Vinte e Quatro

11.9K 1.2K 497
                                    

— C-como assim?

A leve gaguejada de Neymar ao falar não passou nem um pouco despercebida, porém Pietra optou por não comentar sobre ela e se ajeitou em cima da cama novamente, mantendo os olhos presos aos dele.

— O que é isso? — Insistiu, apontando para o corpo dos dois, mas o jogador continuou em silêncio. — O que nós dois somos?

— Amigos. — Respondeu rápido e piscou várias vezes, enquanto a preta levantava as sobrancelhas, consequentemente arregalando um pouco os olhos, o que pareceu deixar Neymar ainda mais em pânico. — Melhores amigos. — Completou para se corrigir e limpou a garganta, se afastando mais de Pietra.

Ela continuou o encarando e se sentou, cruzando as pernas.

— Sei que somos melhores amigos, não tenho dúvida alguma em relação à nossa amizade. — Disse calmamente. — O que estou querendo saber é o que, exatamente, é esse lance.

— E por que você quer saber? — Perguntou de volta.

Pietra respirou fundo e desviou o olhar do de Júnior, mordendo o lábio com certa força e lembrando da última vez em que pensou em conversar com o amigo para que eles tivessem algo sério.

— Na última vez, quando estávamos ficando desse jeito, você conheceu a Amanda. — O lembrou. — Antes que você conheça qualquer outra garota, eu gostaria de saber sobre nós.

Olhou para ele novamente, que abriu e fechou a boca algumas vezes, não sabendo o que falar.

— Somos amigos. — A voz de Neymar saiu baixa e um pouco hesitante.

— Júnior, você não sente mais nada por mim? — Indagou Pi, se inclinando para frente em busca de uma resposta. — Não sente nada além de amizade?

Se assustou quando Neymar levantou de repente da cama, se colocando de pé e calçando rapidamente os chinelos.

— Você quer pipoca? Vou fazer pipoca. — Falou rápido.

O coração de Pietra murchou em seu peito quando ela percebeu a tentativa de Neymar de se esquivar da pergunta. Ela comprimiu os lábios e continuou o olhando, se sentindo uma idiota por ter se deixado levar outra vez pelos seus sentimentos e agora estar naquela situação.

— Eu te fiz uma pergunta, Neymar. — Sussurrou.

— E eu te fiz outra.

Pi suspirou.

— Não, eu não quero pipoca. — Respondeu a pergunta dele. — E tudo bem se você não sentir nada além de amizade por mim, não vai me magoar, eu só gostaria de saber e de ouvir de você o que sente. — Explicou.

— Eu não sinto nada além do amor de amigo. — Afirmou ele.

— Ok. — Pietra sussurrou e deu um fraco sorriso na direção do – ela teria que se contentar apenas com aquilo – seu melhor amigo.

— Vou fazer pipoca. — Repetiu Júnior, virando as costas e saindo rápido do cômodo.

Pietra pôde soltar o suspiro desapontado que a apertava o peito e olhou as próprias mãos, mordendo o lábio com força em uma tentativa de não deixar que as lágrimas rolassem pelo seu rosto, porque mesmo dizendo que não ficaria magoada, sentia uma dor no peito por escutar o “não”, e se perguntava o que faria com seus sentimentos não correspondidos.

[...]

Os milhos de pipoca estouravam dentro da panela, enquanto Neymar Júnior encarava um ponto qualquer do chão da cozinha e batucava os dedos nos próprios braços, que estavam cruzados na altura do peito, se perguntando de onde Pietra havia tirado aquele assunto.

Nunca ficou tão nervoso por medo de dizer algo muito ruim como ficou em minutos atrás.

Amava a melhor amiga e não tinha dúvidas daquele amor, porém, ainda não tinha certeza se sentia algo a mais.

Estar com Pietra era sempre a melhor parte do dia para ele. A garota era capaz de o arrancar sorrisos nos dias em que ele estava mais triste e fazia tudo ficar bem com a simples presença e beijos carinhosos que insistia em dar, afirmando que beijinhos de pessoas que o amavam sempre curaria tudo. Também adorava aqueles momentos que estavam tendo juntos, na maioria das vezes agindo como um casal de namorados, mas não podia dizer que tinha sentimentos maiores do que eram.

Jamais mentiria para Pi, ainda mais sobre uma coisa tão importante, mas ficaria infeliz consigo mesmo se soubesse que a verdade dita havia machucado a amiga profundamente.

Respirou fundo e esfregou as mãos no rosto, querendo parar de pensar, e então sentiu um fedor de queimado tomar o cômodo. Correu para o fogão e desligou o fogo da pipoca, retirando a tampa da panela e fazendo careta.

— Ótimo. Até isso dando errado. — Resmungou.

Separou a pipoca queimada e jogou fora, colocando as boas em uma vasilha e voltando para o quarto, encontrando Pietra novamente.

— Queimei a pipoca. — Contou, chamando a atenção dela. — Mas ainda está boa, se você quiser... — Disse e se sentou, estendendo o alimento para ela, que negou levemente com a cabeça e se encolheu no canto, voltando a prestar atenção no filme.

*

Com os olhos quase totalmente fechados por conta do sono, Pietra recebia o carinho lento das pontas dos dedos de Júnior passeando pelo seu rosto, sentindo o olhar do jogador em cima dela.

— Tenho que ir embora. — Murmurou com preguiça.

— Você vai dormir comigo. — Afirmou Neymar, parando com o carinho para levar a mão até a cintura de Pietra e a puxar para mais perto, juntando seus corpos e voltando a atenção para o rosto da preta. — Só não vale me chutar durante a madrugada, tá? — Disse divertido e sorriu com o riso baixo solto por ela.

— Você sabe que eu não percebo o quanto me mexo. — Sussurrou.

— Eu sei. — Confirmou. — Já estou acostumado. Gosto de dormir com você mesmo assim. — Contou e deu um beijo na ponta do nariz dela, que suspirou.

O silêncio tomou o quarto mais uma vez e Neymar ajeitou o cobertor sobre o corpo de ambos, observando Pietra começar a adormecer.

— Preta... — Chamou.

— Hum?

— Sobre aquele pergunta que você me fez umas horinhas atrás... — Murmurou e fez uma pausa, tomando um pouco de coragem antes de continuar: — Você sente alguma coisa por mim? Mais que amizade? — Indagou.

Pietra ficou quieta e Júnior quase perguntou se ela tinha o escutado bem, mas então a voz dela soou:

— Não.

E Neymar não soube dizer se era aquela resposta que ele queria ter recebido.

...

Destinos Traçados ━━ Neymar Jr.Onde histórias criam vida. Descubra agora