Matteo
Um dia antes
Dirijo pelas ruas de Sicilia como um louco. Nada parece fazer o maldito carro andar mais rápido. Piso forte no pedal, sentindo meu pé encostar no fundo, mas nada muda, ainda estou devagar. Lento demais para a urgência que parece me tirar o ar. Não sei como ainda sou capaz de dirigir, porque meu corpo está tão tenso e fodidamente fora de controle.
Merda.
Bato a mão no volante e grito em frustração. Estou tentando não pensar com tanto afinco no pesar que senti nas palavras do meu pai. O que diabos aconteceu? Abaixo os vidros para que o vento me mantenha são, embora nem isso ajude nessa hora. Estou apavorado pra caralho.
Estou com a mente tão desorientada, que quase passo direto por um farol vermelho. Viro a esquina rapidamente e os pneus cantam, fazendo o barulho fino assustar alguns pedestres. Reduzo ao passar por uma lombada e logo acelero outra vez.
O caminho nunca pareceu tão longo.
O trajeto rodeado de árvores parece um maldito labirinto e a cada monte verde que vejo passando por mim, é um segundo mais perto dela. Só que isso não diminui a pressão no meu peito. Só piora.
Quando avisto a minha casa e passo pelo portão, largo o carro de qualquer jeito na entrada e subo correndo pelas pedras no jardim. A porta bate violentamente na parede com o impulso dos meus braços, que por um momento, pareceu até triplicar a minha força.
A sala está vazia e isso me desespera ainda mais, corro de um cômodo para o outro, chamando alto pelo seu nome. Nada.
— Aonde eles estão? — pergunto para Sofia, ao encontrá-la sozinha na cozinha.
— Saíram há uns vinte minutos. — seus olhos não se fixam em mim, estão focados no chão. Distantes e pensativos, talvez esteja rezando em pensamento e se for mesmo isso, espero que Deus não me dê mais esse sofrimento para carregar. Estou farto de tanta dor.
— O que aconteceu? — questiono apavorado e me aproximo.
— Veneno, menino. — murmura derrotada e suspira pesadamente. O pano nos seus ombros parece pesar um tonelada, pois ela se encolhe e continua não olhando para mim.
— Como? — retruco e passo as mão pela cabeça, jogando a toca em um canto qualquer. Quem faria isso com a minha garota? Imaginar que talvez, Gabriella esteja morta ou próxima disso, faz uma fúria percorrer cada pedaço meu. Queimando e destruindo com a mesma intensidade, um coração que voltou a bater a pouco tempo, somente por ela.
— Não sei, foram para o hospital. — sua resposta é um sussurro tão baixo, que mal consigo escutar, como se fosse difícil demais falar, com a tremulação que vejo nas suas mãos.
— Qual deles? — retruco impaciente — Qual, Sofia? — rujo, quando o seu silêncio parece dilacerar meu peito.
— O maior, no centro. — sua voz falha e minha alma afunda, como se fosse dividida em mil repartições.
Sem dizer mais nada, aperto o passo novamente, disparando para fora como um raio e sem tempo para recuperar qualquer fôlego, dou a partida no carro rapidamente e saio outra vez.
Meu Deus, que ela não esteja morta.
Esse pensamento martela furiosamente e não some, nem por um segundo, em cada rua que atravesso.
Acho que nunca senti tanto medo na vida.Meus dedos tremem sem parar e mal consigo trocar a marcha, sem sentir meu corpo convulsionando com esse pânico.
Entro pela rampa lateral quase atropelando a cancela, descendo até o estacionamento privativo. Estaciono na primeira vaga disponível e abro a porta, saindo tão rápido quanto posso. Subo os degraus de dois em dois, esticando as minhas pernas com uma agilidade assustadora e depois de três lances de escadas, chego a recepção bufando. Meu pulmão clama com o esforço e quando abro a boca, as palavras parecem ficar presas.
— Matteo. — movo a cabeça para o lado e vejo meu pai caminhando apressado. Seu olhar assustado e triste, é como uma adaga direto no meu coração. Dou alguns passos até ele, mas sinto que estou no automático, pois estou, a cada minuto, mais longe de mim mesmo.
— Cadê a Gabriella? — digo e a força parece ter me abandonado, pois sei que estou desmoronando aos poucos, ainda mais quando vejo sua expressão desolada.
— Está lá dentro, menino. — afirma — Estou esperando alguma notícia desde que chegamos.
— Ela está bem? — pergunto apreensivo, diminuindo a minha voz.
— Per Dio, sim. — o alívio me invade, devolvendo o ar para o meu peito, mas apenas por um breve instante.
— O veneno ... — murmuro confuso.
— Ligaram da clínica. — sussurra — Quanto te liguei já estava a caminho daqui e você desligou, então nem pude explicar nada.
Não. Não. Não. Não. Não.
— Sandra está viva? — pergunto.
— Não sei. — ele suspira cansado e me encara — Gabriella entrou na ala de emergência e não saiu mais. Não adianta que os seguranças não deixam entrar. — avisa, assim que começo a me afastar dele.
— Uma porra que não vão. — esbravejo, caminhando duro até lá. E a cada passo que dou, mais nervoso e aflito fico.
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MATTEO Uma noite * livro 2
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