Capítulo 4

3.2K 305 38
                                    

Gabriella

— Outra tatuagem? — Assim que entro em casa com o plástico enrolado no braço, sou pega de surpresa.

— Que susto, pelo amor de Deus, mãe. — Levo a mão ao peito, enquanto as batidas do meu coração ficam mais fracas — Por que está sentada no escuro? Que coisa mais estranha.

— Estava esperando você. — Comenta.

— Poderia ter me esperado com a luz acesa. — Sorrio e coloco a mochila em cima do sofá — O turno de quinta no bar acaba mais cedo, aproveitei e passei no estúdio.

Luna, minha amiga, abriu esse lugar há alguns meses junto com o seu namorado. Sempre que posso corro até lá. A menina precisa aumentar seu álbum para expor os seus trabalhos e usa a minha pele. Nem preciso dizer que amei essa parceria, já que não posso pagar.

— Fiquei preocupada. — Ela se levanta e vem até mim — Você sabe como essa cidade anda violenta e você fica andando sozinha por aí tarde da noite. — Seus dedos seguram meu braço, enquanto ela observa a mais nova arte na minha pele — Livros? — seus lábios se curvam em um sorriso orgulhoso — Gostei dessa.

— Não fique pensando nessas coisas, mãe. — Dou um beijo na sua bochecha e continuo — Trabalho naquele bar há dois anos e sempre volto até mais tarde do que isso. — Me aproximo dela e a envolvo em um abraço apertado — A faculdade está acabando. Depois que eu me formar, as coisas serão diferentes para nós, tudo bem?

— Tudo bem, querida. — após um sorriso bonito, ela se afasta e começa a subir os degraus da escada — Não se esqueça da prova amanhã, você precisa de um pouco de descanso.

— Claro, só vou tomar um banho antes. — Mentira. A matéria dessa avaliação é um pé no saco e eu não tenho dinheiro para fazer a dependência se for mal. Tenho que estudar o máximo que aguentar essa noite. Deveria ter vindo direto ao invés de me tatuar, mas Luna vai viajar nesse final de semana e só tinha agenda hoje.

Caminho até a cozinha e pego um pacote de bolacha. Essa será a minha janta, minha mãe surtaria se soubesse. Arrasto minha mochila pesada do sofá e subo.

— Está um inferno aqui hoje. — Em menos de quinze minutos já quebrei dois copos, minha cabeça está a milhão depois da bomba que tomei hoje no teste.

— Você precisa eliminar esse estresse, garota.

— Não estou estressada. — Retruco — Só estou cansada.

— Você precisa transar. — Essa é a resposta dela para tudo. Bianca se juntou a nossa equipe aqui no bar há alguns meses e ainda estou me acostumando com esse jeito louco dela.

— Não tenho tempo. — Explico e passo o pano no balcão.

— Então arrume. — Ela gira e segura meus ombros —Para de rabiscar esse corpo e vai trepar, para isso você arruma horas no seu dia.

Meu Deus.

Por que você precisa falar desse jeito? — Digo constrangida — Tem gente aqui perto.

— Dane-se. É que você parece que não gosta de sexo.

— Eu gosto, idiota. — Reviro os olhos e bato o pano de leve na sua coxa — Mas, isso não significa que precise sair por aí transando com todos os homens. — Sussurro.

— Não com todos. Só com ele. — Bianca faz uma coisa esquisita com os olhos, como se estivesse acenando ao indicar um cara no final do bar — Ele não para de te olhar. — E como se soubesse que estávamos falando sobre ele, o cara passa o dedo pelo queixo e sorri. Seus olhos me encaram por um breve momento, antes de levar a bebida a boca.

— Você viu isso? — ela se abana, fazendo graça — Ele é quente.

— Ele é bonito. — Comento e ela se afasta quando um cliente se aproxima.

A cada minuto, mais copos se acumulam na pia e estou contando as horas para ir embora. Hoje é sexta, o que quer dizer que não vou para casa tão cedo. É o dia mais lotado da semana e não posso abrir mão das minhas gorjetas, infelizmente. Elas salvam meu salário medíocre. Troco o peso da perna enquanto enxaguo esse monte de louça. Meus pés estão me matando e por ter passado quase a noite toda com a cara enfiada nos livros, estou podre. Definitivamente, um caco.

— O gostoso está vindo. — Bianca cochicha e ignoro. Após um segundo ou dois segundos, vejo um par de mãos se apoiar sobre o balcão na minha frente.

— Quer uma bebida? — Digo sem levantar os olhos e continuo fazendo meu trabalho.

— Já estou de saída. — Sua voz é grossa e séria, mas ainda não ergo o olhar até ele.

— Certo. Precisa de alguma coisa do bar, então? — pergunto.

— Não, só queria ver você de mais perto antes de ir embora. Prazer, eu sou Matteo.

MATTEO  Uma noite * livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora