Capítulo 50

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Gabriella

Ontem quando fui embora da clinica com o coração em pedaços, mal podia imaginar que o restante do dia seria um completo desastre. 

Entrei em casa sozinha e a sensação de vazio que me atingiu foi horrível, era como seu eu fosse uma estranha e não pudesse mais reconhecer esse lugar. Infelizmente, as coisas seriam diferentes e precisaria me acostumar.

Sabia da promessa que fiz a minha mãe, de que a minha vida valeria a pena, que não abriria mão de mais nada e a deixaria orgulhosa por não ser mais tão entediante, mas a verdade é que a minha vontade, naquele momento, era de me enrolar nas minhas cobertas e ficar quieta, ouvindo somente o som da minha respiração. Ficar ali parada, apenas existindo.

Foi um pensamento meio deprimente, mas me permiti ficar derrotada naquele momento.

Não sei quando me entreguei ao sono, talvez em meios as lágrimas que ainda insistiam em cair ou a fome que me acertou, mas estava com muita preguiça de levantar. 

Com a fraca luminosidade vindo da rua  e iluminando um pouco o ambiente, acordei algumas horas depois. Caminhei até perto da porta e acendi a luz, mas não estava funcionando. Fui até o banheiro e também não funcionou. 

Mas que diabos?

Alguns segundos depois, as engrenagens da minha cabeça me lembram de uma coisa.

Não paguei a porcaria da conta.

Comecei a rir descontroladamente, uma risada perturbada que até me assustaria, se eu já não estivesse fora de mim. O que mais falta acontecer?

Procurei pelo meu celular e o encontrei jogado no chão, ao lado da minha cama. 

Descarregado. Óbvio.

Ignorei a raiva que percorreu meu corpo, que queimava tudo tão violentamente e desci os degraus devagar. Pela sorte que rondava a minha vida, não quis arriscar tropeçar e acabar quebrando o pescoço no processo.

Quanto infortúnio. Santo Deus.

Ainda bem que minha mãe já não estava mais aqui, seria menos pior lidar com tudo isso sozinha. 

Fiz um lanche rápido e enquanto mastigava, em meio a penumbra, fazia meus planos.

Amanhã cedo iria arrumar um emprego, um de preferência que tenha gorjetas, assim conseguiria colocar a conta em ordem e tentar não morrer de fome até o pagamento.

Coloquei a louça na pia e subi as escadas novamente. Escovei meu dentes no escuro e me deitei outra vez. Estava me sentindo um fracasso e só quis me desligar, esquecer.

Não lembro se sonhei, talvez meu subconsciente estava me poupando, não sei.

Acordo na madruga com um barulho e abro os olhos assustada.

— O que está fazendo aqui? — grito ao ver Matteo parado, como um louco, no meio do meu quarto. Sua silhueta é inconfundível, até mesmo com a fraca luz.

— Você sumiu, fiquei preocupado. — sussurra tristemente  — Agora só me sinto um idiota. — sinto o constrangimento no seu timbre grosso e me sinto mal na mesma hora. Ele estava preocupado comigo.

— Estava sem bateria. — explico e me sento, puxando a coberta até cobrir minhas pernas.

— Que penumbra é essa? — pergunta rindo — Não está funcionando o interruptor, querida. — diz e aponta a lanterna do seu celular direto para o meu rosto, abaixo um pouco a cabeça incomodada com a claridade repentina e respondo envergonha:

— Não paguei a conta. — murmuro envergonhada.

— O que?

— A conta de luz. Não foi paga. — e o pouco que sobrou de dignidade na minha alma, vai embora agora. Sim, querido, Sou pobre. Ouço seu suspiro alto e o encaro.

— Arruma suas coisas, foguinho. — ordena firmemente.

— Por que? — questiono confusa.

— Porque você vai para a minha casa.

— Não vou não. — digo.

— Não pode ficar aqui desse jeito. — retruca inconformado e passa as mãos pelo cabelo, se sentando ao meu lado.

— Vou resolver isso pela manhã. — respondo irritada. Não com ele,  mas com o universo, na verdade. Acho que ele adora me ver passando por perrengue, não é possível.

— Arruma suas coisas. — repete e permanece olhando para frente. Viro a cabeça lentamente e o encontro com os olhos fechados — Por favor, é perigoso de tantas maneiras que não consigo nem enumerar para você agora. Pode fazer o que estou pedindo, Gabriella?

— Fique aqui comigo, então.  — peço e ele se move até estar de frente para mim — Prefiro que seja dessa forma. — coloco minha mão sobre a sua perna e continuo —  A não ser que não seja seguro estar com você.  — o som baixo da sua risada é lindo e como um feiticeiro, sua magia me desperta, fazendo um dia péssimo, não ser mais tão ruim assim.

MATTEO  Uma noite * livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora