Capítulo 76

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Matteo

Encaro Gabriella conforme caminha entre as folhas secas. Sua beleza tão diferente e a inocência das suas palavras, tão sentidas e úmidas, misturada as lágrimas que escorriam por seu rosto, abrindo parte da sua alma para mim, fez meu coração se agarrar ainda mais, implorando por uma salvação que somente ela poderia me dar.

Sei que ainda não confia em mim e não está errada. A desconfiança certamente te poupa de muita merda, mas vou convencê-la de que mereço o seu amor. Cada pedaço dele.

Não existe plano de vingança nenhum mais, deixei tudo aquilo para trás. Por ela. Não faria sentido continuar naquela busca solitária, quando ela me ofereceu um propósito. Mesmo sem  saber, o herói aqui nunca fui eu.

Posso ter ajudado em questões financeiras e tirado dos seus ombros alguns problemas, não que eu esperava algo em troca, fiz aquilo porque tinha que fazer. Sua felicidade também era a minha e eu queria ver a minha menina bem. Mas isso, não é nada comparado ao alívio que ela trouxe para a minha atormentada e condenada vida. A luz com que me envolveu, resgatando qualquer vestígio bom que ainda havia em mim, isso não tem preço. Dinheiro nenhum tem esse valor.

Eu não quero falhar.

Porra, nunca desejei tanto ser o suficiente para alguém.

Não posso aceitar perder a melhor coisa que já me aconteceu. A vida não é mais um maldito jogo para mim há um bom tempo. É um recomeço que eu só quero que seja com ela.

— Que lugar é esse? — pergunta curiosa e inclina o corpo para cima, tentando alcançar uma flor. Quando a segura, tão delicada e bonita, suspira ao sentir o cheiro e sorrio. Perfeita em tudo.

Quando Fillipo me alertou sobre Camorra, foi inevitável. Precisaria de um local seguro e desconhecido por qualquer um, então pesquisei e decidi que seria aqui.  É uma casa grande, centralizada em meio a natureza. Um refugio para quando as coisas se complicassem. Um espaço para quem eu amo ficar protegido, caso eu precise ir para a guerra com aqueles malditos.

— Comprei há um mês.  — respondo e seus olhos, meigos e surpresos, me observam de volta. 

— É lindo. — sussurra e volta a andar. Apresso o passo para ficar ao seu lado e seguro sua mão. Dessa vez, ela não se afasta e eu não poderia ficar mais feliz. Tento me controlar e manter uma distância, mas pareço que estou ligado de alguma maneira, uma campo de energia que me puxa a cada segundo para mais perto dela.

Pensei que seria um lugar melhor para conversarmos. — digo.

— Você acertou. — ela sorri abertamente, mas vejo uma pontada de tristeza a assombrando, fazendo com que feche a boca logo em seguida, voltando a ficar pensativa. Como se fosse errado, de alguma forma, ser feliz nesse momento. Como se não fosse certo sorrir ... para mim. Ela franze a testa, como se esse incômodo também a perturbasse e solta as nossas mãos. Congelando a sua ao lado do seu corpo e distante de mim. O peso do meu peito parece me sufocar, viro o rosto, escondendo a dor que isso me causou e respiro fundo. 

— Tem uma árvore grande mais para a frente, podemos aproveitar a sombra dela. — tento firmar a voz, mas peco miseravelmente. Sua expressão sofrida fica cravada na minha mente e me sinto mal na mesma hora. Se eu não tivesse ficado tão cego com meus próprios demônios, com medo desse momento, teria evitado essa bagunça. Encarar o passado vai ser difícil, mas pensar no futuro agora parece pior.

Seguimos em silêncio.

Quase posso escutar as engrenagens na sua cabeça trabalhando sem descanso e isso é malditamente frustrante, porque não sei o que acontece ali dentro. Não sei para qual lado está pendendo e isso é uma tortura. Cerro os dentes quando a preocupação me assola, mas logo relaxo, esse não é o caminho. Definitivamente, não é um cronograma que tenho que seguir. Só preciso permitir que a maré me leve e com sorte, será para perto dela. 

Não sou tão bom em esperar, mas se isso significa que a terei de volta, então colocarei qualquer lembrança nossa de lado e como em outras vezes, estarei pronto quando minha garota estiver.



MATTEO  Uma noite * livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora