Prólogo

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São Paulo - SP, Brasil
05/02/1992

Sozinha.

Vanessa se obrigou a fechar os olhos com força e ouviu uma das enfermeiras a acalmar, afirmando que logo ela estaria com a dilatação necessária e a doutora começaria o parto o mais breve possível para que ela não sentisse mais dor, mas não era esse o motivo de Vanessa estar apertando os olhos, mesmo que a dor fosse enorme.

Sozinha.

Ela agarrou o lençol da cama, o puxando e apertando forte com as duas mãos, sentindo sua respiração ficar descompassada, enquanto a palavra continuava a soar em sua cabeça.

Sozinha. Sozinha. Sozinha. Estava completa e totalmente sozinha.

Naquele instante, se lembrou de quando descobriu a gravidez e imaginou todos os cenários possíveis daquele momento tão importante na vida de uma mãe, que era o nascimento de seu filho. Em seus devaneios, Pablo, o marido, estava sempre ao seu lado, apertando sua mão, fazendo carinho em seus cabelos, sussurrando palavras de apoio e esperando ansioso para cortar o cordão umbilical e segurar o bebê assim que ele nascesse.

Todos os planos que Vanessa fez de ter uma família unida e cheia de amor desceu pelo ralo assim que Pablo abriu a boca e disse:

— Estou indo embora.

Simples assim. Como se eles não estivessem juntos a anos, que não estivessem esperando um filho, fruto do amor deles. E foi aquilo que Vanessa disse, já se sentindo nervosa com a possibilidade de ser abandonada pelo homem que mais amava na fase mais importante de sua vida.

A reposta que recebeu aos seus protestos foi:

— Não estou nem aí.

E, simples assim, ele foi embora. Não tão simples, na verdade, porque Vanessa fez questão de chorar, gritar, brigar, dar tapas, tudo para tentar entender o porquê de ele estar fazendo aquilo com ela. Como nada adiantou, a grávida de três meses se sentou em seu sofá e chorou, já que era a única coisa que a restava fazer.

Ele deixou ela sozinha, depois de todos os planos que fizeram, do futuro que escolheram para eles. Agora ela estava ali, deitada em uma cama de hospital e sentindo as fortes contratações.

Sozinha.

Vanessa abriu os olhos e sentiu eles cheios de lágrimas, a obrigando respirar fundo e tentar se recompor, porque a sua garotinha queria nascer, e ela faria aquilo direito, mesmo que sem apoio algum do homem que ela jurou que estaria com ela para sempre.

Ouviu o comando da doutora para fazer força e respirou fundo novamente.

— Vamos lá, minha menina. — Sussurrou, se esforçando assim que sentiu outra contração.

*

Assassinato.

Essa era a única palavra que ecoava na mente de Nadine, enquanto ela choramingava sobre a cama da maternidade no quarto ao lado do de Vanessa — não que alguma das duas soubessem disso —, planejando como matar Neymar e procurando por algo bem doloroso, para que o marido sofresse muito.

Ela estava ali, sentindo as dores do parto de maneira absurda, porque o seu bebê tinha pressa para chegar ao mundo, e o pai da criança estava sabe-se lá onde.

— Vou matá-lo. — Nadine falou, logo soltando um alto gemido de dor.

— Perdão?! — Ouviu uma enfermeira perguntar assustada.

— Vou matar o meu marido! — A grávida disse mais alto. — Cortarei cada partezinha do corpo dele bem devagar com ele ainda vivo e então eu vou...

Foi interrompida com a porta da sala se abrindo de repente e com força e olhou para lá, suspirando aliviada ao ver o marido andando apressado em sua direção. Ao cruzarem os olhares, Nadine sentiu o seu corpo relaxar e sorriu sem ao menos perceber que o fazia, vendo Neymar também com um grande sorriso no rosto.

— Desculpa pela demora. — Ele pediu rapidamente, se colocando ao lado dela e a cumprimentando com um selinho demorado.

— Estava planejando a sua morte. — Confessou e Neymar riu. — Pensei que iria me deixar sozinha. — Completou com a voz embargada e seu marido entrelaçou suas mãos, se inclinando outra vez para ela e beijando demoradamente sua têmpora.

— Nunca deixaria você sozinha em um momento tão importante para nós dois, Nadine. — Sussurrou. — Eu amo você e o nosso menininho, jamais perderia esse momento.

Nadine sorriu apaixonada e desviou o olhar do marido para a barriga ainda bem redonda.

— Vamos lá, meu menino. — Sussurrou e respirou fundo antes de fazer força.

No dia 05 de fevereiro de 1992, em uma maternidade aleatória do estado de São Paulo, duas mulheres ouviram o choro estridente de seus bebês assim que nasceram e se sentiram realizadas no mesmo instante, sabendo que nada mais faltava para elas e sentindo o coração prestes a explodir de tanto amor.

Vanessa, sozinha. Não que ela estivesse ligando para aquele fato quando segurou pela primeira vez a sua filha no colo, chorando e analisando cada canto do rostinho dela.

Nadine tinha a companhia do seu marido, o grande amor da sua vida, e ambos olhavam apaixonados para o primeiro filho deles, já imaginando os diversos momentos que teriam juntos, como uma família, que poderia até aumentar dali a alguns anos caso os dois decidissem.

No dia 05 de fevereiro de 1992, Pietra Santana e Neymar da Silva Santos Júnior nasceram na mesma maternidade, em quartos próximos, e exatamente no mesmo minuto, tendo seus destinos traçados a partir dali.

...

Destinos Traçados ━━ Neymar Jr.Onde histórias criam vida. Descubra agora