Capítulo 29

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Gabriella

- Vai se foder. - digo e saio apressada de perto dele.

Ouço sua risada alta enquanto caminho rapidamente e minhas mãos tremem tanto, que quase não consigo levantar a base de madeira que me dá acesso a parte interna do bar.

Porco imundo.

Por um minuto, fui idiota o suficiente para acreditar que ele teria uma atitude decente. Quanta inocência.

- Ei. - nem sua voz é capaz de me acalmar agora. Nem esse rosto perfeito e lindo. Nem isso.

- Agora não, Matteo. - esbravejo e encho um copo com uma dose de tequila, entornando a bebida em segundos. Como alguém pode ser tão podre daquele jeito? Como pode esmagar minhas esperanças dessa forma? Filho da puta.

- Que tempestade é essa na sua cara? - questiona me ignorando e apoiando o corpo sobre a bancada, ficando próximo demais.

- Só estou com sede. - retruco.

- Foguinho. - diz.

- O que?

- O que aconteceu? - pergunta preocupado e por um mísero momento, deixo esse carinho me aquecer.

- Não aconteceu nada. - sorrio tão falsamente, que ele revira os olhos e sobe no balcão, pulando para o lado de dentro.

- Você não pode ficar aqui, cara. - Pietro fala alto da outra ponta.

- Tente me tirar, então. - Matteo grita de volta - Gabriella, vem comigo, querida.

Ele não espera sequer uma resposta minha, segura meu braço com delicadeza e empurra a porta do estoque. Estou tão surpresa pela sua reação e por tudo que aconteceu, que fico calada.

Assim que entramos, ele empurra um carrinho encostando sobre a porta e travando a entrada de qualquer outra pessoa.

- Agora me conte.

- Não tenho nada para dizer. - explico.

- Não dificulte as coisas, linda. Eu vi daonde você veio e consigo imaginar com quem estava. - ele segura minha mão e me encara intensamente, o brilho assassino que vejo é bem novo, nunca vi seus olhos enloquecidos assim - Posso esperar que você me diga ou posso descobrir sozinho.

Fico em silêncio.
Continuo em silêncio.
Nenhuma maldita palavra.

- Tudo bem, então. - ele ameaça sair, mas não posso permitir que ele divida o mesmo ar com aquele demônio, preciso ser sincera.

- Minha mãe está muito doente. - digo. Ele para de se mover e se vira para mim. O olhar malvado é substituído por algo terno, algo tão bonito que me enche de um sentimento bom, mas ainda assim, não é o bastante para me fazer esquecer. Sinto as lágrimas queimarem, nublando minha visão na mesma hora e me sento no chão.

- Foguinho.

- É isso que faço nas minhas folgas, Matteo. Vou a consultas. - ele suspira e se arrasta, sentando ao meu lado.

- Não fazia ideia. Sinto muito.

- Eu também.

- Por que estava tão brava? - seu timbre doce me emociona ainda mais e me viro.

- Não se esconda. - diz e sinto seus dedos no meu pulso, segurando levemente - Gabriella. Confia em mim, por favor. Me fala o que está acontecendo.

- Ela está morrendo.

- Meu Deus. Sinto muito mesmo, linda. - ele levanta meu braço e beija minha mão - O que ela tem não tem cura?

- Ela tem Alzheimer. - fungo nada discreta e olho para ele - Está em um estágio muito avançado e o tratamento para que minha mãe termine seus dias mais confortáveis e com menos dor, é muito caro.

- Você foi pedir um empréstimo para o seu chefe. - ele liga os pontos e assinto confirmando - O que ele fez?

- Ele iria me ajudar. - digo - Eu fiquei tão contente, tão aliviada. - bato minha mão na testa e murmuro - Sou tão imbecil.

- Você não é nada disso, foguinho.

- Naquele momento, eu fui. Por que pensei que um homem horrível como ele, faria algo de bom? Porque sou uma imbecil. - declaro derrotada.

- O que ele fez? - sinto sua postura enrijecer e me levanto.

- Deixa para lá, por favor. Obrigada por tornar essa loucura menos pior, estou me sentido melhor já. - comento e sorrio.

- Conheço seu sorriso verdadeiro, garota, então não me vem com essa. Diga. - ele fica em pé e segura meu rosto, olhando fixamente para mim.

- Marco fez uma proposta e se eu aceitasse, bancaria tudo por cinco anos. - ouço quando sua respiração aumenta e ele trava o maxilar. Nunca o vi assim. Nem mesmo com Luca.

- Qual?

- Não importa. Não aceitei de qualquer forma. - respondo.

- O inferno que não importa. Diga. - Matteo passa as mãos pelo cabelo e anda de um lado para o outro. Parecendo um cão raivoso.

- Ele queria um filho.

- O que?

- Um filho. - repito - Ele quer um herdeiro ou algo assim.

Não percebi quando ele abriu a porta novamente, mas quando sua voz soou como trovão, não questionei, apenas obedeci.

- Pegue suas coisas e vai embora agora, Gabriella. Avise aos clientes que o bar fechou.

- O que você vai fazer? - pergunto apavorada.

- Vou destruir esse lugar.

MATTEO  Uma noite * livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora