MATTEO Uma noite * livro 2

Capítulo 71

Matteo

Chego com muita antecedência.

O sino na porta anuncia um novo cliente e alguns rostos se viram na minha direção enquanto caminho, mas nenhum deles acelera meu coração, porque nenhum deles é ela.

Passei a noite toda brigando com o maldito relógio. As horas pareciam não ter fim. Até tentei dormir, mas foi impossível, nada me tirava o olhar dela da cabeça. Nada fazia com que eu esquecesse, por um segundo que fosse, dos seus olhos surpresos e magoados.

Estou um lixo e o exterior só espelha o que estou por dentro. Uma enorme bagunça fodida.

Arrasto uma cadeira e sento na mesa mais afastada. O som do metal raspando no chão chama a atenção de algumas pessoas, mas dou de ombros e ignoro. A única coisa que me importa nesse momento ainda não chegou.

Durante a madrugada, pensei seriamente em ir até a casa dela.  Conversar em um ambiente que fosse seguro ao seus olhos, talvez tornasse o que precisa ser dito menos duro. Menos assustador.
Foda-se, eu estava ficando mais maluco a cada batida do ponteiro e pensei em todos os cenários possíveis.

Desisti dessa ideia quando percebi que invadir o seu espaço não seria a atitude mais inteligente. Eu, provavelmente a deixaria mais furiosa e diabos, era tudo o que eu não queria. Não precisava dar a ela mais um motivo para me chutar na bunda.

Estou na corda bamba e torcendo para que nenhum vento me empurre para o lado errado, porque eu fodidamente não sei o que faria se tudo saísse mais ainda do controle.

Tentei me preparar. Porra, eu tentei enfiar na minha mente que talvez eu a tenha perdido de vez, mas meu coração, aquele músculo pulsante e apaixonado por ela, não quer lidar com isso. Não quer acreditar nessa possibilidade. Talvez a parte emocional dessa situação seja vencedora. Espero que sim, porque estou farto de tanto sofrimento na minha vida.

Tudo bem que esse eu procurei, fui atrás de vingança, estava cego pelo ódio. Eu tinha um alvo, certo como a morte, mas nunca pensei que seria eu quem estivesse na mira.

Um movimento rápido e vermelho pela janela atrai o meu olhar na mesma hora. Quando Gabriella empurra a porta devagar, erguendo a cabeça a minha procura, acho que paro de respirar. Parece idiota, mas a sensação que tenho, é que não existe ninguém além de nós dois aqui dentro. Meus olhos a acompanham sem piscar. Tão linda.

Assim que sua visão me encontra, seus ombros caem e meu coração segue o mesmo caminho. Merda. 

Seus passos vacilantes e o rosto abatido, tão diferente do usual, faz o peso no meu peito dobrar de tamanho. Diabos, não foi assim que imaginei essa conversa. 

Fico em pé quando ela se aproxima. Ainda não sei como agir. Gostaria de me inclinar e beijá-la, sentir seu gosto bom que me faria esquecer a noite mais longa da minha vida. Cacete, eu ficaria feliz apenas se ela sorrisse, isso já seria o bastante. 

— Oi. — digo.

— Oi. — responde com a voz baixa. Seus olhos se desviam do meu e isso parte a porcaria da minha alma novamente. Dou a volta na mesa e puxo uma cadeira para que se sente. Sua mão roça na minha e ela se afasta, como se sentisse nojo. Disfarço, mas isso doeu como o inferno. 

— Pode começar. — diz. Sem emoção e sem qualquer vestígio de saudade, por menor que seja. Nada. Ela está fria como gelo e tudo por minha causa. É nauseante.

— Sinto sua falta, foguinho. — sussurro e essa certeza do quanto preciso dela por perto, me espanta.

— Matteo, não. — seu timbre determinado me surpreende, mas não vou permitir que essa sua defesa me desarme. Não vou desistir de você, querida.

— Tudo bem, desculpa. — declaro meio envergonhado e ela assente.

— Preciso entender tudo isso. — explica — Estou perdendo a cabeça. — confessa e  vejo na sua expressão, o mesmo cansaço que a minha deve demostrar. 

— Eu planejava te contar tudo isso hoje. — comento.

— Esse plano deu certo, então. — retruca e a vergonha disso me atinge forte. Ela não vai aliviar.

— Mereci essa. — digo e estico o braço sobre a mesa. Ao perceber meu avanço, minha garota recolhe sua mão e a põe sobre o colo. E mais uma vez, sinto que talvez eu vá perder a melhor coisa que já aconteceu na minha vida e isso me assusta pra caralho.