Quarenta e Quatro

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Era claramente uma daquelas cenas clichês de filmes de romance: o casal se reencontrava de maneira aleatória depois de anos sem se ver e falar, se encaravam por tempo demais tendo flashs de tudo o que já tinham vivido juntos e, claro, esqueciam que estavam cercados de dezenas de outras pessoas, porque a única coisa que importava ali eram eles dois, a chama que se acendia novamente dentro de ambos, e os corações acelerados, que revelavam o amor que ainda sentia um pelo outro.

Mas tudo foi interrompido quando Pietra piscou diversas vezes e percebeu a enrascada que havia se metido ao aceitar o convite de Rafaella para irem até aquela balada. As mãos dela alcançaram os pulsos do jogador e ela afastou as mãos de Júnior de seu corpo.

— Me desculpa, eu não vi você. — Pediu sem o encarar e deu um passo grande para trás, gemendo de dor quando o pé direito alcançou o chão. — Ai, merda! — Xingou, o levantando no mesmo instante e segurando no ombro de Neymar para não cair quando ficou somente sobre o pé esquerdo.

— Você está bem? — Perguntou preocupado, se aproximando novamente e voltando a segurar na cintura dela. — Você torceu o pé?

— Não. Estou bem. — Falou e afastou a mão que segurava o ombro dele. — Me solta, por favor.

Neymar Júnior obedeceu apenas para ela ver que não conseguiria andar sozinha e observou a preta tentar encostar o pé no chão outra vez, fazendo careta e mordendo o lábio com força para não soltar mais um gemido. O olhar dele não conseguiu se manter longe da boca da mulher e o corpo do jogador se arrepiou por inteiro apenas com a lembrança de como era beijá-la. Agarrou a cintura de Pietra, colando seus corpos mais do que antes e chamando a atenção dela para seu rosto.

— Você não vai conseguir andar. — Afirmou. — Posso te ajudar.

— Eu não quero a sua ajuda. — Falou e olhou ao redor, procurando por Rafaella. — Quando eu preciso, ela some. — Resmungou baixinho.

— Se está procurando pela minha irmã, pode tirar o seu cavalinho da chuva, porque ela com certeza está se pegando com o barman agora. — Disse divertido e viu Pietra revirar os olhos, continuando a encarar as pessoas ao redor em busca de algum rosto conhecido para a livrar dos braços de Neymar. Ele voltou a ficar sério. — Preta...

Ela o encarou novamente ao escutar o apelido e sentiu uma imensa vontade de chorar.

Neymar Júnior estava ali. Talvez não o mesmo de antes, mas a nova versão do Júnior que ela conhecia desde os cinco anos de idade, o garoto com quem viveu toda sua infância e adolescência e aproveitou todos os momentos. Aquele que a defendeu de um garoto sem nem a conhecer e fez questão de a colocar no time de futebol da rua em que moravam e, poucos dias depois, fez toda a família e outros convidados da própria festa surpresa de seis anos de idade cantarem parabéns para eles dois. Aquele que ela confiou cegamente para ser o seu primeiro beijo, o primeiro amor, o primeiro tudo. Aquele que sempre corria animado até ela após uma partida de futebol onde o time dele se saiu bem e ele marcou gol e pedia o famoso prêmio, que eram os beijos dela. Aquele com quem ela podia contar a qualquer hora e sobre qualquer coisa. Seu melhor amigo, confidente, ficante, o que agia como namorado de vez em quando, e o que a chamava de “preta” desde sempre... Aquele Neymar Júnior.

O mesmo que, por três anos, fingiu que ela não existia.

Pietra sentiu seus olhos encherem de lágrimas e afastou mais uma vez as mãos do jogador de seu corpo, ignorando qualquer sinal de dor em seu pé, que era bobagem se comparada à toda dor que ela sentia dentro do peito, e saindo apressada daquela boate sem olhar para trás.

Destinos Traçados ━━ Neymar Jr.Onde histórias criam vida. Descubra agora