GabriellaSinto o meu mundo implodir e meu corpo cede antes mesmo da minha mente processar suas palavras. Um zumbido forte no meu ouvido desfoca tudo ao meu redor.
Estou desorientada.
Deslizo pela parede áspera até encontrar o chão. Não sinto o impacto, sinto apenas o calor do cimento abaixo de mim. Abro a mão e apoio a palma direto na calçada. Respiro fundo algumas vezes, mas o ar parece fugir dos meus pulmões, como se eu estivesse em uma crise de pânico. Uma sensação de esmagamento tão forte, tão intensa, que sinto que vou me desintegrar.
Nunca, em toda a minha vida, me senti tão mal.
— Gabriella. — ouço sua voz ao longe, mas parece distante demais. Não consigo alcançá-lo.
O homem que por toda a minha infância fantasiei como bom. Um pai ausente, mas que na minha cabeça infantil, estava somente ocupado. Estava na guerra defendendo o país, era o que queria acreditar quando minha mãe irritada, acabava encerrando o assunto.
Escrevi tantas redações. Eu era filha de um herói da nação. Aquilo enchia meu corpo miúdo de orgulho. Mesmo tudo sendo apenas fruto da minha imaginação, me permitia sonhar. Toda criança faz isso.Mas conforme crescia e a maturidade me alcançava, desisti de tentar entender. Não questionava mais. Não o procurava em cada esquina. Não me importava. Uma pessoa capaz de abandonar uma mulher tão incrível como a minha mãe, não merecia nada além de desprezo.
Eu sabia que ele não era do bem, só não imaginava que fosse o próprio diabo.
— Foguinho. — sinto sua mão afastando meu cabelo e ergo meu olhar até ele. Sua expressão preocupada é como um soco no meu estômago. Por mais que Francisco seja meu pai e essa notícia tenha sido dura, foi Matteo quem passou pelo inferno. Foi ele quem sofreu cada dia e cada noite. Foi ele quem, mesmo em meio a tanta dor e angustia, ainda encontrou motivos para sorrir e ser forte. Foi ele quem sobreviveu
Ajoelhado na calçada, mesmo de bermuda e com a pele provavelmente sentindo cada pedra quente, sua atenção estava na minha dor, embora a sua ainda existia.
— Matteo. — sussurro e ele suspira pesadamente — Eu sinto tanto. — minha voz fica trêmula, assim como meu corpo. Uma inquietação que não consigo controlar — Posso te abraçar? — pergunto envergonhada, com uma vontade absurda de ter o poder te apagar da sua memória qualquer coisa que tenha sofrido durante aqueles anos.
— Sempre que quiser, querida. — a sombra que o seu corpo faz sobre o meu, alivia momentaneamente minha pele. Esse sol está quase insuportável, mas ainda assim, sinto meu coração ainda mais quente, quando pressiono meu corpo no dele. Inspirando seu cheiro bom. Apertando sem querer soltar, querendo desesperadamente tirar essa mancha escura do passado da sua vida.
— Eu não sei o que dizer. — comento quando as lágrimas escorrem pela minha bochecha.
— Não precisa dizer nada, meu amor. — seus dedos afastam uma mecha do meu cabelo, colocando atrás da minha orelha — Foi uma merda fodida que já passou. — conclui e seu olhar, tão carinhoso e bonito, tão claro e sincero, invade meu peito com um sentimento que queima como fogo. Mesmo ainda com tantas dúvidas sobre tudo, só consigo pensar na sua alma violentada e destratada. Só consigo pensar em querer curar suas feridas, mesmo com a minha ainda aberta.
Estar tão próximo assim e me sentindo tão distante, faz uma nova rachadura se abrir. Por mais que queira ser seu consolo, ainda me sinto como uma estranha diante de toda essa situação. Esse é o problema, a parte que raciocina ainda tem uma grande parcela nos meus pensamentos.
— Por isso entrou na minha vida. — afirmo tristemente e por mais que essa coisa toda seja, de uma maneira, bastante terrível, posso compreender o motivo. Sete anos, meu Deus do céu.
— Sim. — responde sem graça e se senta ao meu lado — Eu queria que ele sofresse, queria tirar dele o que tirou de mim. — explica e encosta a cabeça no seu braço, que agora descansa sobre o joelho dobrado — E ele só tinha você.
Fico em silêncio quando suas palavras fazem caminho pela a minha mente. As lembranças do primeiro momento que o vi, rodopiando um copo pelos dedos, sentado preguiçosamente no banco bar, uma lembrança tão gostosa, mas que agora traz um gosto amargo na minha boca. Foi tudo ensaiado.
Não posso deixar de me sentir assim. Não posso deixar de pensar que era um jogo e eu estava em desvantagem desde o inicio. Por mais que acredite que algo dentro dele tenha se transformado e o percurso agora é diferente, incomoda esse pensamento de que fui enganada. Fui levada, por um bom tempo, a acreditar que era tudo real.
Como se todas aquelas sensações do começo, o beijo ou a forma como me encarava com aqueles sorrisos arrasadores, sempre tão tão empenhado em querer estar perto, era tudo parte da porra de um plano.
Estou confusa e magoada, porque não sei se ainda podemos nos consertar. Eu sei o que eu sinto e uma parte minha, reconhece esse amor nele também. Só não sei ao certo, se esse sentimento é mais forte do que ele estava buscando com força.
— Cada vez que eu me aproximava de você, mais distante a vingança ficava. — sua fala baixa interrompe o turbilhão dentro de mim e levanto o olhar até ele — Quanto mais te conhecia, mais distante a vingança ficava. — seus dedos seguram a minha mãe e não recuo, continuo enfeitiçada, sem poder desviar meus olhos dele — Quanto mais você sorria para mim, mais distante a vingança ficava. — seus lábios beijam meu pulso e seguro a respiração — Quanto mais eu me tornava seu ...
— Mais distante a vingança ficava. — interrompo e sorrio.
— Exato. — ele sorri, mas aquele erguer de lábios tímido, com medo — Eu me apaixonei por você, Gabriella e a vingança perdeu a importância.
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MATTEO Uma noite * livro 2
Romance📣 IMPORTANTE NÃO é necessário ler o primeiro livro, mas existem algumas referências que talvez você não entenda, mas que não impede o entendimentos desse livro. Livro 1 - Uma Noite https://my.w.tt/qhhC1yJhj5 até 29/04 ou completo na Amazon https:...