MATTEO Uma noite * livro 2

Capítulo 52

Matteo

Nenhuma dor física que aquele velho traidor me causou, se compara ao estilhaço que senti destruir meu peito, que queimou tudo como brasa e me tirou o ar, quando percebei o motivo da Gabriella ter sumido por horas, e o pior, não foi nem opção dela. 

Eu estava preocupado pra caralho, pensando que Camorra tinha agido contra mim de alguma forma e a envolvido, fui tão rápido e tão irresponsavelmente até ela, que não enxergava nada. 

Eu só precisava que ela estivesse bem e graças a Deus, estava. Fisicamente, pelo menos.

Quando me explicou e vi que seu tom de voz estava tomado de constrangimento, como se essa vida sofrida e injusta, fosse de algum jeito culpa dela, a dor foi tão intensa e tão crua, que eu poderia fechar meus olhos e sentir meu coração sendo rasgado. Camada por camada. 

Lembro de cerrar os punhos e tentar esconder o que se passava na minha cabeça. Não queria que reparasse o quanto essa situação, fodida e triste, tinha mexido comigo. Estava um pouco escuro, então tenho certeza que não percebeu o estremecimento que percorreu meu corpo. 

Um único pensamento cruzava a minha mente aquela hora e eu manteria essa vontade dentro de mim até o fim.

Ela seria minha e eu a livraria de toda essa merda. 

Não que precise de um homem para salvá-la, porque sei que minha garota é durona o bastante para enfrentar tudo e porra, se ouvisse isso, ela certamente chutaria minha bunda, mas por que não dividir a carga comigo? Ela não precisa carregar o peso do mundo nos ombros sozinha.

Isso martelava sem parar e eu não queria que fosse embora, porque naquele instante, com seus olhos envergonhados e nublado com uma tristeza que não combinava com ela, me senti mais forte. Como se minha alma tivesse dobrado de tamanho involuntariamente, apenas para colocá-la embaixo, para protegê-la de qualquer mal. 

Soa meio primitivo, meio homem das cavernas, mas que se foda. Todo esse clichê é verdade. 

Gabriella estava se tonando mais a cada minuto que o relógio batia e todo o caos que a acompanhava deixaria de existir, porque eu faria qualquer coisa por ela. Maldição, eu iria ao inferno, se fosse preciso. 

— Ei. — ela estala os dedos perto do meu rosto e sorrio — Nunca te vi tanto tempo em silêncio. — comenta e ri da própria piada — Fiquei com medo de ter dormido.

— Meus olhos estavam abertos, querida.— retruco divertido e viro o volante para a esquerda, entrando na rua da minha casa e parando em frente ao portão.

— Nossa! — diz surpresa —Eu deveria ter entrado para a máfia ao invés de ganhar minhas migalhas no bar. Teria me poupado muito trabalho. — finaliza ainda sorrindo e me perco um pouco. Você é tão linda.

— Só se casar comigo. Resolvido. — respondo confiante e seu sorriso se alarga, deixando seu olhar mais leve e afastando para longe uma parte daquela aflição que via mais cedo, gosto disso. Gosto muito de saber que tenho minha parcela na sua felicidade.

Os soldados liberam a nossa entrada e sigo para a garagem. Sua cabeça gira lentamente e seu olhos, sempre atentos, não perdem nada quando entramos pela sala. Vejo a curiosidade brilhar nos seus olhos enquanto caminha e no movimento do seu corpo, cuidadoso, como se aguardasse algo acontecer a qualquer momento. 

Ela abre a boca e a fecha novamente, mudando de idéia e decidindo não falar o que quer que seja. 

— Diga. — peço e me chego mais perto.

— O que? — questiona e recua um passo, ficando exatamente no lugar que eu gostaria.

— O que iria dizer e desistiu. — respondo e a encosto na parede, esticando meu braço ao seu lado.

— É bem normal aqui. — murmura. Sua voz sai cortada e rápida, como se esse proximidade a afetasse tanto quanto afeta a mim.

— O que você esperava? — pergunto rindo.

— Não essa tranquilidade. — confessa.

— Esperava encontrar homens sendo torturados, mulheres seminuas, drogas, armas ... —  passo o dedo lentamente pela sua bochecha e ela sorri.

— Algo desse tipo. — diz.

— Desculpa te desapontar, foguinho. — digo — Mas se você espera alguma ação, posso te oferecer isso lá no meu quarto agora.