Trinta e Sete

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PARTE DOIS.

São Paulo - SP, Brasil
três anos depois

A avenida estava movimentada como todos os outros dias e Pietra xingava mentalmente por morar na cidade mais populosa do país, enquanto tentava desviar das pessoas ao mesmo tempo em que corria e, em alguns momentos, olhava para o relógio preso no pulso, conferindo a todo instante os minutos e vendo que só ficava ainda mais atrasada. Olhou para frente novamente e respirou fundo, apertando a bolsa de lado no corpo e começando a correr, sem se importar com quem ela se trombava ou não.

Ouviu diversos xingamentos, mas chegou inteira no restaurante que trabalhava e correu até a parte dos funcionários, batendo o ponto, guardando a bolsa em um dos armários e depois indo colocar o avental. Conferiu se a caderneta que usava para anotar pedidos estava ali e após confirmar andou apressadamente até o salão.

Estava prestes a entrar na cozinha, mas parou quando ouviu:

— Pietra!

Fechou os olhos por alguns segundos e suspirou, se virando para a direção que a voz vinha e encontrando o chefe a encarando de cara fechada.

— Boa tarde, seu Carlos. — Cumprimentou educadamente e ajeitou a postura. — O senhor está precisando de alguma coisa? — Indagou, torcendo para receber uma resposta negativa e poder sair dali rapidamente.

— Está atrasada. — Falou e levantou o pulso, batendo no relógio chique presente nele.

— Sinto muito, senhor. — Pediu. — Sei que prometi que não chegaria atrasada novamente, mas a minha avó acabou passando um pouco mal hoje de manhã, porque nós não conseguimos comprar...

— A sua avó trabalha aqui, Pietra? — Interrompeu.

— Não. — Respondeu, piscando lentamente.

— Então ela estar passando mal não é desculpa. — Disse e a preta respirou fundo, desviando o olhar e mordendo a língua com força para não mandar aquele homem para a puta que o pariu. — Você trabalha aqui e tem horários para cumprir, o que acontece ou deixa de acontecer na sua casa não é problema meu. Trate já de começar a trabalhar, não quero pagar alguém para não fazer nada. — Resmungou e passou por ela, batendo seus ombros.

Pietra encarou o vazio à sua frente e respirou fundo mais uma vez, fechando os olhos e contando até dez, o que costumava fazer a cada cinco minutos naquele trabalho.

Abriu os olhos, voltando para a realidade, e adentrou a cozinha pronta para começar a trabalhar.

O emprego chegou na melhor hora possível para a mulher. Depois de algum tempo com todas da casa desempregadas, as contas já se amontoavam dentro de uma gaveta e todo dia era uma tensão nova por medo de ter a água ou a energia cortadas a qualquer instante, então Pietra conseguiu o trabalho de garçonete naquele restaurante bem frequentado da grande São Paulo e, com o salário recebido, ia conseguindo quitar as dívidas que juntaram. Mas Eva ficou doente e era mais um gasto para a família. Pietra não reclamava de ter que ser a pessoa que sustentava o lar, mas reclamava por não ganhar o suficiente para que elas estivessem em uma situação melhor.

Precisava pagar contas, colocar a comida na mesa, comprar os caros remédios da avó e pagar a clínica de reabilitação onde a mãe havia concordado em se internar para se livrar do vício da bebida, só que o salário mínimo não era suficiente para tudo aquilo. Mas ainda era tudo o que tinha, então andava ouvindo coisas que normalmente não suportaria calada.

Destinos Traçados ━━ Neymar Jr.Onde histórias criam vida. Descubra agora