Capítulo 70

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Gabriella

Mal dormi durante a noite.

Passo até depressa pelo espelho, pois sei que meu reflexo está desesperador. Posso sentir a tristeza curvando meus lábios para baixo e falta de um descanso decente inclinando meu corpo, como se o simples movimento de estar em pé, necessitasse de um grande esforço. 

Não estou bem.

Rolei pela cama algumas vezes, mas nenhuma posição trazia o conforto que o meu coração machucado precisava. Lágrimas caiam e molhavam meu travesseiro, mas eu não conseguia parar. Uma torneira havia sido aberta e minhas mão estavam atadas para fecha-las. Então, eu apenas me permiti sentir. Não lutei contra a dor, eu a absorvi. Mantive dentro de mim o sofrimento, porque era mais fácil do que tentar entender perguntas das quais não tinha a resposta. 

Lembranças do nosso último encontro, antes desse desastre, serpenteiam pela minha mente. Seu sorriso bonito e suas palavras que pareciam tão sinceras, tão cheias de sentimento, faz com que eu me sinta humilhada. Uma sensação de ter sido enganada queima meu peito e o ardor na garganta, após o meu grito de angustia, só torna tudo uma situação digna de pena.

Céus, estou péssima.

Desço as escadas devagar com o cobertor no ombros. Coloco o celular sobre a mesa e me sento no sofá. Ainda está cedo, o sol nem nasceu, mas não vejo sentido continuar buscando por um sono que não vai vir. A escuridão me levou alguns poucos minutos durante a madrugada, mas nada que fizesse os acontecimentos se enfraquecer na minha cabeça. Eles continuam cada vez mais fortes e sinto que não serei capaz de fazer outra coisa, até que isso se resolva. Até toda essa confusão faça sentido. Eu não poderia ter imaginado tudo. Ele até disse que me amava, porra. Não sou ingênua assim e Matteo, definitivamente não parece ser tão cretino a esse ponto, ou é? Não sei. Definitivamente, não sei de mais porcaria nenhuma.

Não ligo a televisão. 

Quase nem respiro. 

Por um tempo, acreditei que esse tipo de dor, a dor do amor, fosse coisa de gente fraca, dependente. Na minha lógica, era tudo muito simples. Não deu certo? Vida que segue. Ninguém pode morrer por ter o coração partido. Isso não existia no meu mundo e eu não poderia estar mais errada, porque nesse exato momento, esse tormento parece corroer meus ossos. Um pesar que machuca sem parar. Agora faz sentido todas as letras tristes e canções sobre isso. É realmente uma tristeza profunda, tão intensa que se torna física.

Aperto os braços ao redor da barriga e fecho meus olhos.

Ele iria me matar

Sua intenção era clara e direta. Matteo sabia quem era meu pai. Um homem que nem mesmo cheguei a conhecer. Seu tom duro quando disse o nome dele, como se deixasse um gosto amargo na boca, confunde ainda mais tudo que presenciei. Por que me envolver nesse jogo sujo? Eu não pedi por isso, eu nem, ao menos, mantinha qualquer relação com ele, obviamente.

Quanto mais penso, menos entendo. 

Jogo o tecido grosso para o lado e caminho até a cozinha. Coloco a água para ferver e abro o armário em busca de algum chá. Preciso acalmar essa bagunça dentro de mim antes de ir encontrá-lo. Depois de sair carregando uma caneca fumegante, volto para a sala, justo quando meu aparelho vibra e seu nome estampa minha tela.

Fico decidindo entre espiar ou não, e por mais que eu queira que ele se afaste, que fique longe, uma parte minha sente medo de que isso funcione. E, por mais que queira isso,  ainda não estou preparada para a sua partida.

Não me odeie, foguinho — vencida pela curiosidade, leio sua mensagem e como se ainda fosse possível, sinto meus olhos se encherem de água. Eu nunca faria tal coisa. Como posso desprezar o homem que segura meu coração nas mãos?

MATTEO  Uma noite * livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora