Quarenta e Seis

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— Eu estava indo para a sua casa. — Confessou Neymar, interrompendo o silêncio que pairava dentro do carro.

Pietra massageava levemente o tornozelo machucado, enquanto encarava a janela e as ruas por onde eles passavam, tendo a certeza de que Júnior escolheu ir pelo maior caminho possível. Seu pé doía, o peito estava apertado, e tudo o que ela mais queria era chegar em casa, se jogar na cama, e voltar para o fundo do poço que não deveria ter saído, porque lá era bem mais confortável. Quando escutou a voz do jogador, virou o rosto para ele de maneira involuntária, o olhando curiosa.

— O que estava indo fazer na minha casa? — Perguntou.

— O que eu sempre ia fazer na sua casa? — Riu baixo, olhando rapidamente para ela. — Eu estava indo te ver, é claro. — Respondeu. — Conversar com você.

Percebeu que não poderia ficar parado em casa esperando algum milagre acontecer para ele e Pietra conseguirem se encontrar e falar sobre tudo o que aconteceu, por isso decidiu ir até a casa dela. Sabia que tinha uma enorme chance de levar porta na cara, mas insistiria até conseguir ficar cara a cara com ela e resolver.

A mulher suspirou fundo com a resposta, desviando o olhar mais uma vez.

— Preta... — Sussurrou Júnior.

Os olhos de Pietra se fecharam com certa força e ela repreendeu todo seu corpo por responder aquele apelido com arrepios e um frio na barriga.

— Para de me chamar assim. — Pediu, o interrompendo. — E para de falar. Eu não quero conversar.

— Ficamos três anos sem trocar uma só palavra, acho que temos bastante assunto para falarmos. — Disse e Pietra estreitou os olhos, encarando Neymar novamente e vendo o jogador olhar atento para a estrada.

— Nós ficamos três anos sem nos falar, porque você quis assim, Júnior. — Retrucou e ele soltou um gemido quase inaudível ao escutar o seu nome saindo da boca dela outra vez, mesmo que em um tom bravo. — Se você quer conversar, contrata uma psicóloga. Eu só aceitei a merda dessa carona, porque eu não estava conseguindo andar e provavelmente acabaria morta antes de chegar na rua da minha casa, então será que podemos ir em silêncio? — Pediu.

Neymar não respondeu, apertando um pouco mais as mãos no volante.

O silêncio voltou ainda mais pesado e Pietra encarou a janela, pedindo mentalmente para chegar logo em casa e se livrar daquela situação.

— Por que você não foi no aeroporto aquele dia? — O atacante perguntou baixinho, ignorando completamente o pedido dela.

— Você saberia se tivesse lido as minhas mensagens. — Respondeu Pi.

— Eu te esperei lá. — Continuou no mesmo tom, ainda encarando a estrada. — Quase perdi o voo mais importante da minha vida só para te ver, para me despedir de você do jeito certo.

— Quando eu cheguei, você não estava mais lá. — Pietra murmurou, ainda não querendo tocar naquele assunto.

— Por que você se atrasou tanto? Eu te disse o horário do voo um milhão de vezes, preta. — Falou e a olhou. Pietra mordeu o lábio inferior com força, sem mover um músculo para encarar o jogador. — Eu pensei que tínhamos nos entendido na noite anterior do dia da viajem, que você estava disposta a tentar, que...

Destinos Traçados ━━ Neymar Jr.Onde histórias criam vida. Descubra agora