MATTEO Uma noite * livro 2

Capítulo 83

Gabriella

Dois dias antes

Vez ou outra,  vejo minha mãe me encarando de longe. Ainda não fui embora, não até me empurrarem porta a fora. Até esse momento desagradável chegar, continuarei sentada nesse banco solitário. Apenas estar por perto é o suficiente, mesmo que isso destrua meu coração mais um pouquinho.

Ela não quer que eu me aproxime, mas isso não me impede de cuidar dela a distância.  Seus olhos severos me observam e sorri, quebrando suas reservas. Sua expressão se suaviza, mas logo se fecha novamente, como se fosse insuportável a minha presença. Como se eu fosse uma estranha na sua vida. 

Isso dói, machuca muito, mas o amor é isso. 

É persistente. 

É paciente.

É o mais puro e bondoso dos sentimentos.

Sua doença pode ter apagado suas lembranças comigo,  mas não pode excluir a nossa história, porque ela não deixou de existir. Cada aprendizado, cada sermão, cada beijo carinhoso, não deixou de existir. Posso reviver por nós duas, porque cada segundo da sua vida está entrelaçado a minha. Eu a amo e isso nunca vai mudar, mesmo que ela me afaste e grite. Isso vai fazer com que eu volte mais forte. 

— Querida. — movo a cabeça e levanto olhar, a enfermeira ao meu lado sorri e o semblante de pesar em seu rosto não me incomoda — Quer voltar amanhã? — pergunta.

— Preciso sair agora? — questiono tristemente — Passou tão rápido. — comento.

— Em alguns minutos, sim. — ela pigarreia — Talvez Sandra se sinta melhor amanhã.

— Tudo bem. — fico em pé e inspiro fundo para diminuir a pressão no meu peito. As lágrimas pinicam meus olhos, mas balanço a mão na frente para que o vento evite o choro. Isso funciona quando não quero que a emoção transborde — Vou ficar mais um pouco.

— Sem problemas. — a enfermeira sorri novamente e ameaço um passo na direção da minha mãe. Como se sentisse a minha movimentação, ela se vira e estica a mão aberta, como um aviso — Melhor amanhã, não vamos estressá-la hoje.

Como se o peso dessa tristeza nos meus ombros, fizesse meu corpo se curvar, abaixo a cabeça e rumo para saída, mas antes de ir, olho para minha mãe novamente e sorrio. Não é tão feliz, mas representa que não vou desistir dela. Isso jamais. Por um pequeno momento, sinto sua hesitação e quase vou ao seu encontro correndo, mas devo ter imagino, pois no segundo seguinte, ela se vira rispidamente e deixa o pátio sem nem olhar para trás.

Ignoro a pontada dolorida no meu peito e pego meu celular meu bolso.

Oi  —  envio a mensagem para Matteo e vejos os pontinhos na tela quando ele começa a escrever.

Oi, linda 

Ocupado?  — pergunto.

Para vc nunca, foguinho 

Vc pode vir me buscar agora? Posso ir de ônibus...

Me espera. Chego em 15

Guardo o aparelho na mochila e sento na beirada da calçada. Já está escuro e o vento é delicioso, o dia estava quente demais e essa brisa leve é um belo alívio.
Aproveito esse tempo sozinha e deixo as lágrimas que estava segurando escorrerem livres pela minha bochecha.

É muito difícil ser durona.

Sei que não preciso, porque agora tenho alguém com quem dividir minha luta, mas ainda não tornam as coisas fáceis, ainda machuca com a mesma intensidade.

Limpo o rosto com a barra da camiseta e fico apenas parada. Os carros parecem que decidiram não transitar por essa rua hoje, nem os pedestres. Apenas sinto esse silêncio e deixo essa quietude acalmar meu coração.

— Olá.  —  o som da sua voz arrepia a minha pele. Se eu não estivesse tão desanimada, até sorriria.

— Olá.  —  replico de volta e me levanto. Seus braços rodeiam meu corpo pela cintura, quando ele se enverga um pouco.
Apoio minha cabeça no seu tórax e o seu cheiro tal bom e tão familiar, melhora a bagunça dentro de mim  —  Foi uma noite ruim.  —  comento baixo quando sinto minha garganta embolando.

— Eu sei, querida. 

— Como você poderia saber?  — pergunto confusa e o encaro.

— Vamos, vou explicar no caminho.  — a forma como disse, como se estivesse escondendo algo de novo, faz meus lábios se apertarem.

— Não, Matteo. O que está acontecendo?  — tomo uma certa distância e sinto quando ele fica tenso  — Fala de uma vez.