Capítulo 73

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Matteo

Não me sinto mais segura com você

Se essa frase fosse uma arma, ela certamente teria tirado a minha vida. Nada nunca doeu tanto. Nem mesmo a fome e o frio. Sou atingido com tanta intensidade, que fico em silêncio. Palavra nenhuma seria capaz de defender isso. Palavra nenhuma poderia mudar essa sensação dentro dela. 

Falhei. 

Falhei com força.

Suspiro e um caroço se forma na minha garganta. Essa dependência pode até não ser saudável, mas perdi tanto ao longo do tempo, que me agarrei a esse presente. Porque é isso o que ela é. Um presente. A salvação da minha alma sombria e quebrada.

Quando pensei ser o herói da sua vida, descobri que era ela o da minha. Gabriella vem resgatando o melhor de mim e isso não pode acabar, porque gostei dessa versão melhorada. Gostei de ser assim. Quero ser bom quando estou com ela. Dane-se. Quero ser bom a todo momento, porque é exatamente o que ela merece.

Sua cabeça está abaixada e ela, nem ao menos, consegue me olhar nos olhos. Um sentimento ruim se aloja no meu peito e cruzo os dedos apertado, mantendo dentro de mim essa agonia que não parece ter fim.

Estou perdendo minha garota.

— Vamos para a minha casa. — ela fica em pé e eu continuo sentado. Não sei o que aconteceu, não sei que parte seu juízo sobre mim mudou de nível, mas estou paralisado. Até o ambiente parece ter se congelado, porque nada disso faz sentido — Achei que não quisesse ficar aqui. — comenta e caminha alguns pequenos passos a frente. Juro que posso ouvir as batidas dentro do meu peito descontroladas, porque isso me enche de esperança. Meus Deus, eu a amo tanto.

Fico em pé rapidamente e a sigo. Ando ao seu lado impaciente, pois a vontade de segurar suas mãos, mostrando ao mundo o quanto sou um maldito sortudo, é enorme. Deixar que vejam que nunca um homem foi tanto de um mulher, quanto sou dela. 

Após virar uma esquina, continua seu andar determinado e firme. Acelero minhas passadas e fico de frente para ela.

— Meu carro está do outro lado da rua. — digo, interrompendo seu caminhar apressado.

— Vamos andando. — retruca tensa e me encara pela primeira vez. Nenhum sorriso brinca nos seus lábios. Seus olhos estão frios e distantes. Como se o foco fosse qualquer coisa, menos eu. Gostaria de estar sozinho agora para socar uma parede. Descontar essa frustração das minhas atitudes impensadas direto no concreto. Talvez eu não seja tão bom para ela quanto imaginei.

— É um pouco longe, querida. — declaro e ela desvia com cuidado para não encostar em mim. 

— Ótimo. Você tem muito a dizer de qualquer forma. Teremos tempo, Matteo. —  tão séria e magoada que trinca de novo a porra do meu coração, e aquela centelha que tinha voltado a se acender, vai perdendo a força novamente. 

— Quando eu era mais novo, não tinha interesse em assumir a famiglia. — respiro fundo e guardo toda aquela sensação de merda em outro lugar. Relembrar tudo aquilo vai ser difícil pra caralho, mas preciso que ela saiba, mesmo que para isso, eu precise entrar naquela escuridão outra vez — Queria ficar livre, não concordava com nada  que faziam e quando minha mãe faleceu, me perdi completamente.

— Não quis ser indelicada no casamento ... — sua mão segura levemente meu braço e o simples toque da sua pele quente, inunda meu peito com uma saudade tremenda  — Percebi a ausência dela na cerimônia. Sinto muito. — quando repara no meu olhar seguindo o rastro por onde seus dedos estavam, ela se afasta novamente e volta a andar. Mantendo a postura rígida de novo.

— Eu também. — murmuro e a pontada de dor ameaça surgir, mas retorno a história rapidamente, ignorando a queimação que isso traz — Depois desse dia, só pensava em vingança, queria fazer o culpado pagar. Nada mais importava. Nem mesmo a Cosa Nostra. Não queria ser o chefe, não queria ser nada, então decidi ir embora. Seu pai me ajudou nesse plano, ele entendia o meu sofrimento e a repulsa que eu sentia em ter que assumir o posto de Capo. Francisco me conhecia desde quando eu era um garoto, era parte da familia. Foi fácil confiar nele — enrolo a manga da camisa mais para cima, quando o sol parece estar diretamente sobre a minha cabeça — Na noite da minha fuga, fui sequestrado e fiquei nesse cativeiro por sete anos.

— Meu Deus. — sussurra e vejo uma lágrima escorrer por sua bochecha. Seus passos vacilam e ela apoia o braço no muro ao seu lado — Por que alguém faria uma coisa dessa com você? — observo seu semblante aterrorizado e fecho os olhos por um segundo — Quem fez isso? — questiona e a encaro. Sei o quanto isso vai machucar, mas minha menina não tem culpa do sangue que corre em suas veias. Sei disso há algum tempo agora.

— Seu pai fez isso, foguinho. — confesso e a vejo empalidecer, perdendo todas as cores do seu rosto, antes de deslizar as costas pela parede, até se sentar no chão.

MATTEO  Uma noite * livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora