois. 

Preciso dizer a ele. Preciso que saiba que sinto o mesmo. Nunca, em toda a minha vida, um homem preencheu tanto a minha mente e o meu coração desse jeito. Ele me conquistou em cada sorriso, em cada atitude bonita, em cada vez que salvou meu mundo tão rápido e com tanta confiança, que não sei dizer o instante certo em que esse amor nasceu. Ele simplesmente tomou parte da minha alma. É só o que consigo explicar, como se estivesse adormecido e acordou apenas por ele.

Inspiro fundo e prendo o fôlego. Eu o amo também e estou feliz por sentir isso. 

Poderia me ajudar com aquele lance da conta de energia, por favor? — envio e me solto um pouco, ignorando o mau estar que gela minha barriga. Matteo é meu amigo antes de tudo. Não preciso me sentir uma bosta por pedir isso.

Passa os dados da sua conta, querida. Vou te mandar agora, pode ser? — sinto minha garganta embolar com um provável choro, devido a bondade infinita dele e meu coração que não acreditei ser possível ficar maior, quase rasga meu peito pelo tamanho do carinho que sinto a cada segundo aumentando. 

E mais uma vez, uma pedra é retirada do meu caminho por ele e mais uma vez, o meu mundo ganha um pouco mais de cor e essa cor é azul. Assim como seus olhos.