Capitulo 89

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Matteo

Vagueio pelo centro a pé como um maldito andarilho. Acho que não seria capaz de dirigir aquela hora. Nem se eu quisesse, na verdade. Depois da confirmação da morte dela, passei pelas portas do hospital e corri sem parar. 

Corri até meus pulmões queimarem. 

Corri até sentir meus músculos gritarem em agonia. 

Corri até afastar a dor que sufocava meu peito. 

Corri até minhas pernas fraquejarem. 

E ainda assim, nada mudou. Nada disso levou embora a sensação de merda instalada bem funda no meu peito. Continuo me sentindo vencido, derrotado.
E isso é horrível. É como um peso silencioso que maltrata e percorre cada fibra do meu corpo, só para me lembrar o quanto fodido eu sou. Levando um pedaço de mim mais para baixo a cada segundo.

Achei que estava livre.
Uma tolice.
Pessoas amaldiçoadas não se libertam. Elas simplesmente arrastam a escuridão, assim como eu, para a vida dos outros.

Perdão, Sandra.
Perdão, foguinho.

Eu me esforcei.
Porra, eu me moldei para ser melhor, mas não tenho conserto. Agora posso ver.
Sou quebrado. Estou tão estragado que o sentimento bom está se transformando em raiva. Meu sangue borbulha.
Talvez eu não tenha sido feito para felicidade. Talvez eu seja só o comissário de coisas ruins. Como se a morte gostasse da minha companhia e não quisesse me abandonar. É o que parece.

Gabriella nunca vai me perdoar. Merda, nem eu mesmo consigo. Como poderia encará-la novamente, se eu nem posso ser capaz de me olhar no espelho?

Eu a perdi. Eu sei. E mereço cada pedaço desse sofrimento.

Mereço sentir esse pesar e sofrer as consequências. Talvez eu não tenha sido feito para a felicidade mesmo, isso é certo. Talvez a minha alma tão condenada, seja apenas para infligir dor em mim e em quem estiver ao meu lado, porque eu prometi.

Droga, prometi com a minha vida que cuidaria delas. Promessa vazia. Olhei nos seus olhos e prometi que estariam em segurança, mas falhei com força. Eu não sou de desistir, mas, nesse momento, joguei a toalha. Decepcionei da pior forma a única pessoa que já amei, a única mulher que teve todo meu coração. Eu realmente não a merecia. Isso estava errado desde o início, por que o final seria bom?

Preciso aceitar isso. 

Preciso aceitar que não sou bom para ela, por mais que isso me machuque como o inferno, eu acabei fazendo o que pretendia quando a conheci. Eu a destruí.

Cerro os punhos com força e estico o braço até encontrar a parede ao meu lado. Soco até sentir minha pele se rasgar. Até que o sangue manche tudo e eu desconte essa essa frustração que me invade. Bato e bato de novo, até que minha mente se anestesie. Enterro minha mão no concreto e a dor se alastra pelos meus dedos. Abraço com gosto essa agonia. Essa penitência é bem vinda. Envergo o corpo para baixo em busca de ar, recuperando o fôlego brevemente, mas apenas para começar tudo outra vez.

Meu celular começa a vibrar novamente e ignoro. Sei quem deve ser, mas não estou pronto. Não estou pronto para ouvir a sua voz ainda. Não estou nem fodidamente perto disso.

Os raios do amanhecer clareiam a rua e algumas pessoas me observam curiosas. Estou um lixo. Estou suado, ofegante e bem provavelmente, parecendo um maluco. Maravilha, é como me sinto realmente. Auto piedade não resolve as coisas, sei disso também. Só que quando não se tem mais nada, o que vem a seguir? É só o fundo do poço, cada instante mais distante da luz.

— Cara...  Precisa de ajuda? — um garoto cutuca meu ombro ao perguntar e inclino meu corpo, até estarmos nivelados na altura e o encaro.

— Sabe ressuscitar alguém? — indago com sarcasmo e sorrio —Mano, porque isso sim iria ajudar. — um riso amargo escapa dos meus lábios e ele recua um passo, depois outro, até se afastar completamente. Olhando para trás alguma vezes, com medo de um maluco fodido. No caso, eu mesmo.

Meu telefone volta a vibrar e puxo rapidamente do bolso interno da calça. O nome dele pisca na tela e atendo. Ótimo. Pode apontar o dedo na minha cara, eu não mereço nada diferente. Fui descuidado e confiante demais, e isso custou o amor da minha vida.

— Fala, Fillipo. — resmungo.

— Gabriella está atrás de você, aonde se meteu?  — pergunta preocupado e aquele sentimento aflito, acerta em cheio meu corpo. 

— Estou perdido. — sussurro e nunca fui tão sincero. Estou realmente no mais profundo buraco. Minha garota, eu a perdi. Eu matei a sua mãe e isso está levando para longe o resto de felicidade que ainda existia no meu coração. Eu sou um fracasso do caralho — Ela nunca vai me perdoar, pai. 

— Matteo, o que está acontecendo? — levanto a cabeça até a minha visão alcançar o céu e sinto meus olhos arderem com as lágrimas

— Sandra morreu e a culpa é minha. — confesso derrotado.

— Do que está falando, menino? — questiona confuso — Ela acordou e está viva, vai ter alta em breve, provavelmente amanhã. — ele suspira e a sua respiração vibra pela linha — Gabriella disse que não consegue falar com você há horas. Aonde você está?

Mas que diabos?

— Estou voltando para o hospital. — digo apressado e encerro a chamada, segurando o aparelho com força entre meus dedos sangrando e não entendendo mais porra nenhuma.

MATTEO  Uma noite * livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora