Sessenta e Três

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São Paulo, Brasil
24/01/2017

Todas as noites as três mulheres da família Santana se reuniam na cozinha para o jantar. Elas sentavam-se à mesa quase sempre no mesmo horário e, juntas, comiam e conversavam descontraídamente sobre o que aconteceu no dia de cada uma delas ou qualquer outro assunto aleatório, o que tornava o jantar cheio de conversas e risadas, por isso Eva estava estranhando tanto o silêncio presente no cômodo naquela noite.

— Nossa, hoje vocês não estão para conversa, não é? — Disse de repente, cortando um pedaço de carne e levando até a boca.

Pietra e Vanessa ficaram quietas.

A mais nova brincava com a comida que tinha no prato, sem conseguir levar uma garfada se quer até a boca, enquanto sentia o corpo implorar pela cama e umas boas horas de sono. Sentia-se mais cansada do que o normal, mesmo tirando os dias de folga que o namorado e a família tanto pediam para ela, e as recentes tonturas e enjoos só fizeram o assunto da gravidez ecoar ainda mais em sua mente. Talvez o sonho da avó estivesse certo e a "buchuda" da vez era ela. Talvez não tivesse se cuidado tão bem quanto imaginava. Talvez uma das camisinhas usadas tivesse estourado, ou talvez o outro método contraceptivo que usava tivesse falhado.

Talvez. Talvez. Talvez. Bateu o garfo contra o prato, o soltando de uma vez e passando as mãos no rosto com certa força.

— Tudo bem, Pi? — Vanessa indagou confusa, olhando preocupada para a filha, assim como Eva também fazia.

— Sim. Só não estou com fome. — Disse e limpou a garganta, pegando o copo de suco e dando longos goles, querendo mandar os pensamentos e a angústia guela abaixo, como se fosse algo simples.

O silêncio voltou a tomar a cozinha e Eva respirou fundo, parando de comer e encarando as outras duas mulheres.

— Eu sei que estão me escondendo alguma coisa e vou perguntar só uma vez... — Começou, chamando a atenção delas. — Quem está grávida?!

Vanessa sentiu o pedaço de carne parar em sua garganta e Pietra se engasgou com a própria saliva.

Eva apenas revirou os olhos.

— Mãe! — Repreendeu Vanessa.

— Eu sonhei, Vanessa! Você sabe que meus sonhos sobre isso nunca estão errados! — Afirmou.

— Pelo amor de Deus, essa sua coisa de sonho é apenas uma coincidência. — Revirou os olhos e tomou um pouco de suco, da mesma maneira e com o mesmo propósito de Pietra há poucos minutos. — Já aproveito também para dizer que não estou grávida. Minha única filha já tem quase 25 anos, não passei tanto tempo assim me cuidando para cometer um deslize e engravidar nessa altura do campeonato.

Eva balançou a cabeça devagar, concordando, mesmo ainda desconfiada. Então olhou para Pietra.

— Ah, eu mereço. — Resmungou Pi, começando a recolher as coisas dela sobre a mesa.

— Chocolate, se você estiver...

— Não estou. — Interrompeu. — Mas que coisa, hein, vó? Que insistência nesse assunto!

— Eu...

—... sonhei! — As outras duas mulheres completaram.

Eva bufou.

— Está bem. — Levantou as mãos em rendição. — Não ligo se vocês não acreditam ou se acham que estou ficando maluca, mas vale lembrar que eu conheço as duas muito bem e eu sei que tem algo de errado. Quando quiserem me contar, estarei aqui. — Disse e voltou a jantar, enquanto Vanessa e Pietra trocavam olhares.

Destinos Traçados ━━ Neymar Jr.Onde histórias criam vida. Descubra agora