Gabriella
- O que quer fazer hoje, mãe? - pergunto logo que chegamos em casa.
- Poderíamos pintar?
- Sim, vou adorar. - respondo e me aproximo - A senhora sabe que eu te amo muito, não é? - seguro suas mãos e levo até meu lábios.
- Sei. - diz encabulada - Eu também amo você, pequena. - o apelido de infância me inunda de memórias felizes e a saudade, mesmo que ainda a tenho por perto, faz doer meu peito.
- Troca sua roupa para não manchar. - digo - Vou buscar os cavaletes e nos encontramos no quintal, pode ser?
- Claro, Gabriella. - minha mãe sobe alguns degraus com dificuldade e preciso me controlar para não fazer isso por ela. Passei um bom tempo lendo algumas matérias sobre essa doença e deixar que se movimente sozinha, que se sinta mais independente, é uma atitude que segura, mesmo que minimamente, o avanço. Caminho até uma porta embaixo da escada e retiro suas coisas de pintura.
Passamos o resto do dia conversando e desenhando. A cada vez que ela girava o corpo e seus olhos pousavam na minha arte recém criada, ela ria alto e me contagiava. Minha habilidade com um pincel é vergonhosa e isso a divertia muito, e naqueles momentos, quando seu sorriso iluminava todo o meu mundo, tornava aquela tarde mágica, me preenchendo com uma força inexplicável e inquebrável.
Quando o sol do fim do dia brilhava em seus cabelos e o barulho escandaloso da sua risada chegava até mim, provando a vida preciosa que ainda tinha dentro dela, aquele sopro feliz e belo, eu pude ter a certeza.
Tudo daria certo, porque eu faria o impossível para garantir isso. Faria qualquer coisa.- Está distraída. - Bianca comenta ao varrer pela segunda vez o chão - Chega de quebrar copos essa noite, Gabi.
- Não é como se eu fizesse de propósito. - respondo ironicamente.
- Mas não é você quem está com a vassoura na mão ou é? - ela sorri e me empurra levemente com o ombro - Tire uma pausa, garota.
Ainda não.
Antes de vir para o trabalho, passei em três bancos, inclusive o de dentro do campus, que faz todo mês incentivo a crédito universitário. Negaram para mim. Pela quarta tentativa seguida. Mentirosos de merda.
Se você não tem um imóvel na praia ou um carro de luxo, sua conta não serve para eles, o que faz zero sentido.Procurar um financiamento do governo é uma chance burra. Fui atrás disso há alguns anos e diversas vezes, mas o final dessa história foi péssimo.
Pensei muito sobre esse assunto, vender a casa seria a melhor das opções, poderia alugar um quarto e usar todo esse dinheiro no tratamento e no conforto da minha mãe, mas a casa precisa de uma boa reforma, o que também precisa de mais dinheiro. Então, risco essa ideia da lista.
Luna não posso pedir, ela tem suas próprias despesas e não são baixas. Com a casa nova e o investimento do seu novo site, provavelmente ficou no vermelho e zerou suas economias também. Droga.
Não tenho a quem recorrer. Aliás, talvez tenha uma pessoa. A pior delas, mas não vou medir esforços, não se trata do que eu quero agora, mas do que ela precisa.
- Vou tirar meu intervalo agora. - aviso e saio de trás do balcão.
Caminho devagar pelo corredor escuro e enfio a mão no bolso do avental, a repulsa do que vou fazer adoece meu estômago e sinto um calafrio quando o vejo sentado em seu escritório, conversando com alguns homens. O falatório é encerrado assim que percebem que não estão mais sozinhos.
- Marco. - digo - Podemos conversar? - o nojo na minha voz é quase palpável e quando seus olhos percorrem minhas pernas, quase desisto. Ele faz um movimento com os dedos dispensando as companhias e acena para que eu me sente.
- O que foi, Gabriella? - meu nome rola pelos seus lábios de uma forma porca e distorcida, ignoro essa palpitação forte no coração e respiro profundamente.
- Minha mãe está muito doente. - começo - O preço do seu tratamento é muito alto e eu não tenho como arcar. - ele sorri e deduz o motivo da minha visita.
- Precisa de quanto? - questiona e sinto a euforia tomar conta do meu corpo. Talvez isso dê certo no final das contas.
- Ainda não sei o valor exato, mas seria em torno de vinte mil euros. - Marco assovia e fica sério - Esse preço seria anual, no próximo ano penso em outra coisa. Seria um empréstimo somente dessa vez. - sinto a humilhação esquentar minhas bochechas, mas não tenho tempo para esse tipo de sensação. Ela não tem tempo, na verdade.
- É bem alto. - declara firme e uma pitada de desapontamento nubla a minha mente - Vou ajudar. - diz tão rapidamente que poderia ter imaginado.
- O que? - pergunto para confirmar que não estou enlouquecendo.
- Vou pagar tudo. - diz novamente.
- Muito obrigada. - a alegria domina cada parte de mim e não sei o que dizer, ao certo - Prometo que devolvo um pouco em cada mês. - fico em pé e me viro para voltar ao trabalho, mas sou interrompida.
- Sabe, Gabriella. - ele pigarreia e volta a falar - Eu já não sou tão novo. - han? Que porra ele está dizendo? - Além desse bar, tenho mais alguns negócios por toda a Sicília e é muito importante, que eu possa manter meu sangue correndo nessas ruas por um bom tempo, tocando tudo quando eu morrer.
- Não estou entendendo. - murmuro e sinto o calafrio de alguma proposta chegando.
- Um herdeiro. - diz simplesmente.
- O que você quer? - retruco enojada.
- Quero que me dê um filho e em troca, pago o tratamento da sua mãe por cinco anos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
MATTEO Uma noite * livro 2
Romance📣 IMPORTANTE NÃO é necessário ler o primeiro livro, mas existem algumas referências que talvez você não entenda, mas que não impede o entendimentos desse livro. Livro 1 - Uma Noite https://my.w.tt/qhhC1yJhj5 até 29/04 ou completo na Amazon https:...