Cinquenta e Nove

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São Paulo, Brasil
24/12/2016

Um pagode tocava no som da casa de Pietra, que picava os ingredientes que usaria de tempero na ceia de Natal que prepararia com a mãe e a avó naquela mesma noite. Junto à música não tão alta, ouvia as duas mulheres e Samuel conversando animadamente na sala de estar, continuando a trabalhar na decoração natalina tradicional da casa, que eles deixaram para última hora e se resumia em uma árvore não muito grande na sala de estar, coisas vermelhas e verdes espalhadas pela residência, e piscas-piscas onde desse para colocar.

Escutou passos se aproximarem e logo avistou o padrasto adentrando a cozinha e indo até a geladeira, pegando a jarra de água. Voltou a atenção para o que fazia, sentindo que Samuel a observava.

— Que carinha é essa, Pi? — Perguntou preocupado, notando algo estranho na enteada.

— Estou triste. — Murmurou.

— Por que? Aconteceu alguma coisa? — Se aproximou dela, deixando totalmente a sede de lado e segurando no pulso da preta para que ela parasse com os movimentos que fazia com a faca e olhasse para ele. — Você quer conversar? — Indagou.

Pietra sorriu levemente. Agradecia muito por Samuel ter aparecido na vida da mãe dela. Vanessa andava muito mais feliz depois que o conheceu, Eva ganhou o genro dos sonhos, e ela um paidrasto perfeito. Samuel sempre notava quando tinha algo de errado com ela e perguntava se a preta estava afim de conversar e contar o que a aborrecia, caso dissesse que não, ele a dava todo o espaço necessário e comprava algum chocolate que sabia que ela gostava, deixando claro que estaria ali caso Pietra quisesse desabafar depois. Quando acontecia, Pi aproveitava para ouvir todos os conselhos possíveis e depois ver o que faria para resolver a situação.

— É que o Júnior não vem. — Falou chorosa e deixou a faca de lado, indo se sentar em uma das cadeiras ao redor da mesa e vendo o padrasto fazer o mesmo que ela, a olhando atentamente. — Tínhamos combinado de ele vir passar o Natal aqui em casa e o Ano Novo íamos passar com a família dele, só que ele cancelou tudo. Disse que não vai conseguir vir.

— Nossa, Pi. Mas por quê? — Perguntou confuso.

— O problema é esse, ele nem me explicou nada. — Disse cabisbaixa. — Eu entendo que às vezes a agenda é muito apertada e não dá para ele ficar viajando, só que dessa vez dava e ele simplesmente falou que não conseguiria e nem me contou o motivo.

— Pergunta de novo. — Sugeriu. — Diz que você quer muito que ele venha, conta que está com saudades...

— Eu já falei tudo isso, Samuel. — Suspirou e começou a brincar com as próprias mãos. — Logo vai completar quatro meses que ele viajou, que nós não nos vemos, e eu já nem sei mais se isso de relacionamento a distância é mesmo uma boa ideia. — Disse baixinho e Samuel comprimiu os lábios, a olhando. — Eu amo o Júnior, mas... — Não completou e o homem balançou a cabeça, a entendendo.

— Eu sei que você sente saudades e que é difícil ficar longe. Todo mundo vê a sua carinha de desanimada quando termina de falar com ele por ligação. — Falou e Pietra sentiu os olhos ficarem marejados. — Mas você não pode deixar a distância estragar esse namoro de vocês.

— Prometemos que não deixaríamos, só que... poxa, Samuel, você tem noção do quão ruim é sentir vontade de abraçar, beijar, ficar juntinho da pessoa que ama, e não poder fazer isso por conta da distância? Não é porque não queremos, é porque não dá. — Desabafou. — Ele é cheio de jogos, viaja o tempo todo para partidas, e eu estou atolada com o restaurante, cuidando de tudo para poder inaugurar no começo do ano que vem. — Disse e deixou algumas lágrimas rolarem. — Ele não vai vir nem para a inauguração. — Chorou. — Foi ele quem me deu aquele lugar, que me apoiou a começar, e nem vai estar aqui para comemorar comigo.

Destinos Traçados ━━ Neymar Jr.Onde histórias criam vida. Descubra agora