Capítulo 19

2.2K 252 38
                                    

Gabriella

Encosto a porta e sigo devagar até o meu quarto. Meu corpo está lento, como se eu estivesse em outra realidade, com outra gravidade sobre mim.

Coloco a mochila sobre a cômoda e me jogo na cama.

O que foi que eu fiz?

Meu coração afunda dentro do peito e um sentimento angustiante surge, me levando para longe, me direcionando para as lembranças do seu beijo, do seu olhar intenso e da forma como seus lábios se encaixaram nos meus.

Fecho os olhos quando uma lágrima solitária escorre pelo meu rosto e passo a mão para afastá-la.

Precisei fazer isso, estava abrindo as portas do meu coração, como nunca havia feito e a resposta não foi agradável. Não vou permitir que alguém se aproxime tanto a ponto de me deixar vulnerável desse jeito outra vez. Esse ano é importante demais. Vou me formar e preciso do foco necessário para ajudar a minha mãe. É isso o que realmente importa. É somente isso que importa.

Meu celular vibra no bolso, puxo o aparelho e vejo o nome do Matteo brilhando na tela.

Sinto muito, foguinho.

Duas palavras.
Duas palavras que expressam com exatidão o que martela na minha mente nesse momento.
Eu também sinto muito.

Deixo no modo silencioso e não respondo.
Não quero lidar com isso.
Não quero perder horas pensando nele. Não quero lembrar daquele sorriso lindo e aquele olhar parecendo um céu.
Não quero lembrar de como comecei a me entregar e do jeito que ele jogou isso fora.
Não quero pensar nessa dor.

Balanço a cabeça para dissipar todos esses pensamentos e vou para o banheiro. Um bom banho e uma noite de sono vai me ajudar.

O dia se arrasta.
Não consigo me concentrar nas aulas e muito menos em todos os processos que preciso ler no estágio.
Um dia perdido.
Não absorvi nada.

Por mais que force minha mente a tomar outro rumo, sempre acabo na varanda de casa, nos degraus, na entrada. No lugar aonde deixei meu coração para trás, junto com a confissão do Matteo.

Quero ficar com você, foguinho.

Isso não significa droga nenhuma.
Dei a ele uma chance que foi dispensada como lixo. Não vou cometer esse erro de novo.

- Você está bem? - Bianca questiona assim que coloco o avental.

- Ótima. Por quê? - retruco.

- Não parece. - ela sorri e se aproxima - Problemas com o bonitão? - insiste.

- Já falei que estou bem. - respondo firme. Ela me encara por um breve momento e se afasta sorrindo.

Corro de um lado para o outro atendendo os cliente, Pietro está de folga e ele era muito rápido em fazer os drinks. Depois de mim, claro. Bianca fica sempre flertando com algum cara, o que me sobrecarrega, mas como já disse uma vez, mais trabalho, mais gorjeta.

- Oi. - congelo ao ouvir a sua voz e derrubo o copo sobre o balcão. O barulho do vidro ao se estilhaçar, não é nada comparado ao som alto que sai dos meus lábios com a surpresa de vê-lo aqui. Um calafrio estremece meu corpo quando reparo no olhar triste e ferido dele. Não quero sentir nada, mas acabo sentindo tudo.

- Oi. - cumprimento.

- Sinto muito por magoar você. - diz e se senta no banco de sempre.

- Vai beber alguma coisa? - pergunto ignorando sua desculpa.

- Foguinho. - murmura.

- Vai querer alguma coisa do bar, Matteo?

- Conversa comigo. - pede.

Não vou entrar nessa novamente. Escondo essa sensação bem longe e respondo rispidamente:

- Aqui não é o lugar para isso.

- Claro. - assente - Uma garrafa de água, por favor.

Saio de perto dele e peço para que Bianca o atenda hoje. Ela quase pula de felicidade e fecho os punhos com um pequeno ciúmes que se instala.
Não siga por esse caminho, Gabriella.

Passo o restante da noite me esquivando do seu olhar e tentando, a todo custo, não me virar e espioná-lo uma vez ou outra. O maldito é tão bonito.

- Nem um mísero Euro. Nada.

- O que? - questiono confusa.

- Seu namoradinho. Ele foi embora e não deixou uma nota sequer para mim. - Bianca fecha a cara e sai pisando duro.

Seguro a risada e viro a cabeça na direção em que ele estava sentado. Deveria me sentir leve, grata por ter passado por isso fortemente, mas não posso negar que a sua ausência deixa o lugar sem graça. É difícil esse negócio de ser firme. Difícil demais.

- Pode ir. Bianca vai fechar hoje. - Marco, o dono nojento, passa direto por mim e não me olha, apenas deixa sua ordem e segue e frente, como se eu não existisse. Que estranho e maravilhoso. Não poderia lidar com essa porcaria hoje.

Guardo meu dinheiro na mochila e penduro o avental, saindo do bar o mais rápido que consigo.

Assim que chego na rua, o carro dele chama a minha atenção. Como já aconteceu antes, Matteo está parado, com as mãos no bolsos e as pernas cruzadas, me esperando.

- Podemos conversar agora?

MATTEO  Uma noite * livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora