Capítulo 45

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Gabriella

— Tudo bem. Eu vou ao casamento com você. — respondo e sua mão ainda continua na minha cintura. O aperto leve queima minha pele e estremeço quando seus olhos me encaram de um jeito intenso. Ele sorri e, automaticamente, sorrio também. É como se cada toque dele, por menor que fosse, causasse reações que não posso controlar. Como se meu corpo sempre me traísse por não obedecer a minha mente. Prometi a mim mesmo que um relacionamento entre nós não seria o certo agora, que o momento que estou passando poderia atrapalhar algo incrível, mas quando Matteo me observa desse jeito,  tão profundo e tão cheio de calor, faz com que eu me sinta única e tão especial, a ponto de jogar tudo para o alto e navegar nesse mar desconhecido com ele. Apenas velejar sem destino nessa onda e esquecer qualquer pensamento racional.

— Simples assim? — questiona feliz e o repuxar do seu sorriso deixa a covinha do lado esquerdo tão marcada, tão bonita, que faz meu coração palpitar mais rápido. 

Por que não consigo parar de pensar nele dessa forma? Eu tinha o poder disso antes, caramba. Agora parece que meus pensamentos estão enlouquecidos.

— Você fez muito por nós. — digo agradecida — Nada do que eu fizer será  o bastante, Matteo. Sério. 

— Foguinho. — seus dedos levantam meu queixo e nossos olhos se encontram — Não quero que pense que me deve alguma coisa. — fico em silêncio, ruminando suas palavras e após alguns segundos, balanço a cabeça em entendimento.

— Obrigada. — agradeço novamente.

— Você já disse isso, bobinha. — ele bate fracamente o dedo na ponta do meu nariz e me afasto um pouco, recuando um passo pequeno para trás.

— O que é isso na sua mão? — pergunto curiosa.

— Ah, sim. — ele abre o papel e me entrega — É uma lista do que precisa para a sua mãe poder dar entrada na clínica. — começo a analisar o documento e sinto meus olhos arderem.

— Exames, remédios, receitas ... quanta coisa. — vou enumerando os itens e uma dor aperta meu peito com uma tristeza que eu pensei estar preparada para sentir — Acho que não consigo fazer isso. — murmuro derrotada.

— Fazer o que? — indaga confuso e diminui a distância que eu havia colocado entre nós.

— Isso. — sussurro — Ficar sem ela. — confesso e uma tensão pressiona minha garganta quando seguro o choro. Cerro os lábios para não desmoronar na sua frente e continuo — Acho melhor eu entrar, minha mãe não pode ficar sozinha.

— Gabriella. — ele se adianta e eu me afasto um pouco outra vez — Você não precisa ser forte o tempo inteiro, linda. — diz e percebo quando seus ombros caem, talvez pela minha atitude inesperada ou pela comoção que deve estar estampada na minha cara. Não sei.

— Não sou, Matteo. — digo — Olha para mim, estou um desastre e ainda nem conversei sobre isso com ela.

Estar tão perto assim dessa separação com a minha mãe, machuca como o inferno. Sabia que iria acontecer, mas só evitei pensar. Fiquei postergando isso na minha mente, enrolando meus pensamentos, mas a realidade está na minha porta agora e não tenho como fugir mais. 

— Seria estranho se isso não te fizesse sofrer, não é?  — ele se aproxima novamente, insistindo em estar perto, demonstrando seu carinho a todo estante e segura minhas mãos com força. O calor da sua palma estendida sobre a minha, encaixando tão perfeitamente como nunca, me lembra que não estou desamparada.  — Você a ama, foguinho. 

— Lógico. — interrompo.

— Eu sei, estou afirmando isso, querida. — comenta ironicamente e ri. O som da felicidade que ele traz para momentos como esse, com esse comportamento debochado, é sempre capaz de me tirar de qualquer escuridão que eu esteja mergulhando — Pode chorar se quiser. — declara.

— Não quero. — digo sinceramente — Não mais. — sorrio para ele e as lágrimas que queimavam meus olhos, junto com o nó na garganta, se dissipam rápido e em como em todas as vezes, esse homem salva o meu dia de uma forma que nunca pensei precisar. 

Elevo meu corpo, ficando nas pontas dos pés e encosto meus lábios nos seus. Seus olhos se fecham e ele sorri sobre a minha boca. Um beijo rápido, mas que significa demais. Pelo menos para mim.

— Obrigada por tudo. — sussurro e seus braços me rodeiam na mesma hora, espremendo e me tirando o ar.

— Quero te dar o mundo, foguinho. — anuncia baixo no meu ouvido — E estarei pronto para isso quando você estiver. — sinto a sua respiração no meu pescoço e seu perfume, tão masculino e inebriante, inicia uma tempestade dentro de mim que não posso enfrentar agora.

Inspiro profundamente e com as palmas das mãos na sua barriga, o empurro delicadamente para trás e a sua íris, sempre azul e tão clara, dessa vez parece preta e até menor, transformada pelo desejo embriagador que nos corrói, célula por célula. 

Céus.

— Tenho que entrar. — pronuncio e ando de costas, ficando parada rente a porta e o encarando de longe. 

— Eu também. — diz com uma rouquidão absurda e sorri de lado. Ele caminha vagarosamente até seu carro, tão despreocupado e tão lindo que sinto que posso implodir. Santo Deus. 

Suspiro, presa nesse campo elétrico que criamos e que me leva ao extremo a cada maldito segundo e fecho a porta.

MATTEO  Uma noite * livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora