Capítulo 44

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Gabriella

"As estrelas que ouvem e aos sonhos que são atendidos"

Fecho o livro, colocando o marcador na minha citação predileta, quando meu celular vibra sobre o balcão.

Estou aqui fora, foguinho

Com o coração leve após conseguir me distrair um pouco com alguma leitura, verifico se minha mãe ainda está no quintal pintando. Ela apenas maneia a cabeça, indicando que está tudo bem e continua sua arte.

O sol brilha sobre seus cabelos e o vermelho parece ainda mais quente, quase vivo. Tenho muito orgulho de ser tão parecida com ela, mesmo com algumas sardas e as tatuagens pelo corpo, a nossa semelhança beira o absurdo e eu não poderia ser mais feliz com isso. Espero ser a metade do que essa mulher representa para mim. Ela é maravilhosa.

Caminho devagar para fora e o encontro apoiado no corrimão. Seu pé repousa suavemente sobre o outro e nunca o vi tão a vontade, nem quando estava nu na minha frente.

Pelo amor de Deus, por que pensei sobre isso?

Porque é impossível não lembrar, idiota.
É impossível não lembrar do gosto do seu beijo ou do peso da sua mão sobre o meu corpo, toda vez que fixo meus olhos nele. É impossível, de verdade. Por isso é um caminho sem volta se envolver com um amigo. Nada nunca será como antes, porque você sabe o que vem depois.
As lembranças.
As malditas imagens.
E essa nem é a pior parte.
A vontade de repetir cada segundo daquela noite martela na minha mente  em cada momento que percebo o desejo escondido nos seus olhos ou na forma como seu corpo se inclina para mim, mesmo sem intenção, apenas porque precisa se aproximar mais. Sei disso, porque é o que acontece comigo  também.

- Gabriella. - ele se desencosta e coloca as mãos no bolso da calça.

- Matteo. - respondo.

- Vou acreditar que está corada por causa do calor. - diz sorrindo.

- É exatamente por isso. - digo - Está muito quente. - explico.

- Imagino que sim. - retruca e percorre minhas pernas lentamente - Você fica bem de saia. - elogia e sorri, trazendo para a conversa a sua covinha perfeita. Impressão minha ou agora ficou mais quente?

- Obrigada. - agradeço e tento, com todas as minhas forças, omitir o quanto esse cara me afeta.

- Está tudo bem lá dentro hoje? Como sua mãe está? - pergunta preocupado e mais um pedacinho do meu coração se torna dele. Cada atitude, cada semblante sincero, cada vez que vejo o reflexo do que eu sinto espelhado nele, me leva a mais perto desse sentimento forte e puro que venho fugindo.

- Sim. - murmuro - Está mais calma hoje, obrigada. - ele assente e puxa um papel dobrado do bolso.

- Visitei os lugares que pediu. - diz - Fui em outro que não estava na sua lista. - seu sorriso fica grande e seus olhos se apertam com o movimento, deixando aquele horizonte azul mais bonito ainda - Eu acho que ele é o melhor. Sério. Você viu as fotos? - questiona empolgado.

- Eu vi, é incrível mesmo. - digo e sua animação vai diminuindo ao perceber meu desconforto - Não posso pagar por um lugar daquele, Matteo. - confesso - Bem que gostaria, parecia lindo.

- Vem até aqui, foguinho. - diz sério e estica o braço.

Ando até ele, um pouco receosa, mas me aproximo e cruzo nossos dedos em um aperto íntimo.

- Oi. - digo.

- Não quero que pense no dinheiro. - declara pausadamente - A questão aqui é maior que isso. - ele solta nossas mãos e me abraça carinhosamente, sussurrando próximo do meu ouvido - Esse é o melhor lugar. Sua mãe merece isso, certo? - indaga.

- Claro. - confirmo - Mas vou demorar mais para te devolver, ainda mais sem emprego. - digo constrangida, mas como seu queixo está sobre a minha cabeça, ele não consegue perceber minha reação e a vergonha que ameaça me cobrir.

- Isso não é uma dívida, linda. - empurro seu peito delicadamente e o encaro surpresa, olhando diretamente para o oceano parado na minha frente - Isso é só a ajuda de um amigo que se importa muito.

- Matteo. - digo emocionada ao sentir o peso desse turbilhão de sensações me confundir.

- Apenas aceite, por favor. - pede e segura minha cintura, apertando levemente os dedos.

- Não sei. - comento - Parece muito.

- Então te peço uma coisa em troca. - sorri maliciosamente.

- O que? - retruco curiosa.

- Você vai ter que ir ao casamento do meu irmão comigo nesse final de semana.

MATTEO  Uma noite * livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora