Capítulo 5

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Gabriella

Enxugo as mãos no pano que estava jogado sobre o meu ombro e o encaro.

Que erro.

Seu olho é tão azul, tão claro, que até mesmo na luz baixa do bar, consigo ter essa certeza. Que diferente. Seu cabelo é rente nas laterais e mais volumoso no meio. Não é preto, parece mais um castanho escuro, sei lá. E ele é alto, tão alto. O cara parece um avatar. Quanto ele mede? Jesus.

Fico tanto tempo o observando, que sua sobrancelha se levanta e vejo uma falha ali. Certo, ele é quente mesmo.

- Você fala? - seu tom é divertido, enquanto me olha com curiosidade.

- Sim. - respondo envergonhada - Prazer, Gabriella. - digo e ameaço sair para atender um cliente, mas Bianca me impede.

- Eu vou. -  pisca para mim e anda apressada até o final do balcão.
Aonde ela estava?

- Seu nome é bonito. - diz e ao sorrir, uma covinha aparece na sua bochecha  - Posso te chamar de Gabi? - pergunta.

- Se gostou dele, porque quer me dar apelido? - questiono e ele sorri ainda mais.

- Justo, Gabriella. - meu nome desenrola nos seus lábios, como se fosse um elogio. É atraente, confesso. Talvez isso até funcione com outras mulheres, mas estou tranquila de problema e é isso que ele é.
Problema.
Esses ombros largos e essa aparência de não ligo para nada, sou dono do mundo, não é boa coisa.
Todos as noites aparece esse tipo aqui. Não é incomum.

Tudo bem, talvez a beleza dele seja fora do normal, mas todo o resto é igual a maioria. Um sorriso bonito não vai me fazer tirar a calcinha.

Trabalho aqui há muito tempo e homens como ele chegam toda semana.

- Você está aqui todos os dias? - seus braços se apoiam no balcão e seu rosto se aproxima demais do meu. Endireito e me afasto um pouco.

- O que você quer? - pergunto e ele sorri. De novo. Por que alguém sorri assim o tempo todo?

- Só conversar. - responde

- Achei que estava de saída. - retruco.

- Qual é Gabi? - sorri outra maldita vez - Não fique tão na defensiva. - reviro os olhos quando ele ignora nossa conversa anterior e me chama desse jeito.

- Cara, olha. - suspiro e digo - Eu preciso das gorjetas, o que significa que preciso atender as pessoas. Ficar conversando não vai pagar as minhas contas, entende?

Ele faz um bico, que graça, e se senta no banco me desafiando. Não. Não. Não faz isso.

- Cinco euros por cada pergunta que você responder. - ele põe a carteira em cima do balcão e estica a mão - Temos um acordo?

Por que não?

- Tudo bem, mas não vou ficar parada aqui, tenho que trabalhar. - aperto sua mão e ele assente.

Nenhuma eletrecidade percorre meu corpo ou aquelas besteiras que vejo nos livros. A mão dele é grande. Nada além disso.

- Você trabalha aqui todos os dias?

Pergunta um e contando.

- Dinheiro. - digo séria. Ele ri alto e põe uma nota na minha frente. Enfio no bolso e ando até a geladeira para pegar uma cerveja para um cliente. Viro para ele e respondo, enquanto entrego a bebida.

- Folgo todas a terças.

-  Por que esse dia? - argumenta curioso e arrasta outra nota na minha direção.

- Pessoal demais. Pode guardar essa. - respondo e devolvo. Seu olhar demora um pouco em mim, fica me analisando, tentando entender sei lá o que, até parar na minha boca.

- Quantos anos você tem? - outra nota.

- Vinte e seis. - ele continua olhando para a minha boca. Isso é tentador. O desgraçado sabe que é bonito.

- Acabou o gelo. - Pietro grita enquanto faz um drink e é o meu momento. Saio em disparada até o freezer e puxo de dentro um saco fechado.

- E então? - Bianca me cutuca na cintura. Ela está em todos os lugares, não é possível.

- O que?

- O que, Gabriella? Pelo amor de Deus - ela segura um lado do pacote e levamos juntas, colocando na geladeira. -  Vai transar com o cara ou não?

- Não.

- Você é uma idiota. - diz brava e se afasta.

Ela tem razão, mas eu gosto de ser assim, então que se dane.

- Três cervejas, ruivinha. - um cara de terno diz  - E seu telefone, também. - seus amigos fazem barulho com a fala dele e reviro os olhos.

Abaixo para pegar seu pedido embaixo do balcão e quando subo, metade do corpo do idiota está sobre ele.

- Você tem namorado? - pergunta.

- Sai de cima. - digo firme - Agora.

Ele se arrasta e volta para o seu lugar.

- Ruiva e geniosa. - ele lambe os lábios e diz baixo - Deve ser um fogo na cama.

- Pega suas cervejas e libera a bancada, tem gente na fila atrás de você. - ele passa a mão pelo cabelo e pega a bebida, seus amigos fazem o mesmo.

- Volto depois. - diz ao sair e ignoro.

Depois de atender mais de sete pessoas, tinha até esquecido do Matteo.  Vou até aonde ele estava sentado, mas não tem ninguém ali. A brincadeira do dinheiro, só me rendeu duas notas, que porcaria.

- Ele foi embora. - Bianca diz ao perceber meus desânimo - Mas ele mandou te dar isso. - ela estende a mão em me entrega cem euros. Olho assustada, porque nunca recebi tanta gorjeta de uma só pessoa. - Ele disse que tem muitas perguntas ainda, não entendi nada, talvez seja porque fiquei perdida olhando para ele. - ela suspira dramaticamente - Que espetáculo de homem. Ele volta amanhã. Boa sorte.

MATTEO  Uma noite * livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora